31/10/2020 • • por Andre Massaro

Como cobrar uma dívida de um amigo ou parente


Há um velho ditado que diz que quando se empresta dinheiro para um amigo, você perde o dinheiro e o amigo. No caso de parentes, a coisa é um pouco mais complicada, pois não temos o azar (ou privilégio, talvez…) de “perder parentes”. E, neste artigo, vamos falar um pouco sobre como cobrar uma dívida nesse tipo de situação, envolvendo amigos e parentes que, tipicamente, são dívidas informais, que não têm garantias e não têm suas condições determinadas por um contrato formalmente estabelecido.

A verdade sobre empréstimos para amigos e parentes

Aqui no meu site, tem um artigo chamado “Cuidados ao fazer empréstimos para amigos e parentes”. Esse tipo de empréstimo exige cuidados especiais exatamente por esse componente de “informalidade” e do envolvimento pessoal (que, frequentemente, envolve laços afetivos).

No artigo, eu argumento que esse tipo de empréstimo não deve ser encarado como empréstimo, mas sim como ”doação”.

E isso porque, numa situação de inadimplência, poucos terão os meios, as condições ou a intenção de fazer uma cobrança “agressiva” (e aqui a “agressividade” pode ser encarada em seus múltiplos significados).

Por exemplo, muitos empréstimos entre amigos e parentes são feitos na base da informalidade, sem um contrato legalmente vinculante e sem garantias. Mas, ainda que seu empréstimo esteja devidamente contratado, você teria disposição para chegar no ponto de processar seu próprio amigo ou parente?

Eu sei que alguns responderão “sim” a essa pergunta, sem qualquer hesitação. Mas muitos ficam desconfortáveis só de considerar a ideia.
Por isso, um bom começo é se perguntar “o quão longe você está disposto a ir para cobrar uma dívida”. E tendo consciência de que, dependendo de como essa cobrança seja conduzida, você pode sacrificar aquele relacionamento (e, ainda assim, ficar sem receber o dinheiro).

O problema das dívidas informais

O grande problema de fazer um empréstimo informal (sem contrato e sem garantias) é que, tecnicamente falando, qualquer coisa que não esteja devidamente documentada se torna “incobrável”.

Então, um empréstimo informal só pode ser cobrado por vias, igualmente, informais.

Essas vias informais podem ir desde uma conversa amigável até ameaças (sim, eu sei que é feio e imoral falar em ameaças, mas é uma hipótese que tem que ser considerada – e muitos consideram, de fato).

Então, a partir deste momento, vamos considerar que existem três caminhos possíveis para cobrar uma dívida informal:

O primeiro deles é, simplesmente, não cobrar. O segundo é cobrar amigavelmente. O terceiro é a cobrança não amigável ou agressiva (e aqui é “vale tudo”).

Considerando a continuidade do relacionamento

Se você já cobrou a dívida e não foi atendido, de duas uma: Ou a pessoa REALMENTE não tem condições de pagar (e, neste caso, é futilidade insistir na cobrança) ou ela até teria condições de pagar (nem que isso envolvesse algum tipo de sacrifício pessoal), mas ela prefere priorizar outras coisas.

Neste caso, você já sabe que aquele relacionamento está seriamente comprometido (possivelmente de forma irreversível) e que, muito provavelmente, aquela relação nunca mais será a mesma, pois demonstra uma falta de confiança e de comprometimento.

Se seu amigo ou parente tem um compromisso com você, tem as condições de arcar com o compromisso (ainda que às custas de desconforto pessoal) e não o faz, ele está “tocando o foda-se” para você.

Neste caso, é sua escolha se você vai aceitar os fatos ou se vai, de alguma forma, racionalizar ou criar alguma justificativa para não enxergar a realidade como ela é.

Mas vamos, então, ver como cobrar uma dívida informal:

1ª opção: Não cobrar (e esperar)

Esta é uma opção válida. Em alguns casos é uma opção ingênua, mas, como regra geral, é válida e, às vezes, simplesmente “dar mais tempo” é a melhor coisa a fazer.

Esta é a melhor opção para quem não está precisando do dinheiro e não quer correr o risco de prejudicar aquele relacionamento. Simplesmente “deixe o tempo correr”, na presunção de que aquela dívida não foi esquecida e que, tão logo seu amigo ou parente tenha condições, ela será paga.

2ª opção: Cobrar uma dívida amigavelmente

A cobrança amigável de uma dívida é aquela que deve ser usada em três cenários:

  1. Quando você quer preservar o relacionamento;
  2. Quando você já não faz questão de preservar o relacionamento, mas quer evitar ressentimento;
  3. Quando você tem um código de integridade e valores pessoais que te impedem de adotar uma postura agressiva.

A chave, neste caso, é sempre manter a educação, a cortesia e o respeito. Muita atenção ao tom de voz e à linguagem não verbal, para não soar agressivo ou dramático.

Duas formas interessantes de cobrar amigavelmente são:

“Relembrar” a pessoa das condições da dívida

Aqui, a ideia é ter uma conversa amigável e educada sobre a dívida, na presunção de que vocês têm um “assunto pendente” e que ele pode ter sido esquecido.

A expectativa, nesta situação, é que seu amigo ou parente “se toque” e tome uma atitude.

Idealmente, o retorno dessa conversa deve ser um pedido de desculpas e a definição de um cronograma de pagamento (que deve ser cumprido).

Tentar sensibilizar a pessoa

Aqui, a ideia é tentar fazer um apelo emocional, dizendo que você precisa daqueles recursos e que vai ficar numa situação difícil se não receber o empréstimo de volta.

Você pode, inclusive, mentir… Inventar alguma doença em família ou outro problema qualquer, para “dramatizar” mais a situação.

Eu, particularmente, não gosto dessa abordagem. Primeiro porque ela envolve, muitas vezes, mentir ou exagerar situações. E, segundo, porque eu não fico confortável com a ideia de “dar satisfações” para quem está devendo.

Quem deve tem que pagar – ponto final. Você não precisa (ou não deveria) ficar se justificando e dando explicações de sua vida para convencer a pessoa a te pagar.

Mas… às vezes temos que ser pragmáticos. E o objetivo é recuperar o dinheiro.

3ª opção: Cobrar uma dívida agressivamente

Quando se opta por esse tipo de abordagem, já se sabe que não há chance de preservar o relacionamento (e também não se dá mais importância se vai ficar algum tipo de mágoa ou ressentimento). Aqui, o foco está, apenas, em receber o dinheiro – o relacionamento “já era”…

Se a dívida estiver formalmente contratada, uma cobrança agressiva será, essencialmente, sinônimo de ir “às vias de fato” no sentido jurídico. Você vai processar seu amigo ou parente – o que é uma medida extrema.

Porém, se não há contrato ou documentação que formalize a dívida, a única forma de cobrar agressivamente é sendo agressivo no sentido literal.
Isso envolve ameaças, intimidação e, eventualmente, violência (sim, você leu isso mesmo).

Aqui, um disclaimer importante: Eu, particularmente, NÃO APOIO esse tipo de abordagem. Aliás, eu opto por, simplesmente, não emprestar dinheiro para amigos e parentes em nenhuma circunstância – e isso me dá a liberdade de nem precisar pensar nesse tipo de situação.

Porém, é preciso reconhecer que esse tipo de atitude existe e algumas pessoas podem optar por esse caminho.

E, quando se vai por esse caminho, a abordagem mais “suave” é fazer acusações e ameaças envolvendo o próprio relacionamento. Ou seja, você (em tom firme e não amigável – usando palavras duras) diz que, se a dívida não for solucionada, vai romper aquele relacionamento e vai “ficar de mal”.
Isso, às vezes, resolve…

Daí para cima, o céu é o limite. Uma cobrança agressiva pode envolver ameaças diversas (inclusive de violência), intimidação, chantagem e difamação. E, dependendo de sua índole e de seus recursos, essa cobrança agressiva pode ser feita por você mesmo ou por “profissionais”.

Caso você opte por um caminho de cobrança agressiva, tem duas coisas que você precisa ter em mente (e precisa estar preparado): A primeira é que você pode continuar sem o dinheiro. A segunda é que as coisas podem, seriamente, se voltar contra você.

Algumas coisas que podem acontecer se você cobrar agressivamente:

Você pode gerar mágoa e ressentimento

Vamos imaginar que você cobre agressivamente, mas apenas usando palavras duras (sem ameaças ou, no máximo, ameaçando a continuidade do relacionamento).

Aquela pessoa certamente vai ficar bastante magoada e ressentida, achando que você foi uma pessoa “injusta” na sua cobrança e que aquilo “não era necessário”.

E outras pessoas podem “tomar as dores” daquele devedor (inclusive gente com quem você se importa), e você acaba virando o “vilão da história”.

Você pode ir para a cadeia ou sofrer consequências legais

Se você enveredar por uma via, de fato, “criminosa” (fazendo uso de ameaças, intimidação, chantagem ou difamação), a pessoa pode tomar medidas legais contra você.

Às vezes o uso de violência e intimidação funciona. Mas, se você não tem familiaridade com esses métodos (leia-se: se você não é bandido), eu não recomendaria nem tentar…

Você pode “tomar de volta”

O grande problema de usar a abordagem agressiva é que, às vezes, o outro lado também pode responder de forma tão ou mais agressiva que a sua.

Nessa hora, você pode descobrir que o seu devedor tem um “trabuco maior que o seu”. Por isso, caso opte por fazer uma cobrança agressiva, é bom não blefar, pois pode ser que você tenha que colocar as cartas na mesa…

Se você quer ir à guerra, sempre considere a possibilidade de retaliação.

Conclusão

Cobrar uma dívida de um amigo ou parente é daquelas situações extremamente desagradáveis e constrangedoras.

O ideal, como mencionado em meu outro artigo sobre empréstimos para amigos e parentes, é não deixar que essas situações sequer comecem.
Se você tem um amigo ou parente com quem você REALMENTE se importa, DÊ o dinheiro (se tiver sobrando, naturalmente) e não espere de volta. Se voltar, sorte sua…

Agora, se você NÃO SE IMPORTA com a pessoa (e não tenha vergonha de admitir que não se importa), é melhor sacrificar aquele relacionamento e preservar o dinheiro. Até porque, em situações assim, dificilmente o relacionamento vai sobreviver sem sequelas – mesmo que tudo acabe bem.

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