26/04/2021 • • por Andre Massaro

IPO para principiantes


Neste artigo, quero dar uma visão, especialmente para aqueles que estão começando nos investimentos, sobre o famoso IPO, a “Oferta Pública Inicial” (a sigla vem do Inglês “Initial Public Offering”), que marca o momento em que uma empresa “abre seu capital” na bolsa de valores.

Você vai entender o que é o IPO e como (e, mais importante, se DEVE) investir em um IPO.

O papel do “público” na bolsa de valores

Uma característica das empresas de capital aberto (aquelas que têm ações negociadas em bolsa) é que elas têm acesso àquilo que se chama de “poupança popular”.

“Poupança popular” significa, exatamente, aquilo que parece significar… É o “dinheiro do povão”. Dinheiro de pessoas comuns, como eu e (suponho) você.

E uma característica de “pessoas comuns” é que, de forma geral, elas não estão muito interessadas nos pormenores e nas minúcias de investir em empresas.

O objetivo de pessoas comuns, ao investirem seu dinheiro, é em formar e rentabilizar o patrimônio, e não “participar”, efetivamente, da vida e das decisões de uma empresa. As ações são apenas um “veículo” para rentabilizar o patrimônio – elas são um meio para um fim.

Por isso, há todo um cuidado (especialmente por parte das autoridades financeiras) ao permitir que as empresas possam captar o dinheiro das pessoas comuns, para que elas (as pessoas) não caiam em armadilhas.

Inclusive, em Inglês, as empresas de capital aberto são chamadas de empresas “públicas” (pois pessoas comuns – o “público” – podem participar de seu capital). Aqui no Brasil, uma empresa pública é sinônimo de empresa estatal. Mas isso é só uma curiosidade.

Mas, enfim, quando a empresa pode ofertar seu capital (suas ações) ao púbico, isso significa que ela cumpriu uma série de requisitos e obrigações e, agora, pode ter acesso a essa virtualmente inesgotável fonte de recursos, que é o dinheiro das pessoas comuns.

Aproveite e assista a este vídeo sobre IPOs do meu canal “André Massaro – O Investidor Cético”

O IPO é um rito de passagem empresarial

Por conta dessa sensibilidade do assunto “poupança popular”, se pode dizer que o IPO é uma espécie de “baile de debutantes” de uma empresa. É um momento único e transformador.

Se, no baile de debutantes, a menina passa a ser vista como uma “adulta”, no IPO a empresa passa a ser vista como uma “grande empresa” ou, pelo menos, como uma empresa de grande potencial e com práticas de gestão e de governança que a colocam ao par com as melhores empresas.

É quando a empresa se torna uma… empresa “adulta”!

Para os fundadores e sócios de uma empresa de capital fechado (que é o estado “antes do IPO”), a abertura de capital costuma ser um evento festivo e marcante – uma espécie de coroação do sucesso daquela empresa.

E cada IPO é considerado, também, uma vitória do mercado de capitais em si.

A abertura de capital de uma empresa é um sinal de confiança no mercado de capitais e na economia como um todo.

Por que empresas fazem um IPO?

O motivo mais óbvio que leva uma empresa a abrir o capital é “obter dinheiro”.

Ao ter ações negociadas em bolsa, a empresa recebe recursos dos acionistas e, também, tem a oportunidade de emitir mais ações no futuro (que são as chamadas “ofertas subsequentes” ou, em Inglês, follow on).

O dinheiro obtido através da venda de ações tem algumas vantagens em relação a outras fontes de recursos, como o chamado “capital de terceiros” (que são recursos obtidos através de empréstimos e financiamentos).

Mas existem benefícios indiretos, em grande parte associados à “imagem” da empresa após a abertura do capital.

Por ser uma empresa com acesso aos recursos do público, ela tem uma série de exigências legais e regulatórias que a obrigam a ser mais transparente. E isso, por si só, já vira uma espécie de “selo de qualidade” para o mercado.

Uma empresa de capital aberto acaba tendo mais facilidade, inclusive, para obter o tal “capital de terceiros” caso precise, exatamente por atender a esses requisitos de transparência.

A visão geral de um processo de IPO

O processo de IPO (que leva à abertura de capital) não é uma coisa simples. Por isso, vamos ver de forma bastante superficial.

Antes de abrir o capital, a empresa precisa fazer as devidas alterações estatutárias (e isso assumindo que já seja uma S.A. de capital fechado, do contrário precisa ir um passo para trás), fazer o registro na CVM (que é a nossa autoridade do mercado de capitais) e, também, fazer o registro na bolsa de valores.

Cumprida essa etapa “formal”, começa o processo de execução do IPO, que envolve a elaboração do prospecto da empresa (que é o documento que apresenta a empresa como “oportunidade de investimento”), a apresentação a potenciais investidores (especialmente os institucionais) e o processo de valuation, que vai ajudar a empresa a definir um intervalo de preços para a oferta das ações.

Na sequência, ocorre o processo de bookbuilding (em que os potenciais interessados sinalizam sua intenção de compra, naquele intervalo de preços).

Isso leva à definição dos preços e, enfim, ao lançamento das ações.

Os IPOs e os pequenos investidores

Os pequenos investidores não costumam ter uma participação muito relevante na maioria dos IPOs.

Até por conta da complexidade do processo, as ofertas são feitas, majoritariamente, para grandes investidores e investidores institucionais (que concentram muitos recursos) e a parcela de ações direcionada a pequenos investidores não costuma ser muito grande.

Inclusive, é comum haver “disputa” de pequenos investidores, que fazem reservas de ações em quantidade maior àquela que está sendo ofertada para eles, o que pode levar a um rateio das ações.

Quando acontece esse rateio, o investidor leva apenas uma parte daquilo que reservou.

Naqueles IPOs que são considerados realmente “bons” pelos agentes do mercado, é raro um pequeno investidor conseguir comprar ações na quantidade desejada…

Vale a pena investir em IPOs?

Como em tudo no mundo dos investimentos, a resposta é um grande “depende”.

Muitos investidores entram em um IPO na expectativa de obterem grandes ganhos no curto prazo, apoiados em uma crença de que a maioria das ações se VALORIZA imediatamente após o lançamento.

Esse efeito é, de fato, observado em grande parte das aberturas de capital. O provável motivo disso é que, tipicamente, as “ondas de IPOs” costumam acontecer naqueles períodos em que o mercado financeiro está eufórico e animado.

Então, essa valorização imediata acaba sendo muito mais um efeito dessa euforia do mercado do que um sinal confiável de que aquela ação, vale, de fato, mais do que o preço no qual foi lançada.

Isso leva muitos investidores a entrarem no IPO para “pegarem” esse ganho inicial (quando acontece) e vender a ação na sequência, fazendo um lucro rápido (aquilo que, no jargão, se chama de “flipagem”).

Já em prazos mais longos, não existem evidências de que as ações recém-lançadas tenham, como um todo, desempenho melhor que as ações já existentes no mercado.

Então, para aquele investidor que está indo para o mercado com uma abordagem “não especulativa”, não faz diferença comprar uma ação em um IPO ou não.

O que observar ao investir em um IPO

Um dos problemas dos IPOs é que estamos falando de ações de empresas “novas” na bolsa, que não têm um histórico de desempenho.

Por isso, para o pequeno investidor, investir em IPO acaba sendo, antes de tudo, um “ato de fé”. O investidor investe porque, por alguma razão, “acredita” na empresa.

Mas é uma crença que tem base em poucas evidências (ou mesmo nenhuma).

Como as ações não têm histórico, as abordagens típicas de análise (análise técnica e fundamentalista) ficam muito limitadas (ou mesmo inúteis).

A análise técnica está “fora de questão”, pois ela depende de dados do passado para identificar padrões. Já a análise fundamentalista pode ser aplicada às informações que são disponibilizadas pela empresa, mas essas informações podem não ser da “qualidade” necessária para uma boa análise.

Outra coisa a observar é a destinação dos recursos (e as empresas falam sobre isso durante o processo de oferta). Quando uma empresa está buscando recursos para expandir suas atividades, isso é, tipicamente, uma coisa positiva.

Agora, quando a empresa está buscando recursos para “se reestruturar” ou para financiar a saída de algum grande acionista, isso é algo que deve acender uma “luz amarela” na cabeça do investidor…

Particularmente (e agora é uma opinião pessoal), eu não sou um grande “fã” do investimento em IPOs e fico mais confortável com ações que já tenham algum histórico no mercado.

Mas, se todo mundo pensar como eu… ninguém nunca vai comprar ações em um IPO e nenhuma empresa vai abrir o capital!

Conclusão

O IPO é um momento marcante na vida de uma empresa. Talvez, a gente possa dizer que uma empresa tem três grandes momentos na vida: Sua fundação, a abertura de capital e o encerramento das atividades…

No que diz respeito ao pequeno investidor, os IPOs PODEM ser uma oportunidade interessante, mas é sempre importante ter em mente que se está investindo em algo que não tem um histórico de desempenho no mercado financeiro e, consequentemente, fica difícil (ou mesmo impossível) fazer uma análise com as ferramentas normalmente utilizadas para analisar ações.

Por isso, é importante que o investidor esteja bastante seguro do que está fazendo, caso opte por investir em um IPO.
A decisão de investir em um IPO deve ser pesada racionalmente e não deve ser influenciada por modismos, euforia de mercado ou em crenças de que “todas as ações se valorizam após o lançamento”.

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