22/05/2020 • • por Andre Massaro

A economia pós-pandemia


Eu sou um sujeito bastante contido (bem, pelo menos eu tento ser…) com exercícios de futurologia. Como via de regra, eu tendo a acreditar que as coisas são muito mais aleatórias e caóticas do que gostaríamos que fossem. As coisas apenas PARECEM ter algum sentido por conta da nossa capacidade de racionalizar e explicar a posteriori (vide a “Falácia Narrativa” de Nassim Taleb).

Mas, neste artigo, vou dar alguns insights e sugestões sobre o que se desenha para nós com o eventual término da pandemia da COVID-19. Ou, pelo menos, o término da fase mais aguda dessa pandemia.

A maioria desses insights e ideias não são meus – já foram comentados por outros analistas e “futurólogos”. Mas selecionei, aqui, aqueles que me parecem fazer mais sentido e vou colocar minhas impressões pessoais.

Vou, então, dividir este ensaio em três “blocos”. No primeiro, falando sobre impactos da pandemia na economia pelo lado das finanças, dos fluxos de capitais, das ações diretas de autoridades monetárias e financeiras e das políticas fiscais e monetárias.

No segundo bloco, quero falar um pouco sobre a “economia real” e os impactos da pandemia na vida de pessoas comuns e empresários (especialmente os pequenos empresários).

E, no terceiro bloco, quero falar dos possíveis impactos da pandemia em alguns setores específicos.

A pandemia pode ter vindo para ficar

Antes de entrarmos nos “blocos” que eu mencionei, é importante dizer que é pouco provável que as coisas, simplesmente, “voltem ao normal”. Até mesmo porque foi essa “normalidade” que causou tudo isso…

Pode ser que nunca se encontre uma vacina (o que pode fazer com que a pandemia vire uma endemia, “punindo” com rigor alguns grupos e regiões mais vulneráveis). Pode ser que tenhamos novas ondas de infecção (só para lembrar, a gripe espanhola teve três ondas). Pode ser, ainda, que a gente tenha desencadeado uma “corrida armamentista” com a Natureza – afinal, os vírus são como “programas de computador” que vão aparecendo em versões cada vez mais atualizadas. O novo coronavírus, por exemplo, chegou num ponto “de excelência” na relação entre mortalidade e velocidade de propagação, superando seus “antecessores” (e versões melhoradas virão…).

A Economia pós-pandemia no setor financeiro

O que estamos vendo, pelo menos até o momento, é “mais do mesmo” daquilo que vimos vendo desde o início do Século. São governos e autoridades do setor financeiro interferindo na economia com o objetivo de aliviar (ou mesmo esterilizar) os efeitos negativos dos ciclos econômicos.

Estamos vivendo uma crise sem precedentes em tempos modernos, com efeitos de magnitude dignos de uma guerra mundial em larga escala. As crises anteriores foram “fichinha” perto desta, mas as ações dos governos têm sido similares: estímulos financeiros, redução drástica de taxas de juros, auxílio direto e, desta vez, reforçando o menu, a atuação direta de bancos centrais nos mercados financeiros, adquirindo ações e títulos.

Reduzir taxas de juros é a “ação padrão” em momentos em que a economia começa a patinar. Porém, esse remédio vem sendo usado e abusado nos últimos anos. Como praticamente todo remédio para aliviar a dor, o organismo vai criando uma “tolerância” a ele e vai perdendo efetividade.

No caso dos juros, é exatamente o que pode estar acontecendo. As economias desenvolvidas já não têm para onde baixar os juros e as economias em desenvolvimento começam a seguir o mesmo rumo, baixando drasticamente os juros, em alguns casos indo próximos de zero. A tal “armadilha de liquidez”, que muitos acreditavam ser uma coisa meramente teórica, começa a ganhar ares de coisa real e concreta.

Em tese, a única solução para uma armadilha de liquidez seria aumentar (muito) as taxas de juros. Seria como suspender a medicação para a dor, gerando uma dor incontrolável, com risco de colocar o organismo em choque. Mas, ao final desse processo, se daria um reset no organismo e ele voltaria à normalidade.

Na economia, provavelmente nenhum líder terá coragem de tomar essa atitude (de aumentar juros), o que aumentaria ainda mais a recessão e os efeitos negativos da crise (ainda que isso desse o proverbial reset na economia). Mas, em algum momento, terá que ser feito… Se escaparmos disso agora, é possível que não escapemos na próxima crise (que, inevitavelmente, vai acontecer).

Alguns analistas preveem um choque na oferta mundial que pode chegar na magnitude de 25%. Em outras circunstâncias, isso significaria uma inflação forte o suficiente para causar um colapso global. Porém, o choque na demanda deve ser dessa ordem ou maior. Por isso, é pouco provável que, ao menos no curto prazo, tenhamos uma aceleração forte da inflação, mesmo com juros virtualmente “zerados”.

Mas, insisto… Em algum momento, “a conta vem”.

A economia real pós-pandemia

A boa notícia é que a economia vai se recuperar. A má notícia é que ela vai se recuperar se tornando uma coisa diferente. Isso significa que, para alguns, poderá, sim, ser o “fim do mundo”.

Uma coisa notável da crise atual é que ela está causando a aceleração de algumas mudanças que já estavam ocorrendo, só que de forma lenta e hesitante. A “digitalização” dos negócios, do trabalho e dos estudos já estava acontecendo, mas a crise do coronavírus fez com que aquilo que estava sendo feito meio que “em regime de experiência” tivesse que ser adotado em larga escala.

Muitas das pessoas que foram obrigadas a trabalhar em casa estão sob o risco de não voltarem para suas empresas. Algumas porque vão, simplesmente, perder o emprego. Outras porque os próprios empregadores poderão querer que elas continuem em casa.

O trabalho em casa (home office) vai predominar?

Muitos são céticos com o trabalho remoto. Exaltam a importância do contato pessoal e do “ritual” do trabalho. A pressuposição é que o trabalho em casa pode resultar em queda de produtividade pois, supostamente, uma pessoa que está em casa não pode ser “controlada” de forma ostensiva e está sujeita a todo tipo de distração.

Por uma questão cultural, muitos tendem a ver pessoas que trabalham em casa como gente que, simplesmente, não trabalha (eu trabalho em casa há muitos anos e posso dizer que isso é real).

E tem o famoso “efeito Jaque”. É quanto o cônjuge, pai, mãe, seja lá quem for fala “Já que você está aí, você pode ir até o banco para mim?”, “Já que você está aí, pode receber o encanador à tarde?”. Pois é, as pessoas tendem a não respeitar o tempo e os limites de quem trabalha em casa…

Porém, do lado das empresas, o processo de decisão será muito simples. Elas estão sendo forçadas a adotar, por um tempo prolongado, o home office. Isso está sendo uma grande experiência e vai proporcionar dados valiosos para uma análise superior.

Essa análise será a comparação da queda de produtividade dos funcionários (se é que essa queda é real) com os custos que a empresa deixa de ter ao não precisar manter uma estrutura para que os funcionários trabalhem nela. Se os ganhos em termos de custo forem proporcionalmente maiores que as perdas de produtividade, o modelo de trabalho remoto se consolida. Simples assim.

Aumento da desigualdade

Com as medidas de isolamento social ou de lockdown (conforme o lugar), as pessoas tiveram suas rotinas alteradas e alguns foram, simplesmente, impedidos de trabalhar.
Muitas empresas estão quebrando, pois estão sendo impedidas de operar. As empresas que sobreviverem vão ter que criar medidas de contingência para situações similares no futuro, já que o risco de novas pandemias é uma coisa real e fará parte de nossa rotina.

Pessoas estão sendo demitidas por whatsapp e profissionais autônomos e informais estão passando por seu pior momento. Muitos estão sendo pegos numa situação de grande fragilidade, sem qualquer tipo de reserva financeira para momentos difíceis.

Num primeiro momento, poucas pessoas ficarão mais ricas com a crise (apesar que algumas empresas e setores estão vendo um aumento expressivo em seus resultados).

Praticamente todo mundo está, de alguma forma, “mais pobre”.

Porém, há uma grande diferença entre aquele sujeito de classe média alta que perdeu 30% do valor de seu patrimônio na bolsa e que teve que aceitar uma redução de salário e aquele profissional autônomo e informal que não tem reserva financeira.

O primeiro é aquele que vai ficar em casa, sem trabalhar, frustrado e triste com suas perdas. Mas ele vai conseguir dar cabo de suas necessidades básicas e, quando a economia retomar, ele estará ali “pronto para o jogo”. Esse sujeito estará em condições de ajudar na reconstrução da economia e tem grandes chances de ser o “rico de amanhã”.

Já o outro… provavelmente sua estrutura de vida, já frágil, vai se deteriorar ainda mais. O “remediado” de hoje está sob grande risco de virar o miserável de amanhã.

Confira aqui um interessante artigo da Bloomberg sobre o assunto: The Pandemic Will Reduce Inequality—or Make It Worse

“Morte lenta” de empresas
Muitas empresas (especialmente médias e pequenas) já fecharam as portas durante a pandemia. Mas o “banho de sangue” não deve parar por aí.

Porém, neste momento, estão sendo plantadas as sementes das quebras que ocorrerão em até um ano. Empreendedores são vítimas daquilo que o psicólogo Daniel Kahneman (ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002) chama, em seu livro “Rápido e Devagar”, de “viés do otimismo”. Ele tem uma crença inabalável (ainda bem) no sucesso de seu negócio e tende a defendê-lo, mesmo diante de todas as evidências em contrário que mostram que existem muito mais fracassos do que sucessos no mundo do empreendedorismo.

Muitas empresas perderam vendas e negócios durante a pandemia. Boa parte dessas vendas e negócios foram perdidas de forma irreversível. Porém, muitos empreendedores, tomados pelo viés do otimismo, acreditam que vão, de alguma forma, se recuperar quando as restrições à atividade econômica forem levantadas.

Há uma grande chance de que essa recuperação venha a “conta gotas” e o empreendedor, na tentativa de manter seu negócio “vivo”, poderá comprometer reservas e patrimônio pessoal para salvar uma empresa que, infelizmente, vai morrer de qualquer jeito.

Eu chamei esse fenômeno de “morte lenta”. Uma morte rápida seria a quebra já durante a pandemia; uma coisa mais “rápida e indolor”, onde o empreendedor consegue, ainda, preservar suas reservas e patrimônio pessoal. Desta forma, teria condições de tentar empreender novamente no futuro.

Na “morte lenta”, o empreendedor não quebra de imediato, mas ele se compromete pessoalmente com o negócio que vai definhando. Como sabemos, não é nada incomum essa mistura de “pessoal” e “empresarial” na vida de um empreendedor típico.

Frequentemente empreendedores colocam dinheiro pessoal na empresa ou empenham seus bens pessoais (por exemplo, fazendo empréstimos em que dão a própria casa como garantia).

Com isso, a empresa ganha uma sobrevida, mas ela já está mortalmente ferida – é uma situação terminal. Numa morte rápida, a empresa quebra. Na “morte lenta”, quebram a empresa e o empresário.

Empregos e o “efeito férias”

Quem é empregado de uma empresa (especialmente uma empresa grande) sabe que tirar férias pode ser uma coisa perigosa. Tirar férias dá, às outras pessoas, a oportunidade de elas descobrirem que você não é “tão necessário assim”. Pelo contrário, as coisas, talvez, até melhorem na sua ausência…

Na pandemia, por conta das restrições diversas, muitas pessoas estão deixando de ter acesso a alguns serviços e tendo que fazer as coisas “elas mesmas”. Coisas como a manutenção e limpeza da própria casa e outras atividades que eram “terceirizadas”… Algumas pessoas estão chegando à conclusão de que “quer saber? Acho que eu consigo resolver esse tipo de coisa sozinho e de graça”.

Nas empresas, a coisa é similar. Muitas empresas estão sendo forçadas a operar com estruturas mais enxutas, e estão descobrindo que, talvez, não precisassem daquela estrutura toda, para começo de conversa…

A eventual popularização do home office é, em grande parte, associada ao “efeito férias”. A empresa manda o funcionário trabalhar em casa e diz algo como “Quer saber, as coisas ficaram melhores com você em casa… Por que você já não fica por aí mesmo?”

Nacionalismo econômico e disrupção nas cadeias de suprimento

A crise da pandemia expôs uma outra grande fragilidade do mundo que é a dependência de insumos e produtos de outros países. O mundo já vinha (antes da pandemia) passando por um ressurgimento de ideias nacionalistas e, em alguns casos, até mesmo, xenófobas.

A pandemia acentuou isso e diversos países estão tomando medidas para diminuir sua dependência em relação a outros países, especialmente a China. Japão e Estados Unidos já manifestaram seu desejo (e anunciaram algumas ações) para reduzir a dependência dos chineses (e, de quebra, do resto do mundo).

Essa movimentação é algo que poderá ter consequências negativas ou positivas, conforme o setor. Seja como for, parece algo que vai se consolidar e deve pautar os rumos do mundo nos próximos anos.

O maior risco – as outras pessoas

A pandemia transformou “o outro” em perigo. O isolamento social pode ser uma coisa temporária, até a atual pandemia arrefecer (ou sumir). Porém, a experiência pode deixar marcas profundas na sociedade, mudando, estruturalmente, a forma como nos relacionamos com outras pessoas.

Na minha percepção pessoal, quando as restrições forem levantadas, as pessoas correrão para as suas vidas normais (ou aquilo que restou delas). Muitas irão para as festas e baladas que deixaram de ir, ou farão aquela viagem para um resort cheio de gente amontoada que estavam sonhando antes da pandemia.

Porém, à medida que novas ondas da atual doença e novas pandemias (ainda que de baixa intensidade) surjam, as pessoas deverão ir ficando mais e mais resistentes à proximidade com outras pessoas e aglomerações.

No mundo pós-pandemia, a presença de “outras pessoas” poderá deixar de ser uma coisa trivial para se tornar um “fator de risco”. Talvez, as pessoas comecem a avaliar suas atitudes em termos de riscos, se questionando “será que ir na festa de uma pessoa que eu nem gosto tanto compensa o risco de pegar alguma doença”?

Eu creio que, enfim, esse é o ponto central que vai pautar as coisas daqui em diante: A quantidade de gente “amontoada” e o receio com a proximidade social.

Antes da pandemia, a “visão de futuro” do mundo era de pessoas vivendo em grandes cidades (porém em pequenos apartamentos), convivendo em grandes shopping centers, trabalhando em grandes prédios de escritórios, usando transporte público extremamente eficiente ou transporte individual compartilhado.

Talvez, essa visão de futuro já tenha virado a visão do passado. Num mundo com pandemias frequentes e recorrentes, a vida do futuro pode ser caracterizada por grandes espaços individuais (“já que terei que ficar trancafiado dentro de casa, quero morar num lugar espaçoso”), distanciamento social permanente e ZERO compartilhamento.

Como isso, já posso avançar para o “terceiro bloco” deste artigo, que é uma “análise descompromissada” de alguns setores de negócios. Porém, o ponto central dessa análise é essa eventual mudança cultural e de comportamento, em que mudaremos de um “modo de aproximação” para um “modo de distanciamento”.

A pandemia e alguns setores específicos

Viagens e eventos corporativos

Existe muita controvérsia sobre o local e as circunstâncias do surgimento da atual pandemia. A narrativa apoiada pela ciência é de que tem origem natural e veio da China. Algumas teorias conspiratórias (ainda sem evidências concretas) sugerem outras coisas.

De qualquer forma, as autoridades de saúde têm muito mais facilidade, hoje em dia, para rastrear os passos de uma doença. Em alguns países mais avançados, as autoridades conseguem saber exatamente como que uma doença entrou no país – quem trouxe, em que voo veio e como se propagou dali em diante.

Ou seja, está cada vez mais fácil apontar o dedo para um “culpado” pela propagação de uma pandemia. As empresas (em particular grandes empresas com grande projeção pública) provavelmente serão extremamente cuidadosas com eventos e viagens, pois elas podem estar sendo, elas próprias, as responsáveis por um novo surto.

E, se isso acontecer, as chances de que isso seja descoberto (e cause um grande dano á imagem da empresa) são grandes e reais. Ou seja, é mais um risco com o qual as empresas terão que se preocupar.

Se você pretende promover um grande evento no futuro, torça para que ninguém dê um espirro lá dentro…

Mercado imobiliário

Existem muitas dúvidas sobre o futuro dos imóveis corporativos, por conta da popularização do home office. No momento em que eu escrevo estas palavras, já tem “gente demais” falando sobre isso e não tenho nada diferente a acrescentar.

Porém, tenho visto pouca atenção sendo dada ao mercado imobiliário residencial.

Com as pessoas “presas dentro de casa” (e com a possibilidade de passarem por isso mais vezes), é possível que elas comecem a buscar um novo tipo de imóvel.

Na maior parte dos centros urbanos do mundo, os imóveis modernos tendem a ter áreas individuais menores (como “estúdios chiques” que são, no fim das contas, do tamanho de um quarto de hotel) e muitas áreas e serviços compartilhados, como lavanderias, piscinas, churrasqueiras e por aí vai.

Na economia pós-pandemia, talvez isso se inverta, com as pessoas buscando mais espaço privativo e menos compartilhamento (compartilhar = risco de contaminação).

No passado, há algumas décadas, muitas pessoas migraram dos centros urbanos para cidades próximas ou “subúrbios”, que ofereciam espaço e a oportunidade de viver com mais qualidade de vida. Essa migração se revelou, em grande parte, um fiasco, pois as pessoas tiveram que manter suas vidas profissionais nos grandes centros urbanos.

Ou seja, quem fugiu das grandes cidades em busca de qualidade de vida hoje aproveita a “qualidade de vida” do próprio carro, em horas infindáveis de congestionamentos…

Com isso, muitos acabaram voltando para as grandes cidades. Acabou virando uma escolha entre “qualidade de vida ruim” e “qualidade de vida pior”.

Mas, talvez, isso mude com a popularização do home office e do trabalho remoto. O “êxodo” para o interior pode ser retomado.

Eu batizei essa possibilidade de “êxodo-desêxodo-reêxodo”.

Transportes

Aqui, um segmento muito interessante. Como será que as pessoas, no futuro, irão encarar a ideia de voar num cilindro pressurizado, roçando os ombros e os antebraços com algum completo desconhecido por horas? Como será que as pessoas reagirão á ideia de entrarem num navio-cruzeiro com 5 mil “Ilustres desconhecidos” lá dentro (e sob risco de ficarem confinadas por tempo indeterminado se houver alguma suspeita de contaminação)?

O pessoal da área de aviação executiva, pelo pouco que eu acompanho desse segmento, parece estar bastante feliz e otimista…

A questão do transporte individual deve ser bastante revista nesse futuro pós-pandemia. Uma coisa que é notável (especialmente para alguém que já está na idade dos “enta”, como eu) é como o automóvel foi de sonho de consumo a algo completamente desprezado pelas novas gerações.

Para o pessoal da minha geração, o carro não é um meio de transporte, e sim algo que define a sua identidade pessoal. As pessoas eram reconhecidas e julgadas pelos carros que tinham. Isso foi uma grande mudança.

As gerações mais novas “não dão a mínima” para o carro. Só alguns aficionados dão importância e a indústria automobilística vinha vivendo pesadelos, assombrada por carros autônomos compartilhados, soluções de mobilidade urbana e transporte coletivo eficiente.

Bem, não sei quanto a você, mas, pra mim, agora é carro all the way… (ah, e não precisa estacionar não, deixa que eu mesmo estaciono…)

Novamente, acho que a tônica dessa nova era é a percepção de “outras pessoas” como risco, o desejo por espaço individual e a resistência a coisas compartilhadas. Tenho a impressão de que o carro ainda terá uma vida longa…

O lado positivo – O “momento Segunda Guerra Mundial”

Uma coisa que a pandemia desencadeou é, naturalmente, um grande esforço científico no desenvolvimento de curas e vacinas para a COVID-19.

Pode ser que tenhamos uma vacina logo; pode ser que essa vacina nunca surja… Porém, uma coisa é fato: Quando se faz um grande esforço científico, acontecem muitas descobertas acidentais. E muito da tecnologia e do conhecimento que serão desenvolvidos poderão ter aplicabilidade em outras coisas.

É o que eu chamo de “Momento Segunda Guerra Mundial”. Nos EUA, por exemplo, eles usam a expressão “Momento Sputnik”, que seria uma coisa similar (mas não igual), que é um evento que coloca “fogo no rabo” dos governantes e dos cientistas.

A Segunda Guerra Mundial foi um evento terrível em perdas humanas e materiais, mas grande parte do que temos e usamos hoje foi aprimorado na guerra (e para uso militar). Computadores, radares, a aviação moderna… Até mesmo o filtro solar!

Então, se há um lado positivo dessa pandemia é esse esforço científico. Não tenho dúvidas que muitas doenças e problemas de saúde terão suas curas encontradas em decorrência desses esforços.

Talvez, inclusive, nem fosse adequado falar em “Momento Segunda Guerra Mundial”, e sim um “Momento Viagra”. O Viagra é um caso célebre de descoberta acidental, em que pesquisas de desenvolvimento de drogas para problemas cardíacos levaram, acidentalmente, à resolução de um problema, digamos, menos grave, mas não menos importante…

Então, se há um lado com o qual estou muito otimista (apesar de tanta negatividade) é com esse segmento de saúde e biotecnologia. Creio que a pandemia vai dar o “empurrão que faltava” para o desenvolvimento de tecnologias que vão nos salvar de muitas outras coisas, além da própria pandemia.

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