14/06/2020 • , • por Andre Massaro

O que é um “bear market”


Se você já tem alguma familiaridade com o mercado financeiro, já deve ter se deparado com a expressão em Inglês “bear market”. Este é mais um jargão do mercado, em Inglês e com referências ao reino animal. Então, neste artigo, você vai entender o que é o tal bear market.

Significado e origem do termo

O mercado financeiro tem uma certa fixação por metáforas do reino animal. Por exemplo, aqui no Brasil, se usa “tubarões” e “sardinhas” para designar, respectivamente, os grandes investidores (profissionais e institucionais) e os pequenos investidores.

Leia aqui: Como não ser uma “sardinha” na bolsa

Outra metáfora animal é a do touro e do urso (bull e bear, em Inglês). Historicamente, o mercado financeiro usa a figura do touro para simbolizar o mercado em alta (supostamente porque o touro golpeia, com os chifres, de baixo para cima). E usa o urso como símbolo do mercado em queda (porque a “patada” do urso vem de cima para baixo).

Inclusive, em New York, tem a famosa estátua do touro de Wall Street, que simboliza a “pujança” do mercado financeiro e da economia.

estátua do touro de bronze em Wall Street
O “touro de Wall Street” representa a força do mercado e da economia

O “bear market” (mercado dos ursos, em tradução livre) seria, então, uma situação em que a tendência geral das bolsas é de queda.

A bolsa de valores, como um todo, é uma representação da economia (inclusive os índices da bolsa dão uma representação bastante fiel da economia). Há uma grande correlação do mercado acionário como um todo com o estado geral da economia. Por isso, de forma geral, um bear market costuma estar associado com um período econômico ruim, como uma recessão ou depressão.

Se preferir, assista aqui a um vídeo com conteúdo similar a este artigo

O que NÃO É um bear market

Eu sempre gosto de ressaltar que um bear market não é um “evento”, e sim uma “situação”.

Quedas ocasionais (ainda que intensas) são um fenômeno comum no mercado financeiro, mesmo durante os bull markets (que, como você deve suspeitar, são o oposto dos bear markets – são situações onde o mercado está em tendência de alta).

Porém, essas quedas, quando ocorrem em um bull market, costumam ser de curta duração e as perdas são rapidamente recuperadas.

E é importante fazer essa definição pois, às vezes, no meio da empolgação do mercado e depois de muitas altas sequenciais, as pessoas costumam sair por aí “tocando o terror”, falando coisas do tipo “os ursos estão saindo da toca”, “os ursos estão atacando” e outras coisas do gênero.

Então, pequenas quedas, dentro de um ciclo de alta, não são consideradas eventos que mudam a tendência geral do mercado. Essas quedas são pequenos movimentos e mostram que os mercados tendem a retornar às próprias médias. São chamados de swings, e é daí que vem o popular “swing trade”.

Leia aqui: Position, Swing, Day Trading… O que é isso?

O que é, então, um bear Market

Já sabemos que o bear market não é uma “quedinha qualquer”, e sim uma situação mais prolongada, em que a tendência primária do mercado mudou de “alta” para “baixa”.

Mas como se define, exatamente, o que é um bear market?

Não existe uma definição formal para um bear market. Inclusive, alguns investidores e agentes do mercado financeiro costumam dizer que um bear market é daquelas coisas que você não consegue definir em palavras, mas você sabe quando está em um.

Porém, existem alguns “entendimentos não-oficiais” do que é um bear market, que são aceitos em alguns círculos.

Neste artigo, quero mostrar dois desses “entendimentos”: Um baseado em indicadores de análise técnica e o outro baseado em critérios quantitativos.

Para se dizer que estamos num bear market “de fato”, é preciso que o índice geral da bolsa (no Brasil, seria o Índice Bovespa) atenda a um desses critérios. Não se conclui que estamos em um bear market olhando para ativos individuais

Bear market – critério técnico

Alguns analistas e agentes do mercado consideram que estamos num bear market quando o índice principal da bolsa, considerando-se um gráfico diário (onde cada barra representa um dia de negociação), está abaixo da média móvel de 200 períodos.

A razão para essa escolha é que 200 períodos (dias, no caso) é o “número redondo” que mais se aproxima de um ano de negociações (um ano tem, em média, 250 dias úteis, com negociações em bolsa).]

Então, se o índice está abaixo da média dos últimos 200 pregões, considera-se que é uma queda consistente, “merecendo” ser chamada de bear market.

Bear market – critério quantitativo

Este é o critério mais comum e mais adotado por analistas e pela mídia especializada.
Neste critério, se considera que o mercado está num bear market quando o índice sofre uma queda de mais de 20%, em relação ao valor máximo nas últimas 52 semanas.

Isso porque temos 52 semanas em um ano. Então, observe que, assim como no caso do critério técnico (apresentado anteriormente), o período de um ano é uma referência importante para a definição.

Mas, agora, vem a parte mais importante: O mercado tem que cair mais de 20% e PERMANECER, abaixo desse nível, por pelo menos dois meses.

Isso porque, em um bull market, não é incomum vermos quedas de mais de 20%. Só que, como o mercado está “forte” para cima, essas quedas são rapidamente recuperadas e o mercado segue em sua trajetória de alta.

Ou seja, a queda pode até ser intensa e de grandes proporções, mas não tem “força” para alterar a direção geral do mercado. Já num bear market “de verdade”, o mercado não se recupera tão rapidamente.

Se o mercado se recupera rápido, é porque não era um bear market

Como ganhar dinheiro em um bear market

Num bear market, as melhores coisas a se fazer são:

  • Ficar de fora, esperando a situação melhorar;
  • Adotar estratégias para mercados em queda, como vendas a descoberto (preferencialmente para operações de prazo mais curto) e investir em ações de setores contracíclicos (que tendem a ter um bom desempenho quando a economia vai mal).

Para saber mais sobre essas técnicas e estratégias, sugiro a leitura do artigo “Como ganhar com a bolsa em queda”.

Conclusão

Uma das coisas encantadoras do mercado de renda variável é que não existe escassez de oportunidades de ganho. Sempre dá para “ganhar dinheiro”, em qualquer cenário.

Existem abordagens para mercados em alta, para mercados em baixa (que é o caso do bear market) e para mercados sem direção definida (“de lado”, no jargão). Tudo é uma questão de se adotar a abordagem correta para cada cenário de mercado.

O problema é que saber em que tipo de mercado estamos (em alta, em baixa ou de lado) não é tão fácil quanto parece. O que a gente consegue fazer é olhar o passado e tentar deduzir em que tipo de mercado estamos.

Por exemplo, podemos chegar à conclusão de que estamos num bear market (usando os critérios demonstrados aqui) mas, tão logo a gente tome a decisão de fazer alguma operação para cenários de baixa, o mercado vai lá e vira para cima, com tudo, bem na nossa cara…

A verdade é que a gente nunca sabe se estamos num bear market ou num bull market. No máximo, a gente sabe que estávamos num bear market ATÉ AGORA (mas ele pode “virar” no próximo minuto…).

Isso apenas reforça a importância de se fazer as operações observando o gerenciamento de riscos e mantendo as perdas sob controle.

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