27/05/2020 • , • por Andre Massaro

O que é risco de crédito


Dentre as várias formas de classificar riscos, uma muito comum é através de uma matriz onde se classifica por alto impacto, baixo impacto, alta probabilidade e baixa probabilidade. Não por acaso, essa matriz é conhecida, no mundo dos negócios, como “matriz de risco” e, no universo dos investimentos em renda fixa, o risco de crédito é aquele que, disparado, representa o maior impacto

Esquema representativo de uma matriz de riscos

Definindo o risco de crédito

O risco de crédito afeta, como o nome sugere, operações de crédito. Operações de crédito são empréstimos e financiamentos e, nunca é demais lembrar que os ativos de renda fixa são ativos financeiros que representam, justamente, empréstimos e financiamentos.

Desta forma, o risco de crédito pode ser considerado um risco “exclusivo” da renda fixa. O risco de crédito só afeta ativos de renda variável de forma indireta (como veremos mais adiante).

Sem maiores delongas, o risco de crédito é o risco de você tomar um calote… É o risco de que o seu credor não te pague ou, num cenário menos negativo, te pague em condições diferentes daquilo que foi contratado (lembrando que toda operação de crédito tem um contrato, nem que seja um contrato “de boca”).

O risco de crédito também é conhecido como risco de default, que significa “falha”.

Por que é o risco mais impactante da renda fixa?

O risco de crédito é o de maior impacto poque ele é, salvo raras exceções, um risco definitivo e irreversível. Se o seu credor te der calote, “já era”. As exceções serão vistas mais adiante.

É diferente de riscos como o risco de mercado, o risco cambial e o risco de liquidez, que podem ser temporários e reversíveis. Um título prefixado que perde valor (risco de mercado) pode recuperar o valor no futuro. Já o título que sofre calote, adiós

Na maioria das vezes em que ocorre um evento de crédito, a perda é total. Ou seja, o caloteiro não paga nada e “desaparece”.

Nas situações normais da vida, os calotes são muito comuns e corriqueiros. Numa matriz de risco poderíamos (especialmente se o empréstimo for de grande valor) classificar o risco de crédito como “alto impacto e alta probabilidade” (pois acontece “a toda hora” e resulta em perdas totais e irreversíveis).

No mercado financeiro, felizmente os eventos de default não são tão comuns. Por isso, o risco de crédito, nesse contexto, passa a ser um risco de alto impacto e baixa frequência. Afinal, não é toda hora que quebra um banco ou uma empresa que emite debêntures.

Como se gerencia o risco de crédito

O risco de crédito é, tecnicamente falando, um risco específico (não-sistemático), então, ele é gerenciável através de diversificação.

Se você for investir em títulos de renda fixa privados (como debêntures), a melhor forma de gerenciar é diversificando a carteira, de tal forma que sua exposição máxima (de dinheiro) a um único emissor de títulos esteja dentro de um limite de perdas aceitável. Se, por exemplo, 3% é o máximo de perda que você aceita em seu patrimônio, seu saldo investido em uma única debênture não deverá ser superior a isso.

Isso é, exatamente, o que os bancos fazem. Bancos procuram emprestar dinheiro “picadinho”, de forma a nunca terem uma grande exposição a um único devedor. Se um ou poucos devedores dão calote, o impacto no resultado geral do banco acaba sendo pequeno.

Outra forma (menos efetiva – pelo menos para o investidor) de gerenciar o risco de crédito é através da análise de crédito. Bancos e empresas fazem isso com seus clientes. Investidores podem fazer isso com empresas que emitem debêntures e outros títulos privados, e também com bancos e governos.

Assim como um investidor analisa os fundamentos de uma empresa para investir em uma ação, ele pode fazer o mesmo tipo de análise para investir em debêntures.

Uma outra possibilidade é fazer hedge com alguns derivativos que “trocam” riscos de crédito de alguns ativos (são swaps de crédito). Porém, esse tipo de derivativo, com essas características, não é muito comum no Brasil

Situações em que o risco de crédito é extremamente baixo

Existem duas situações em que o risco de crédito é considerado extremamente baixo ou, virtualmente, inexistente.

Títulos bancários

O primeiro caso é dos títulos e depósitos bancários que sejam cobertos por seguro de depósito, até o limite dessa cobertura.

Seguro de depósitos bancários é algo que existe em, praticamente, todas as economias desenvolvidas do mundo, e serve para diminuir o risco sistêmico (que é o risco de contaminação do mercado financeiro).

No Brasil, o seguro de depósitos é provido pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que existe e funciona desde 1995.

Se você investe em títulos bancários que sejam cobertos por seguro de depósito (e cujo valor esteja dentro do limite de cobertura), não há grandes motivos para se preocupar.

Títulos públicos

Títulos públicos do governo central, que são emitidos na própria moeda do país e sendo essa moeda sem lastro (todos esses detalhes são importantes) são considerados, para fins práticos, “ativos livres de risco”. Inclusive, a própria literatura acadêmica de finanças se refere dessa forma.

No caso do Brasil, o Governo Federal é o governo central, o Real (nossa moeda) é emitido aqui mesmo e ele não tem lastro. Com base nisso, podemos presumir que os títulos do governo brasileiro em reais (que representam a dívida INTERNA) são considerados ativos livres de risco.

Neste caso, a preocupação com risco de crédito, virtualmente, deixa de existir.

Risco de crédito na renda variável

Como foi dito anteriormente, o risco de crédito é uma “exclusividade” da renda fixa. Empresas não financeiras podem sofrer de risco de crédito (quando fazem vendas a prazo, por exemplo). Só que esse risco não “extravasa” para o investidor.

O investidor só sofrerá com o risco de crédito da empresa de forma indireta. Por exemplo, uma empresa com grande inadimplência pode ter o valor de suas ações afetado. Existe um “risco de crédito” embutido aí, mas ele se manifesta como risco de mercado (no valor das ações).

Do ponto de vista do investidor, o mais próximo que existe do risco de mercado, para uma empresa, é aquilo que alguns chamam, simplesmente, de “risco da empresa”.

Risco da empresa é o risco de cessação das atividades (falência, basicamente). A concretização desse risco é, como o risco de crédito, um evento final e irreversível. Nos dois casos, o investidor perde tudo e “já era”. Mas as similaridades acabam por aqui.

Conclusão

O risco de crédito é real e pode (na verdade deve) ser gerenciado via diversificação e por outros meios.

Porém, o investidor individual típico que, nos seus investimentos em renda fixa, concentra seu patrimônio em títulos públicos e títulos bancários, acaba tendo pouco contato com o risco de crédito.

Porém, com a sofisticação e aumento de complexidade do mercado financeiro (inclusive para os pequenos investidores), é preciso ficar de olho nesse risco, especialmente quando se sai da “redoma de proteção” proporcionada pelos títulos bancários (com seguro de depósito) e pelos títulos públicos.

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