28/05/2020 • • por Andre Massaro

Cuidados ao fazer empréstimos para amigos e parentes


Pessoas que não têm muita intimidade com o sistema financeiro não costumam ter uma visão muito clara de “para que ele serve”. O papel do sistema financeiro não é (ao contrário do que alguns acreditam) apenas servir como um intermediário entre gente que tem dinheiro e gente que precisa de dinheiro. O sistema financeiro existe, principalmente, para gerenciar os RISCOS das operações. Riscos que são muito maiores quando se faz transações FORA do sistema financeiro. Por isso, é preciso atenção e cuidados ao fazer empréstimos para amigos e parentes (que são transações que, tipicamente, acontecem fora do sistema financeiro).

Por que amigos e parentes pedem dinheiro emprestado

Os principais motivos que levam alguém a recorrer a empréstimos de amigos e parentes são:

  • Custos (supostamente) mais baixos
  • Desejo de não comprometer limites de crédito junto a instituições financeiras
  • Restrições (ou ausência total) de créditos junto às instituições financeiras

A questão dos custos é bastante óbvia. Bancos cobram taxas de juros “comerciais” que, no Brasil, são historicamente alta. Já empréstimos informais (daqui em diante, poderei usar “empréstimos informais” para designar os empréstimos entre amigos e parentes) são, frequentemente, feitos na base da “camaradagem” e com taxa de juros zero. A pessoa devolve (quando devolve) exatamente aquilo que pegou.

As restrições de crédito são um problema um pouco mais complexo. Quem não tem crédito junto às instituições financeiras e precisa de dinheiro fica com poucas opções. Se a pessoa não tiver uma rede de proteção composta por amigos e parentes, acabará tendo que recorrer a fontes de recursos meio “obscuras” ou mesmo criminosas.

O (grande) problema dos empréstimos para amigos e parentes

Um empréstimo informal pode ter um custo financeiro (juros) baixo, mas o custo “moral” costuma ser bastante alto.

Infelizmente, às vezes, as relações familiares e de amizade tendem a se corromper quando tem dinheiro envolvido. Quando uma pessoa está devendo para a outra, as coisas podem ficar “esquisitas”: As pessoas não se falam direito e se evitam.

É comum a pessoa que está devendo dinheiro se afastar do credor, evitando contato e dando “perdidos” quando é procurada (sempre no receio de que está sendo procurado para ser cobrado). O credor, por outro lado, pode ficar ressentido com esse comportamento evasivo do devedor e tudo ‘azeda” de vez.

O grande problema dos empréstimos entre amigos e parentes é que eles têm a capacidade de corromper o relacionamento. Às vezes, de forma irreversível.

Nas relações sociais, existem certas fronteiras invisíveis que é melhor não serem ultrapassadas. Um casal de amigos entediado pode, se quiser, bem… transar! Não tem nada demais, cada um faz o que quer e ninguém pode julgar ninguém. Só que, desde que o mundo é mundo, em 90% das vezes que um casal de amigos dá um passo além, a amizade acaba “indo pro saco”.

A mesma coisa são quando dois grandes amigos resolvem virar sócios. Poucas vezes, na vida, eu vi uma amizade sobreviver a uma sociedade. Às vezes dá certo… Mas eu mesmo nunca vi um caso.

Como diz um velho ditado, “em time que está ganhando não se mexe”.

Considere, simplesmente, dizer NÃO

Sei que isso pode soar cruel (especialmente se a situação de quem pede é crítica). Mas a recomendação básica é evitar.

Muita gente cede, com receio de que dizer “não” vai comprometer o relacionamento. Só que, em boa parte das vezes, fazer o empréstimo é EXATAMENTE o que vai acabar comprometendo o relacionamento.

E, já que estamos falando de ditados e provérbios populares, “quem empresta dinheiro para um amigo, fica sem o dinheiro e sem o amigo”.

Se for REALMENTE NECESSÁRIO fazer o empréstimo, minha recomendação é que não se empreste o dinheiro, e sim que se DÊ.

Isso mesmo, dê o dinheiro e esqueça. Não crie nenhuma expectativa de receber aquele dinheiro de volta. Considere que foi um presente que você deu para o amigo ou parente.

E se, por acaso, aquele dinheiro te for devolvido, considere que aquilo não é a devolução do empréstimo, e sim um “outro” dinheiro que você, desta vez, está recebendo de presente.

Empreste APENAS dinheiro

Aconteça o que acontecer, não empreste seu nome e não empreste seu crédito. Empreste DINHEIRO, e apenas aquela quantia que estiver ao seu alcance e que não vai te fazer falta.

Mesmo que você faça um empréstimo formalizado, com contrato, garantias e datas de retorno, considere (para o bem da relação) que o dinheiro foi “dado” e não vai retornar. Por isso, só empreste aquilo que puder perder.

Emprestar dinheiro (e não seu nome ou seu crédito) te dá a garantia de que o seu risco será limitado ao valor emprestado. Se você empresta mil reais, sua perda máxima está limitada a mil reais.

Agora, se você dá um aval, uma fiança, empresta seu cartão de crédito ou dá um cheque em branco, só Deus sabe o que pode acontecer. Seu risco fica, potencialmente, ilimitado.

Os riscos de fazer empréstimos para amigos e parentes

Os empréstimos informais têm três grandes riscos em potencial.

O primeiro risco é o risco de crédito que é, simplesmente, a perda do dinheiro (o velho e bom “calote”…). O dinheiro não retorna e… já era.

O segundo risco é ter restrições de crédito, ou mesmo problemas legais, caso você empreste não dinheiro, mas seu nome ou seu crédito.

E o terceiro risco é, previsivelmente, perder aquele relacionamento. Sua amizade vai para o espaço ou, na noite de Natal, na casa da vovó, você e o seu primo não vão se olhar na cara e vai ficar aquele climão horrível para a família toda.

Por isso, insisto: Se puder, evite fazer esse tipo de empréstimo. Diga NÃO e, se for impossível negar, dê dinheiro ao invés de emprestar.

Já que você vai mesmo emprestar… Algumas dicas

Formalização, contrato e garantias

Vamos assumir que você não quer seguir a dica de “dar” o dinheiro e optou por um empréstimo convencional.

Bem, se optar por esse caminho, é recomendável que você formalize tudo (com contrato, datas e penalidades) e peça garantias que você possa executar de forma rápida e direta.

Explique, para seu amigo ou parente, que você não quer brigar por causa de dinheiro caso algo saia errado. Então, resolva a questão das garantias ANTES. Se seu devedor vai dar bens ou títulos de crédito como garantia, já deixe tudo “redondo” no contrato.

Limite seu risco

Apenas reforçando aquilo que já foi dito. Empreste apenas dinheiro. JAMAIS empreste seu nome ou seu crédito. Tenha uma perda potencial máxima claramente estabelecida.

E só empreste (ou dê) aquilo que puder perder – nem um centavo a mais.

Avalie padrões e comportamentos

Como é o comportamento e o histórico de quem está te pedindo dinheiro?

É alguém que já pediu antes (para você ou para outras pessoas)? Devolveu o dinheiro nas condições combinadas?

Quais foram as finalidades dos empréstimos que essa pessoa já tomou? Eram coisas razoáveis e justificáveis? Havia uma necessidade real para aqueles empréstimos?

O que você quer, aqui, é avaliar qual o grau de responsabilidade da pessoa com o dinheiro dos outros (que, caso você resolva emprestar, será o SEU dinheiro).

Não devemos julgar as necessidades das pessoas, mas, vamos combinar: Emprestar dinheiro para um amigo que diz estar “quebrado” e, na semana seguinte, ele está postando fotos dele curtindo o mar do Caribe é de matar…

Perder dinheiro é ruim, mas, pior que isso, é perder dinheiro e ainda se sentir um idiota.

Não negligencie as questões fiscais

Dependendo do tamanho do empréstimo, é importante que ele seja declarado corretamente para a Receita Federal. E, lembrando, precisa ser feito dos dois lados para não dar nenhuma divergência e nem dores de cabeça depois.

Mais importante: Fale com seu cônjuge

Se você tem um cônjuge, não faça nada escondido.

É comum um cônjuge querer esconder esse tipo de transação do outro, incorrendo na famosa “infidelidade financeira”. Especialmente quando seu cônjuge não “vai muito com a cara” do seu parente que pediu o dinheiro.

Mas resista, com todas as forças, à tentação de fazer as coisas às escondidas. Quando você empresta dinheiro para um amigo ou parente, você coloca essa relação de amizade ou o convívio harmônico em família em risco. Quando você faz isso escondido do seu cônjuge, você coloca TAMBÉM seu casamento em risco.

Conclusão

A ideia de que um empréstimo informal é mais barato do que um empréstimo formal (contratado em uma instituição financeira) acaba se revelando, na maioria das vezes, falsa.

Empréstimos informais têm um custo muito maior, que é o custo MORAL. O custo de perder uma excelente amizade ou de acabar com qualquer traço de harmonia na sua família. No caso da família podendo prejudicar, ainda, outros membros que nada têm a ver com aquela situação.

Por isso, sempre que possível, evite.

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