Quais são os cuidados que você deve tomar com as promoções de Black Friday para não cair na armadilha da “Black Fraude”?
A versão brasileira da Black Friday começou em 2010 e, desde então, é uma fonte de polêmicas, especialmente por conta do “mau comportamento” de alguns vendedores, que renderam, à Black Friday brasileira, o nada abonador apelido de “Black Fraude”.
A Black Friday e a “maquiagem de preços”
Desde o início da Black Friday brasileira, ela vem sendo marcada por falsos descontos ou, na melhor das hipóteses, por descontos irrelevantes.
Muitos comerciantes adotaram a prática de subir os preços artificialmente, alguns dias antes da Black Friday, e depois anunciarem descontos grandiosos que, na verdade, falsos descontos. Essa prática ficou conhecida como “maquiagem de preços” ou, ainda mais pejorativamente, por preços que eram “a metade do dobro”.
Isso gerou um grande abalo na credibilidade da Black Friday brasileira e gerou a alcunha de “Black Fraude”.
Desde então, os organizadores da Black Friday vêm se esforçando, inclusive em conjunto com órgãos de defesa do consumidor, em coibir a patifaria por parte de alguns comerciantes.
Mas a prática ainda permanece… O que significa que o consumidor acaba sendo, em grande parte, responsável por proteger a si próprio de armadilhas, ciladas e enganações.
Evitando armadilhas nas promoções de Black Friday
A armadilha mais obvia é a já mencionada “maquiagem de preços”, mas não é a única.
E, como veremos a seguir, nem todas as armadilhas são criadas pelos comerciantes. Às vezes, caímos naquelas armadilhas psicológicas, criadas por nós mesmos, que nos fazem consumir de forma “anômala” e nos levam a comprometer nossa saúde financeira.
Então vamos a um “passo a passo” para escapar de armadilhas em promoções de Black Friday:
1) Planeje o que vai comprar
Uma das dicas básicas do consumo consciente é a velha e boa lista de compras. Ela serve para evitar que façamos compras por impulso e que enxerguemos oportunidades ilusórias onde elas não existem (que nos levam a comprar coisas desnecessárias só porque, na nossa cabeça, “está barato”).
Faça sua lista de compras pelo menos duas semanas antes da Black Friday, pois ela será importante para o passo seguinte.
2) Colete as evidências
Tendo definidos os itens que quer comprar, faça uma pesquisa na internet, nos sites de ecommerce. Veja os preços e dê um “print” nas telas, tomando o cuidado de agrupar, na mesma tela, a descrição do produto, o preço, a identificação do vendedor e a data.
Com esse material, você poderá ver se, na Black Friday, o desconto é real ou se é apenas “maquiagem”.
3) Compare os preços
Quando chegar a Black Fraude Friday, aí será a “hora da verdade”. Compare os preços dos “prints” que você fez previamente com as ofertas do dia.
Se o desconto for “real” e relevante, você pode prosseguir com a compra. Se o desconto for inexistente ou ínfimo, algumas das coisas que você pode fazer é:
a) Simplesmente não comprar;
b) Não comprar, e ainda jogar m**** no ventilador.
No caso do item “b”, você pode fazer algumas coisas com o objetivo de constranger o vendedor, como denunciar aos órgãos de defesa do consumidor, fazer uma reclamação em sites especializados (como o Reclame Aqui) ou usar as evidências que você coletou para expor a empresa publicamente nas mídias sociais. Porém, quero chamar sua atenção para uma coisa importante a seguir.
Uma observação sobre crimes:
É controverso dizer que esse tipo de maquiagem de preços é um crime. Tecnicamente não é (a empresa pode aumentar o preço dela o quanto quiser, na hora que quiser), mas é daquelas coisas que, se não é ilegal é, pelo menos, imoral…
Porém, saiba que É CRIME difamar e caluniar pessoas e empresas. Por isso, se você optar por esculhambar a empresa em público, faça de forma correta para que o tiro não saia pela culatra e você acabe ganhando uma queixa criminal (e um processo nas suas costas).
Apresente suas evidências e cuidado com o linguajar e os adjetivos que você vai usar. Se você se referir a uma empresa com termos “fofos” como “bandidos”, “picaretas” ou coisas do gênero, você estará cometendo crime de calúnia. A maioria das empresas não liga para isso, mas, na dúvida, não “dê mole”, pois o departamento jurídico de alguma empresa ofendida pode querer te pegar para dar uma “punição exemplar”.
Então, se for jogar m**** no ventilador, faça corretamente para que ela não bata de volta na sua cara.
4) Se puder, espere pelo “Black January”
A Black Friday brasileira é um pouco estranha se compararmos com a americana. No Brasil, ela é essencialmente online (sem aquela “correria” nas lojas que a gente vê nos EUA) e alguns acabaram transformando em “black week” e coisas do gênero. Enfim, virou zona…
Mas uma coisa é fato: Existe um período do ano em que as coisas REALMENTE entram em promoção, e o poder passa das mãos dos vendedores para os compradores.
Essa época é o período imediatamente após o Natal, especialmente naqueles anos em que o comércio colocou grandes expectativas nas vendas e elas não se concretizaram.
Nessa época, as pessoas fazem compras para o Natal (e geralmente pagam “preço cheio”, por causa da pressão social) e ainda têm outras fontes de stress financeiro, como férias, comemorações e aquelas despesas típicas de começo de ano, como impostos.
Ou seja, o começo do ano costuma ser época de grana curta e (às vezes) estoques cheios. É como se fosse um mês inteiro de Black Friday (um “Black Month”?), em que o comprador, efetivamente, tem poder sobre o vendedor.
Então, se você puder esperar pela virada do ano para fazer suas compras após o Natal, provavelmente vai encontrar descontos iguais ou maiores que na Black Friday. E vai poder fazer suas compras com mais tempo e tranquilidade.
5) Atenção aos seus direitos
Caso compre na Black Friday, lembre-se de que compras em períodos promocionais estão sujeitas às mesmas regras que em qualquer outro período. E estamos falando aqui de garantias, prazos de devolução e tudo mais.
No caso de compras pela internet, o seu “período de arrependimento” é de sete dias. Se, nesse período, você quiser devolver o produto, o vendedor tem que aceitar de volta sem te fazer perguntas ou questionamentos.
Por isso, se você, por acaso, acabar comprando algo por impulso e perceber que “fez bobagem”, lembre-se que em até sete dias essa “bobagem” pode ser desfeita por você, sem nenhum custo.
Conclusão
No fim, tenha em mente que o maior problema das promoções de Black Friday não são os vendedores ou a Black Friday em si, mas somos nós mesmos.
É a nossa velha tendência de “seguir a manada” e embarcar na euforia dos outros – especialmente quando essa euforia é bem fabricada e propagandeada.
Lembre-se, acima de tudo, do “primeiro passo” da lista proposta, que é ter um plano de compras. Se você vai às compras sem ter um plano, vai acabar segundo o plano dos vendedores…
Assegure-se de ter o controle sobre si próprio e sobre seu dinheiro.