03/06/2020 • , • por Andre Massaro

Como lidar com a ansiedade financeira


“Ansiedade financeira” é, antes de tudo, ansiedade. Ansiedade é uma patologia (sim, uma doença chamada “Transtorno de Ansiedade Generalizada”) e, se você desconfia que está sofrendo de ansiedade (financeira ou não) em um nível severo, você não deveria estar lendo este artigo – deveria estar marcando uma consulta médica.

Mas vamos em frente… Para podermos prosseguir, é preciso entender o que é ansiedade (da qual a “ansiedade financeira” é uma derivação).

Existem várias definições de ansiedade, mas esta aqui eu creio ser a mais adequada:

“Ansiedade é um medo que persiste, mesmo na ausência de uma ameaça real”

É importante, então, entender que a ansiedade é um “medo persistente”, que nos mantém em estado permanente de alerta.

A ansiedade financeira é, então, um medo persistente (e, em alguns casos, irracional) de que algo ruim aconteça em nossas vidas financeiras.

Ansiedade versus medo

O medo é uma reação a um perigo imediato. A ansiedade é um medo que subsiste na ausência desse perigo imediato.

Eu sei que isso parece mera formalidade, mas é importante fazer essas distinções. Se você está financeiramente quebrado, sendo perseguido por cobradores e sem dinheiro para pagar as contas da semana que vem, você NÃO SOFRE de ansiedade. Você está enfrentando uma situação de perigo objetivo e imediato, que pode ter consequências bastante concretas.

Agora, se sua situação imediata (ou de curtíssimo prazo) não é de perigo, mas, ainda assim, você sente algum tipo de angústia, bem… aí podemos dizer que é um possível episódio de ansiedade financeira. Você está “sofrendo por antecipação”.

Ansiedade financeira e planejamento

Ter “algum grau” de ansiedade não é ruim.

Nós, seres humanos, temos uma capacidade de projetar cenários futuros e antecipar possíveis consequências de nossos atos – isso é algo que nos distingue de outras espécies e, bem… é uma vantagem evolutiva.

Porém, em níveis muito elevados, essa atividade mental de antecipação vira a ansiedade.

Os níveis de preocupação

Podemos dizer que existem três níveis de preocupação e antecipação do futuro.

Pensamento ansioso

É aquele nível catastrofista, que projeta os piores cenários e é caracterizado por aquela sensação de “agora f**** de vez”.

Pensamento razoável

É o nível que reconhece que coisas ruins podem acontecer e que não temos controle sobre o futuro.

No entanto, a maioria dessas coisas ruins é administrável, temporária e não-catastrófica. E é possível se preparar para a maior parte dos riscos conhecidos.

Pensamento ingênuo

É o “pensamento Poliana”, otimista e apoiado em misticismo, que diz que “tudo vai dar certo”, “coisas ruins só acontecem com os outros” e “Deus vai me proteger”.

O “pensamento razoável” é aquele que precisamos cultivar para viver numa situação segura, porém saudável e sem sobrealerta.

Fontes de ansiedade financeira

A ansiedade financeira pode ter inúmeras origens, mas duas fontes comuns são o medo de perda de renda e o medo de eventos imprevistos que envolvam grandes gastos (às vezes, acima da capacidade de arcar com esses gastos).

No caso da renda, é o medo de perder o emprego, o medo de falir (no caso de empreendedores) ou o medo de sofrer algo (um acidente ou doença, por exemplo) que impeça de trabalhar (no caso de profissionais autônomos).

Já grandes gastos inesperados podem ser problemas de saúde, multas, processos judiciais, reparos emergenciais de grande porte na casa entre outros.

Técnicas e ações para lidar com a ansiedade financeira

Identifique os gatilhos emocionais

Quais são as situações que desencadeiam episódios de ansiedade?

Conversar com seus colegas de trabalho (que gostam de “tocar o terror” e dizer que todo mundo vai ser demitido) é algo que te angustia?

Abrir extratos bancários e contas te gera alguma sensação de desconforto?

Procure identificar todos os gatilhos que desencadeiam esses episódios e, com aqueles que forem possível (como as fofocas de corredor com colegas de trabalho), evite ter contato.

Naqueles em que não for possível evitar o contato (contas e extratos), se force a enfrentar a situação com mais frequência para “dessensibilizar”.

Use técnicas de relaxamento e de mindfulness

Eu mesmo procuro exercitar técnicas de mindfulness, apesar de ter grande dificuldade em falar no assunto sem lembrar daquela velha piada do sujeito que cai do 30º andar de um prédio e, quando passa pelo 15º andar, rumo ao chão, diz para si mesmo: “Ora… até o momento, tudo bem… Nada de ruim me aconteceu”.

Seja como for, técnicas de relaxamento podem reduzir as sensações físicas da ansiedade (como tensão muscular e alterações no ritmo respiratório) e o mindfulness pode ajudar a trazer a atenção para o momento presente.

Faça um inventário pessoal e reconheça o estado atual das coisas

Por que você tem medo de perder o emprego? Existe algum risco real? Você teve algum feedback ou avaliação negativa de seu empregador que seja evidência que seu emprego está, de fato, em risco?

Por que você tem medo de algum gasto imprevisto? Você não tem uma reserva de emergência? Não tem a quem recorrer se precisar de crédito?

Este inventário pessoal é importante para tentar identificar quais são os medos racionais (aqueles que têm algum fundamento) quais medos são irracionais e imaginários.

Se seus medos forem racionais e fundamentados, hora de começar a tomar medidas concretas, como investir na sua empregabilidade ou começar a formar uma reserva de emergência.

Pare de se comparar com os outros (especialmente online)

Às vezes, a ansiedade financeira pode vir de uma sensação de fracasso pessoal, de que você não tem “tanto dinheiro quanto deveria ter”.

Essa percepção vem, normalmente, de nossa comparação com outras pessoas e com padrões externos. São aqueles “scripts mentais” do tipo “se você não tem uma casa própria até os 30 anos, você é um fracassado”.

Se você percebe que seus episódios de ansiedade são desencadeados pelo simples convívio com outras pessoas, se afaste (ainda que temporariamente).

E tenha particular cuidado com aquilo que você vê online. A maioria das pessoas só expõe aquilo que é conveniente para elas e, muitas vezes, o que é conveniente para elas são exatamente aquelas coisas que “levantam a própria bola” e tendem a diminuir a autoestima das outras pessoas.

Aplique o pensamento crítico

O pensamento crítico é a aplicação da lógica informal para avaliação e análise de argumentos.

Boa parte dos “gatilhos emocionais” são argumentos, apresentados por outras pessoas ou por você mesmo, em sua conversa mental interna.

O pensamento crítico separa os argumentos em seus componentes (premissas e conclusão) e te permite analisar se as premissas são verdadeiras.

Em boa parte das vezes, nos orientamos por argumentos baseados em premissas falsas.

Então você deveria ter uma casa própria antes dos 30 anos? Quem disse isso? De onde isso veio? Está escrito em algum lugar? É um fato ou uma opinião? Todas as pessoas que não têm uma casa são fracassadas?

Não permita julgamentos (nem de si mesmo)

A angústia gerada pela opinião dos outros sobre nós mesmos é um típico gatilho de ansiedade. É um mecanismo similar à ansiedade desencadeada pela comparação com outras pessoas.

Porém, no caso do julgamento, alguém “aponta o dedo no seu nariz” e diz, explicitamente, que você está errado. Que você “deveria” já ter um fundo de aposentadoria, uma casa própria etc.

E esse julgamento pode vir de você mesmo, naqueles momentos em que você se olha no espelho e se acusa de todos os seus fracassos.

Aqui, a aplicação do pensamento crítico faz milagres para desmontar argumentos furados na linha “você deveria isso ou aquilo”.

Lembre-se: Todo problema humano tem solução

Os únicos problemas que não têm solução são os problemas da Natureza, como a morte, as doenças incuráveis, as Leis da Física, os limites da velocidade da luz e a estupidez das pessoas.

Todos os problemas humanos são solucionáveis. Dinheiro é uma criação humana, ergo… problemas que envolvem dinheiro são solucionáveis.

Ser “solucionável” não é sinônimo de ser fácil, mas este é aquele momento em que o mundinho da autoajuda e das histórias rasas de superação podem ajudar. Não importa o quão no fundo do poço você esteja – alguém já esteve mais fundo e conseguiu dar a volta por cima.

Se tudo falhar, busque ajuda

A ansiedade, quando se torna um traço de personalidade permanente, é um problema de saúde mental.

Problemas de saúde mental são “coisa séria” e, dependendo da severidade dos sintomas, é preciso buscar ajuda profissional.

Se a ansiedade está, de alguma forma, te “paralisando” e causando impactos negativos reais em sua vida, procure um profissional de saúde mental “pra ontem”.

Conclusão

Neste artigo, tentei deixar bem situado o que é a ansiedade e, em particular, a ansiedade financeira.

Numa escala de “problemas financeiros” (eu sempre gosto de colocar “problemas financeiros” entre aspas bem grandes, pois problemas financeiros reais são muito raros), a ansiedade financeira não é um dos piores. E isso por uma razão muito simples: Se você sofre de ansiedade, é porque a causa imediata do medo não está presente.

Você está sofrendo por aquilo que “acha que vai acontecer”, e não pelo que, objetivamente, está acontecendo AGORA.

Se você está sofrendo AGORA, seu problema não é de ansiedade – seu problema é concreto, objetivo e real.

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