22/12/2020 • , • por Andre Massaro

O que é capital próprio e capital de terceiros


O entendimento dos conceitos de capital próprio e capital de terceiros é algo de fundamental importância para investidores (especialmente aqueles que usam a análise fundamentalista), executivos financeiros e empreendedores.

E, neste artigo, vamos ver cada um desses conceitos, individualmente, e como eles se integram à dinâmica das empresas, seja para sua análise ou sua gestão.

Capital próprio e capital de terceiros – Uma perspectiva contábil simplificada

Pensando por uma perspectiva contábil, podemos dizer que o capital próprio e o capital de terceiros constituem “tudo aquilo que está do lado direito do balanço patrimonial”.

Quem tem alguma familiaridade com demonstrações contábeis, sabe que um balanço patrimonial é construído como um relatório de duas colunas, em que, do lado esquerdo, fica o ativo (que representa os bens e direito de uma empresa) e, do lado direito, ficam o passivo e o patrimônio líquido.

Representação sintética de um balanço patrimonial, sobre fundo branco

O balanço patrimonial mostra os “recursos” da empresa. No lado direito, podemos ver como esses recursos são obtidos e, no lado esquerdo, como eles são aplicados.

Nesta perspectiva simplificada, basta saber que o passivo representa o “capital de terceiros”, enquanto o patrimônio líquido representa o “capital próprio”.

Vamos, agora, tentar entender um pouco melhor.

O que é capital próprio

Já sabemos que o capital próprio é, basicamente, o patrimônio líquido da empresa. E sabemos que tudo aquilo que está no lado direito do balanço (inclusive o patrimônio líquido) representa os recursos que a empresa obtém.

Então, o que é o patrimônio líquido?

O patrimônio líquido é aquele conjunto de contas que representa os recursos obtidos de seus SÓCIOS ou ACIONISTAS. Lá está o capital integralizado (que são os recursos, efetivamente, aportados pelos sócios), as reservas de lucros, as reservas legais e os prejuízos acumulados.

O que é capital de terceiros

Da perspectiva da empresa, “terceiros” são “aqueles que não são sócios”. Então, qualquer recurso que a empresa use que não seja de seus sócios (e que, por sua vez, não esteja discriminado no patrimônio líquido), é, tecnicamente falando, de terceiros.

O capital de terceiros é aquilo que, contabilmente, está representado no passivo. E o passivo se divide em duas categorias: O passivo circulante (que são as dívidas que vencem em até um ano, ou até a conclusão do ciclo operacional corrente) e o passivo não circulante (que representa as dívidas de longo prazo).

Entendendo o que são dívidas e obrigações

Quando se fala em dívidas e obrigações, é normal que venha à nossa mente um empréstimo bancário, com contrato assinado etc. Ou, então, um financiamento imobiliário ou algo do gênero.

Porém, em uma perspectiva mais ampla, uma dívida ou obrigação ocorre sempre que a gente recebe alguma coisa e ainda não pagou.

Por exemplo, na sua casa, você usa eletricidade (fornecida, supostamente, por uma empresa de energia) e, no mês seguinte, paga pela eletricidade que usou.

Essa eletricidade é um recurso que a empresa de energia está disponibilizando para você, e que você pagará depois. Ou seja, a empresa de energia está “financiando”, para você, o uso da eletricidade – você está usando agora e vai pagar depois.

Enquanto você estiver usando a eletricidade pela qual não pagou, você está em dívida com a empresa de energia. Aí, em algum momento, você recebe a conta para pagar, faz o pagamento e essa dívida deixa de existir.

Por isso, do ponto de vista formal, é muito difícil uma empresa ou uma pessoa física “não terem dívidas”.

Você pode não ter nenhum empréstimo contratado com o banco, nenhum bem financiado e não estar devendo dinheiro para nenhum parente.

Porém, se você usa eletricidade ou tem um cartão de crédito, você tem (ao menos do ponto de vista puramente técnico) dívidas.

Exemplos de capital de terceiros

O exemplo que vimos, anteriormente (da eletricidade) é algo que está presente na vida de qualquer empresa ou pessoa.

Toda empresa tem algum tipo de dívida. O imposto que não foi recolhido é uma dívida, o salário do funcionário que vai ser pago no final do mês é uma dívida, a conta de luz que ainda não foi paga é uma dívida e por aí vai.

Porém, no contexto dos investimentos e da gestão financeira, costuma se associar capital de terceiros àquelas dívidas “típicas”, como dívidas bancárias, financiamentos diversos e emissões de títulos representativos de dívidas, como as debêntures.

Os custos do capital próprio e de terceiros

O capital de terceiros representa empréstimos e financiamentos, e o custo do capital de terceiros são os juros.

No caso dessas dívidas “correntes” (como no exemplo da eletricidade), os juros são implícitos. A empresa de eletricidade embute seu custo financeiro no próprio custo da eletricidade e a gente não “vê” isso. Parece que não tem juros, mas, acredite… Eles estão lá!

Já no caso das outras dívidas (dívidas bancárias, debêntures etc.) esses custos são explícitos. Eles estão nos respectivos contratos de financiamento ou termos de emissão de títulos.

Já no capital próprio, a coisa é um pouco mais nebulosa…

O mito do custo do capital próprio

Algumas pessoas costumam dizer que o capital próprio “não tem custo”, pois a empresa não precisa pagar juros para os sócios ou acionistas.

Porém, a moderna teoria das finanças considera essa visão errada. O capital próprio não só TEM custo como esse custo é MAIOR que o capital de terceiros.

Isso por que os sócios e acionistas têm expectativas de retornos em relação à empresa, e essa expectativa de retorno é sempre maior do que aquilo que, tipicamente, se paga de juros em um empréstimo.

Afinal, nenhuma pessoa em sã consciência investe seu dinheiro em uma empresa (que é um investimento de risco) para ganhar menos do que ganharia no conforto da renda fixa.

Então, podemos dizer que a empresa não tem a obrigação de remunerar o capital próprio de uma forma tão rígida quanto o capital de terceiros (que tem juros definidos em contrato e que a empresa tem que pagar, independentemente do desempenho de seus negócios).

A empresa remunera o capital próprio através de valorização de ações e de distribuição de lucros (quando eles ocorrem). Isso “alivia” a empresa, pois ela não é forçada a fazer desembolsos em situações que não são favoráveis a ela.

Mas isso não significa, em nenhuma hipótese, que o dinheiro do sócio é “dinheiro grátis”. O sócio QUER RETORNO e, mais que isso, quer retornos ALTOS.

Se a empresa não der retorno, em algum momento o sócio (ou acionista) “fica de saco cheio”, vende suas cotas ou ações e vai investir em outro lugar que ofereça retornos melhores.

E, em casos extremos, até mesmo se encerra as atividades da empresa (afinal, a paciência dos sócios e acionistas tem limites…).

Por isso, o capital próprio é MAIS CARO que o capital de terceiros, pois as expectativas de retorno dos sócios e acionistas são MAIS ALTAS que dos credores típicos.

O que é o “custo do capital”

O custo do capital é o custo, combinado, do capital de terceiros e do capital próprio.

O custo do capital de terceiros é a combinação das taxas de juros dos empréstimos, financiamentos e emissões de títulos de dívida da empresa. Já o custo do capital próprio é a expectativa de retorno dos sócios e acionistas da empresa.

Com essas informações, é possível calcular o custo de capital “geral” da empresa que é. Efetivamente, o quanto ela “paga para funcionar”.

Esse custo “geral” de capital é o “custo médio ponderado do capital” (conhecido pela sigla em Inglês WACC – Weighted Average Cost of Capital). Esse custo é “ponderado” pois considera o peso do custo individual de cada fonte de recurso (próprio ou de terceiros).

O custo do capital e a gestão financeira da empresa

O objetivo de qualquer empresa é ter o custo de capital mais baixo possível.
Como o capital de terceiros é mais barato, quanto maior for a proporção dele no capital total, menor será o custo. Só que o capital de terceiros precisa ser pago independentemente do desempenho da empresa e, se ela não estiver em um momento particularmente bom, poderá ser “sufocada” por essas dívidas.

Fora que o capital de terceiros em excesso significa uma grande alavancagem o que pode deixar a empresa em uma situação vulnerável.

O capital próprio é mais seguro pois não “sufoca” a empresa, mas seu custo é maior e, se a proporção de capital próprio for grande demais, a empresa pode ter um retorno abaixo daquilo que seria seu potencial.

Por isso, um dos maiores desafios dos executivos financeiros é achar o nível “ótimo” de capital, que permita otimizar o retorno sem deixar a empresa excessivamente alavancada.

Essa composição de capital é chamada, também, de “estrutura de capital”. A estrutura ideal de capital é aquela que melhor combina a alavancagem (resultante do custo menor) do capital de terceiros com a segurança e previsibilidade do capital próprio.

A estrutura de capital e o investidor

Essa análise é importante, também, para o investidor, pois uma empresa pode ter altos retornos (pelo efeito da alavancagem – aumentando o capital de terceiros), mas essa mesma alavancagem, se for excessiva, pode transformar a empresa em um “barril de pólvora”, prestes a explodir se qualquer percalço acontecer.

Inclusive, existe uma categoria de indicadores financeiros que é chamada de “indicadores de endividamento”, dos quais os mais conhecidos são:

  • Dívida Bruta/PL (passivo total/patrimônio líquido):

Indica o quanto a empresa tem de capital de terceiros em relação ao capital próprio.

  • Endividamento geral (passivo total/ativo total):

Indica quanto de capital de terceiros está investido nos ativos da companhia. Quanto maior o índice, maior a alavancagem.

Conclusão

A estrutura de capital (e o custo do capital) é um dos principais pontos de atenção (senão “o” principal) dos executivos financeiros, e um fator importantíssimo no processo decisório do investidor que usa análise fundamentalista.

E, para entender essas questões, é fundamental ter um entendimento conceitual do que é o capital próprio e o capital de terceiros.

Quer se manter atualizado?

Assine minha newsletter e fique sabendo, em primeira mão, sobre meus artigos e vídeos. E receba, ainda, conteúdos EXCLUSIVOS.

Leia também:

Comente