10/01/2020 • , • por Andre Massaro

Riscos sistemáticos e específicos – Entenda


Os riscos financeiros podem ser divididos em dois grandes grupos. O primeiro grupo é chamado de “riscos sistemáticos” e o segundo de “riscos específicos” (também conhecido como “riscos idiossincráticos” ou “riscos não-sistemáticos”).

Praticamente todos os riscos financeiros já identificados se encaixam em uma dessas categorias (ou nas duas simultaneamente).

E é fundamental ter um entendimento do que são esses dois grupos de riscos, pois as formas de gerenciamento são completamente diferentes. E sempre lembrando, nós não conseguimos “evitar” riscos, e sim gerenciar. A única forma de evitar riscos nos investimentos é nunca investindo dinheiro…

O que procuramos fazer, como investidores, é minimizar a probabilidade de um risco virar “fato” e, caso isso ocorra, minimizar os efeitos desse evento. Isso é o que se chama de “mitigação” de riscos.

O gerenciamento de riscos (mais amplo) envolve a identificação e “mapeamento” dos riscos e as medidas de mitigação, tanto preventivas quanto “pós-fato”.

Para começar, um pouco sobre diversificação…

A diversificação dos investimentos é, provavelmente, a ferramenta (ou “prática”) de gerenciamento de riscos mais eficaz e mais fácil de ser implementada.

Diversificação é um tema básico de investimentos. E nenhum investidor deveria investir sequer um centavo sem ter uma noção minimamente funcional de diversificação.

Cestos de ovos, que simbolizam a diversificação dos investimentos
A mais popular (e efetiva) forma de gerenciamento de riscos

O conceito é altamente intuitivo e é ilustrado por aquela velha metáfora do “não colocar todos os ovos na mesma cesta”.

Não vamos entrar em maiores detalhes sobre diversificação. Este aqui foi apenas um lembrete de que “a diversificação existe”, pois é importante para o correto entendimento do que é um risco sistemático e um risco específico.

O que são os riscos sistemáticos

A primeira observação sobre riscos sistemáticos é que eles não devem ser confundidos com um jargão similar de finanças e Economia, que é o “risco sistêmico”. Risco sistêmico é um risco que afeta as instituições financeiras, e não, propriamente, os investimentos. Então, atenção às palavras corretas: “Sistêmico” é uma coisa; “sistemático” é outra.

Para saber mais, leia o artigo “O que é risco sistêmico”

Um risco sistemático é um risco que afeta o mercado como um todo, ou um “segmento amplo” do mercado. É um risco sobre o qual uma empresa ou um indivíduo comum têm pouca ou nenhuma influência. É algo que, simplesmente, “acontece” e que “vem de cima”.

Imagine a seguinte situação: Você tem um hotel em uma cidade de praia, que recebe muitos turistas estrangeiros. Um belo dia, o Governo faz alguma m**** e os turistas estrangeiros não vêm mais. Seu hotel, previsivelmente, vai à falência.

Observe que não houve nenhum problema com o seu hotel. O que aconteceu foi uma decisão em um nível mais alto (no caso, do Governo) que afetou a economia como um todo, e a sua falência foi um “efeito colateral” dessa decisão. Simplesmente não havia como evitar.

Ou, imagine que você tem um negócio qualquer que foi “moído” por alguma nova tecnologia. Questões envolvendo decisões de natureza governamental/institucional ou disrupções tecnológicas são coisas totalmente fora do seu controle e não afetam apenas a você, e sim todo mundo.

Não importa o quanto o seu hotel ou sua firma eram bem geridos ou lucrativos. Quando aquele evento acontece, você “já era”…

Esse tipo de risco é o tal “risco sistemático”. E a PRINCIPAL característica dele no que diz respeito ao GERENCIAMENTO é que ele não pode ser gerenciado através de diversificação.

Usando a metáfora dos ovos e dos cestos, um risco sistemático é um risco que afeta os ovos, e não o cesto… Você pode dividir seus ovos em dez cestos, espalhados em lugares diferentes da casa… Mas aí dá uma variação de temperatura “louca” na sua casa e todos os ovos apodrecem…

Entre os riscos que podem ser considerados sistemáticos estão:

  • Risco-país (que inclui os riscos político, institucional e social)
  • Risco de mercado (ver comentário a seguir)
  • Risco de inflação
  • Risco da taxa de juros (que inclui o risco de reinvestimento)
  • Risco cambial

Para entender ainda melhor, veja o vídeo abaixo “O que é risco sistêmico, sistemático e não-sistemático”:

Risco de mercado

“Risco de mercado” é, às vezes, usado como sinônimo de risco sistemático. O risco de mercado é o risco da oscilação de preços dos ativos financeiros. Porém, ironicamente, o risco de mercado (apesar de alguns tratarem como sinônimo de risco sistemático) tem um lado “específico”, que é quando as oscilações de preço ocorrem apenas em um ativo individual.

Enfim, o risco sistemático é o risco que afeta “todo mundo” e não pode ser gerenciado com diversificação. Apenas com alocação de ativos e com hedge (que equivaleria a fazer um “seguro” dos investimentos).

O que são os riscos específicos

Se os riscos sistemáticos são os riscos que afetam os ovos, os riscos específicos são aqueles que afetam as cestas…

Os riscos específicos estão associados ao EMISSOR do ativo financeiro.

Vamos retomar o exemplo do hotel que usamos da explicação do risco sistemático: Você tem um hotel na praia… O verão está lindo, os turistas estão vindo em bandos, os comerciantes estão vendendo, os outros hotéis da cidade estão lotados… E o seu hotel está às moscas.

Neste caso, claramente, a culpa é sua. Alguma bobagem você deve estar fazendo, pois todos os outros estão indo bem e só você não está. Não se pode culpar o Governo, a Economia, a tecnologia ou o alinhamento dos astros…

No caso dos ativos financeiros, o risco específico está associado à empresa que emitiu uma ação ou debênture, ao banco que emitiu determinado título de crédito e por aí vai.

Os riscos específicos são facilmente gerenciáveis através de diversificação. Se você montar sua carteira de investimentos determinando um limite máximo por emissor de títulos, aquela será sua perda máxima se aquele emissor “for para o buraco”.

Imagine que você tem uma carteira de ações e optou por limitar sua exposição a 10%. Desta forma, você precisará ter, pelo menos, 10 ações diferentes na carteira e nenhuma delas poderá ter valor superior a 10% do total.

Neste caso, o seu dinheiro são os ovos e cada ação é um cesto… Se uma empresa “quebrar”, é como se um cesto caísse no chão. Você vai perder, mas sua perda vai ser limitada (a não ser, é claro, que ocorra um terremoto que derrube todos os cestos…).

Entre os riscos que podem ser considerados específicos estão:

Risco de crédito (no caso de renda fixa)
Risco da empresa (no caso de ações)
Risco de mercado (novamente, vide comentário a seguir)
Risco de liquidez
Risco operacional

Voltando ao risco de mercado. Às vezes, uma ação pode sofrer fortes oscilações de preços por fatores que dizem respeito à própria empresa, e não ao mercado como um todo. Por isso, o risco de mercado pode ser sistemático ou específico, conforme o contexto.

Conclusão

Como vimos, praticamente todos os riscos dos investimentos podem ser enquadrados nessas duas categorias.

É importante saber a que categoria cada risco se refere, pois isso vai ajudar a definir qual é a melhor abordagem de gerenciamento de riscos. A diversificação é a mais popular (e uma das mais efetivas) ferramenta de gestão de riscos, mas ela tem limites e não é adequada para riscos sistemáticos.

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