11/03/2021 • , • por Andre Massaro

Fui demitido, e agora?


O medo do desemprego é, historicamente, um dos maiores medos do brasileiro (e de boa parte das pessoas do mundo). Poucas coisas são mais angustiantes que acordar no dia seguinte de uma demissão e ter que dizer a si próprio, na frente do espelho: “Fui demitido, e agora?”.

Neste artigo, vamos ver algumas orientações práticas para que a pessoa se coloque novamente em pé, imediatamente após sofrer o impacto de uma demissão (especialmente quando é uma demissão inesperada).

“Fui demitido, e agora?” (a parte burocrática)

A primeira coisa é cuidar dos aspectos burocráticos da demissão. Ver quais são seus direitos e quais providências imediatas você deve tomar para efetivar, de forma organizada, a sua transição de “empregado” para “desempregado”.

Seguro desemprego e outros benefícios

A primeira providência é, assumindo que você estava formalmente empregado, requerer seu seguro desemprego.

O seguro desemprego é um benefício oficial (administrado pela Caixa Econômica Federal) ao qual alguns trabalhadores têm direito. Então, comece descobrindo se você é elegível ao seguro desemprego.

Outra providência é ver demais benefícios que você possa ter, como auxílio para transporte e outros. Isso vai depender, essencialmente, da cidade e estado onde você vive.

Informe-se.

Benefícios de seu empregador

Tem dois benefícios, em particular, com os quais você precisa ficar atento.

O primeiro é com seu fundo de pensão (se tiver). Você precisará ver qual o seu saldo, se poderá ficar com a parte depositada pelo empregador (o “match”) e tomar uma decisão sobre o que fará com aquele dinheiro.

Entre as opções mais comuns, estão se manter no fundo de pensão (como um participante autopatrocinado), fazer a portabilidade para uma previdência privada aberta ou, simplesmente, sacar o dinheiro.

O outro benefício que exige atenção é (se seu empregador te fornecia) o plano de saúde. Ver se você consegue permanecer no mesmo plano (nem que por algum tempo) ou se precisará buscar outra opção, mas tomando os cuidados para não perder prazos e não ter que cumprir carências.

Aspectos legais

Como foi sua demissão? Foi “tranquila”, com todas as obrigações cumpridas regularmente, ou vai ser daquelas demissões em que vai ter briga?

Se você acredita que sofreu algum tipo de abuso ou injustiça no processo de demissão, é interessante conversar com alguém da área de direito trabalhista, para saber o que pode ser feito.

Porém, aqui é preciso um alerta: Cuidado com advogados que “prometem demais”, fazendo você acreditar que vai ganhar uma bolada caso processe seu ex-empregador. Pese todos os fatores antes de tomar qualquer decisão (inclusive os fatores não financeiros).

“Fui demitido, e agora?” (a parte logística)

Agora é a hora de cuidar daquelas questões associadas à sua subsistência, enquanto estiver sem renda, e de facilitar seu retorno (rápido) ao mercado de trabalho.

Organize suas finanças

A não ser que você tenha outras fontes de renda, você terá que sobreviver de suas reservas até encontrar um novo trabalho.

Então, neste momento da vida, a sua prioridade deve ser organizar as finanças e fazer seu planejamento financeiro, para que o dinheiro que você tem dure o máximo possível.

Eu não me canso de dizer que a renda é a “energia vital das finanças” e, quando estamos sem renda, estamos correndo contra o tempo.

Por isso, reduza drasticamente gastos e despesas até conseguir reestabelecer sua fonte de renda. Até mesmo por que nunca sabemos quando a renda vai ser restabelecida.

Se for rápido, ótimo. Mas prepare-se para um período demorado sem entradas de dinheiro.

Não misture “curto prazo” com “longo prazo”

Muitas pessoas dirão para você que a demissão pode ser uma “bênção” e uma “oportunidade para fazer o que você sempre quis”.

Essas conversas são muito reconfortantes, mas, infelizmente, na maioria das vezes, são baseadas em premissas falsas.

Fazer uma mudança de carreira profunda e “bem feita” é algo que exige tempo e planejamento. Não é uma coisa para se fazer no momento em que você está com o “caixa apertado” e precisando reestabelecer sua fonte de renda rapidamente.

Se você tem planos de mudar de carreira ou fazer uma grande “mudança de ares”, arrume uma nova fonte de renda PRIMEIRO e, DEPOIS, comece a planejar sua transição.

Se você está desempregado, você tem um problema real, objetivo e de CURTO PRAZO (reestabelecer sua renda) – é um movimento “tático”. Já mudanças de carreira são projetos de natureza mais estratégica.

Saiba estabelecer prioridades para não “quebrar a cara” duplamente…

Faça uma auditoria de suas redes sociais

Aproveite o tempo disponível e faça um “pente fino” em suas redes sociais (TODAS elas).

A não ser que você tenha vivido em uma caverna nos últimos dez anos, você deve saber que as informações públicas sobre você, nas redes sociais, são analisadas por potenciais empregadores e podem fazer toda a diferença na sua contratação (ou na sua rejeição, em caráter permanente, por parte daquele empregador).

Então, dê aquele “banho de loja” em suas redes sociais, se apresentando de uma forma mais adequada com a imagem que você quer transmitir.

E, igualmente importante, veja TODAS as suas mensagens e postagens antigas em busca de qualquer coisa que possa ser comprometedora ou te complicar.

Fotos de baladas e bebedeiras, postagens brigando por causa de política ou futebol… SUMA COM ISSO!

“Fui demitido, e agora?” (a parte emocional)

“Momento mindfulness” – Aceite suas emoções

É natural (e esperado) que se sinta raiva e frustração ao ser demitido.

Algumas pessoas se sentem aliviadas, mas, se o seu sentimento não for assim tão positivo, aceite-o e reconheça-o.

Não se force a “não ter emoções negativas” e não se culpe por seus pensamentos. Pelo contrário, deixe suas emoções se manifestarem e reconheça elas.

Dê nome às suas emoções. Procure senti-las, inclusive no seu corpo.

O que você sente? Dor? Frio na barriga? Desconforto?

As técnicas de mindfulness podem ajudar muito nesse momento. Permita-se “sentir suas emoções” sem fazer qualquer tipo de julgamento. Apenas observe suas emoções e veja como elas se manifestam. Se dê o direito de “ficar puto” se você achar que deve.

E cuidado com a turminha da “positividade tóxica”, que vai tentar fazer você se sentir culpado pelos seus pensamentos negativos.

Mostre o seu dedo do meio (com gosto) para cada um que te disser alguma frase clichê de livro de autoajuda ou de palestra motivacional.

Fale com as pessoas

Fale com as pessoas sobre a sua situação. Fale com TODO MUNDO: Seus amigos, seus parentes e até pessoas desconhecidas.

É normal, após perder o emprego, que as pessoas se sintam envergonhadas e não queiram dizer a sua real situação, com medo de serem julgadas e rotuladas como “fracassadas”.

Não caia nessa armadilha! Até porque, aqueles que te julgarem e te colocarem para baixo não merecem fazer parte da sua vida. Aproveite a oportunidade de fazer uma “depuração” em seu círculo social.

Mas é importante falar com as pessoas sobre o que te aconteceu e sobre o que você está procurando. E isso por uma razão muito simples: As pessoas podem (e, em grande parte das vezes, QUEREM) te ajudar.

Muitas vezes as pessoas acabam não nos ajudando pois não dizemos claramente o que está acontecendo e o que queremos.

Então, FALE COM AS PESSOAS.

Algumas pessoas te rejeitarão (aí entra a depuração), outras te darão apoio moral (isso é bom, neste momento) e outras poderão te ajudar concretamente, te indicando para oportunidades que elas podem ter conhecimento.

E, se você tiver um network bem desenvolvido e “cultivado”, as chances de alguma coisa positiva sair de sua iniciativa de falar com as pessoas será muito maior.

Então… FALE!

Prepare a sua narrativa

Atualizar seu curriculum é apenas uma pequena parte desse processo de “preparar sua narrativa”.

Fazer sua narrativa significa ter condições de contar, de forma articulada e bem estruturada, a sua “história”.

Conseguir explicar, de forma lógica, coerente e sem lacunas o que você estava fazendo, porque foi demitido e o que está tentando encontrar agora.

O preparo da narrativa visa, entre outras coisas, deixar seu discurso mais fluído (especialmente em entrevistas de emprego), minimizar aspectos negativos de sua demissão e ressaltar aspectos positivos de sua carreira.

Mas (acho que é desnecessário dizer, mas não custa…) CUIDADO com mentiras, omissões constrangedoras e “embelezamento de curriculum”.

Quando você está desempregado e sem renda, a sua reputação é seu ativo mais valioso. Então, cuide bem dela.

Crie uma rotina diária

Uma demissão é algo que tem o potencial de desestruturar a rotina e a vida de uma pessoa.

É bastante comum, depois do choque inicial da demissão, que a pessoa fique apática e imobilizada, se dedicando a hábitos pouco saudáveis e que não ajudam muito a obter uma nova fonte de renda.

É normal (e aceitável) que, depois do choque inicial, você queira passar alguns dias remoendo as mágoas, jogando videogame e tomando sorvete. Mas é preciso colocar uma data para encerrar essa fase de “luto” e voltar à normalidade.

Defina uma rotina onde você consiga combinar seus cuidados básicos (especialmente com sua saúde), seus estudos (afinal, você precisa dar atenção aos seus conhecimentos e habilidades) e, principalmente, à busca de um novo emprego ou fonte de renda.

“Procurar emprego” é uma atividade por si só, que deve ser feita com estratégia, planejamento e disciplina.

Então, defina uma rotina, onde você aloca uma determinada quantidade de horas por dia (ou por semana), à sua saúde, às suas atividades sociais (que são importantes nesta fase), aos seu desenvolvimento (estudos e aquisição de habilidades) e à busca por novas oportunidades profissionais.

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