01/06/2020 • , • por Andre Massaro

Como escolher uma corretora de valores


Uma das principais dúvidas de investidores iniciantes (e também de alguns investidores experientes) é como escolher uma corretora de valores.

As pessoas que não têm muita familiaridade com o mercado financeiro costumam “enxergar” apenas os grandes bancos e, por conta disso, a maioria das corretoras de valores (e outras instituições financeiras) são ilustres desconhecidas para elas.

E isso é um problema… Afinal, para quem nunca investiu (e nunca saiu da “redoma de proteção” dos grandes bancos), tomar a decisão de mandar dinheiro para uma corretora de valores “desconhecida” é um salto e tanto…

Mas vamos lá: Este artigo lista aqueles que, na minha visão e experiência, são os fatores mais relevantes na escolha de uma corretora, na forma de “passos”.

Alguns meses antes da publicação deste artigo, eu fiz um vídeo em meu canal no YouTube com conteúdo bastante similar (afinal, esses fatores de escolha que eu menciono são os que eu mesmo uso… e há muito tempo!). Por isso, se você preferir assistir em vídeo, segue aqui embaixo.

Por que você precisa escolher uma corretora de valores

Bem… Não é que “precisa”. Você pode nunca virar cliente de uma corretora de valores. Porém, ter conta em uma corretora é um pré-requisito para ter acesso a ativos financeiros negociados em bolsas de valores (como ações de empresas e fundos imobiliários) e a títulos públicos negociados através do Tesouro Direto.

NÃO ter conta em corretora de valores significa que seus investimentos ficarão limitados a títulos bancários, fundos de investimentos convencionais e mais algumas outras coisas. Mas você abrirá mão de ter acesso à parte mais “interessante” do mercado financeiro que é, como já foi mencionado, a bolsa de valores e o Tesouro Direto.

Corretora ou distribuidora de valores

Existem inúmeros tipos de instituições financeiras: Bancos comerciais, bancos de investimentos… A lista é enorme. Entre as instituições financeiras brasileiras, existem as corretoras de valores e as distribuidoras de valores.

Antigamente, apenas as corretoras podiam proporcionar acesso às bolsas de valores. As distribuidoras eram limitadas (como o nome sugere) à distribuição de títulos negociados em mercados de balcão e fundos de investimento.

Porém, desde que as bolsas brasileiras deixaram de ser sociedades civis sem fins lucrativos e se tornaram “empresas”, a distinção entre corretoras e distribuidoras de valores deixou de existir.

Na época das bolsas como sociedades civis, as corretoras eram, efetivamente, as “donas” das bolsas (e as distribuidoras não). Hoje, tanto as corretoras quanto as distribuidoras precisam atender aos mesmos requisitos regulatórios e funcionam como um “provedor de acesso” dos investidores à bolsa.

As corretoras e distribuidoras pagam para a bolsa para poderem oferecer o acesso ao mercado para os seus clientes. São, efetivamente, uma “interface” entre o investidor e o sistema de negociações da bolsa.

Por conta disso, não há, hoje, nenhuma diferença prática entre “corretora” e “distribuidora” de valores e, a partir deste momento, o nome “corretora” será usado como uma designação ampla para os dois tipos de instituição.

As corretoras de valores ligadas a bancos

Como já foi dito anteriormente, ter conta em uma corretora é um pré-requisito para se investir na bolsa de valores ou no Tesouro Direto. Sem conta em corretora, “não tem brincadeira”…

Porém, praticamente todos os grandes bancos brasileiros (e uma boa parte dos bancos pequenos) têm suas próprias corretoras de valores. Por isso, um investidor que seja cliente de um grande banco pode, caso se sinta mais seguro, pegar o “caminho fácil” e investir através do próprio banco.

Alguns bancos fazem com que o processo de investir pela corretora seja quase “invisível” ao cliente. Ele tem a impressão de estar investindo pelo banco, e não pela corretora, por estar usando uma única plataforma e fazendo as movimentações através de sua conta corrente.

Mas, caso o investidor opte por uma corretora independente (que não seja ligada a bancos) ou de algum outro banco, ele terá que abrir conta e mandar o dinheiro… E é aí que muitos receios surgem.

Então, vamos aos “passos” para escolher uma corretora.

1º passo: Selecione alguns nomes

Se você não conhece nenhuma corretora (além de seu banco), comece fazendo uma lista de potenciais “candidatas” a terem você como cliente.

Comece com uma pesquisa no Google ou no seu site de buscas favorito. As corretoras (em especial aquelas que trabalham com pequenos investidores) costumam ser bem ativas na internet e investem bastante em marketing. Então, é só digitar “corretora de valores” e elas vão, praticamente, saltar na sua cara…

Outra possibilidade é pedir indicações para amigos e conhecidos (algo que vem “referendado”, por alguém de sua confiança, é sempre melhor).

Caso você peça indicação em algum espaço público (como nas mídias sociais) ou resolva perguntar para o seu “guru financeiro de estimação”, apenas atente a potenciais conflitos de interesses. Muitas pessoas em mídias sociais e os “guruzinhos de plantão” têm relacionamento comercial com as corretoras e ganham por indicação. Não que isso seja uma coisa ruim per se, mas apenas atenção a possíveis enviesamentos.

2º passo – Verificar se a corretora é legítima

Para o investidor (ou aspirante a investidor) que nunca se aventurou fora da zona de conforto de seu banco, mandar dinheiro para uma instituição financeira “desconhecida” é uma coisa ousada e, potencialmente, geradora de angústia.

Por isso, o primeiro passo é verificar se a corretora, de fato, “existe” e se ela é autorizada a funcionar.

Como regra geral, o mercado financeiro brasileiro é bastante regulado e não é “avacalhado” (pelo contrário). As corretoras (assim como outras instituições financeiras) são vigiadas de perto pelas autoridades financeiras e precisam cumprir uma série de requisitos regulatórios e de compliance.

Só que, ocasionalmente, pode aparecer algum picareta se identificando como “corretora”, tentando dar um golpe nas pessoas. Às vezes, um sujeito (ou quadrilha) monta um site “bonitinho”, com cara de instituição financeira “séria” (sempre preste muita atenção à URL – o endereço – do site, para ver se não é algo que está fora do Brasil) e sai “caçando depósitos” de investidores incautos.

Então, caso você já tenha alguma corretora em mente (que veio de alguma indicação de conhecido ou recomendação na internet), comece verificando se ela está registrada na CVM (que é a autoridade financeira que regula as corretoras) e na própria bolsa.

No site da CVM, você pode pesquisar no “Cadastro Geral de Regulados”. No site da B3, tem a seção “Busca de Corretoras”. Se a corretora estiver nos dois, já é um bom sinal.

3º passo: Verificar os serviços oferecidos pela corretora

Então, você já fez uma lista das corretoras e já verificou se elas são “legítimas”. O próximo passo é entrar no site dessas corretoras e ver os serviços oferecidos.

As corretoras têm diferentes níveis e opções de serviços. Tem corretoras que oferecem plataformas mais sofisticadas que o homebroker padrão; corretoras que oferecem linhas de crédito para alavancagem (conta margem); corretoras que te possibilitem operar vendido a descoberto entre outras coisas.

Assumindo que você esteja começando nos investimentos, é provável que qualquer corretora que trabalhe com investidores individuais tenha condições de te atender de forma satisfatória. Mas a sua necessidade por serviços diferenciados poderá aumentar à medida que você “se sofistica”.

4º passo: Verificar os custos

Aqui cabe uma história interessante: Desde que surgiu o homebroker, os custos de se transacionar ativos na bolsa vem caindo de forma vertiginosa.

Antigamente, as corretoras seguiam a famosa “tabela Bovespa” (uma sugestão de taxas de corretagem dada pela própria bolsa) e podiam, conforme seus critérios, aplicar descontos para alguns clientes.

Com a popularização do homebroker, o modelo mais comum passou a ser a corretagem fixa por ordem (de compra ou de venda), independentemente do valor da transação. Isso barateou imensamente as transações.

Mais recentemente, algumas corretoras (não só no Brasil, mas no mundo) deram um passo além e resolveram praticar “corretagem zero”. Isso mesmo, de graça… E, aparentemente, é uma tendência que veio para ficar.

Novamente, assumindo que você seja iniciante nos investimentos, suas necessidades devem ser limitadas e uma corretora mais barata, com custo fixo de corretagem por ordens, vai te “resolver a vida”.

Uma corretora com corretagem zero é, em tese, ainda melhor. Só que, como já dizia o grande economista Milton Friedman, “não existe almoço grátis”. A corretagem grátis pode trazer, como contrapartida, uma qualidade de serviços que deixa a desejar.

No mundo dos investimentos, como em tudo na vida, você “recebe por aquilo que paga”.

5º passo: Qualidade dos serviços

Aqui, é um dos pontos mais importantes (e frequentemente negligenciados) no processo de escolha de uma corretora: Avaliar a qualidade dos serviços.

Não é fácil avaliar a qualidade dos serviços de uma corretora. Lamentavelmente, a maioria dos clientes descobre que suas corretoras são ruins quando algum problema acontece e eles “ficam na mão”.

Eu mesmo já perdi a conta de quantas vezes tive problemas em corretoras (como ordens não executadas, ou executadas em duplicidade) e, na hora que precisei de ajuda, me deixaram horas pendurado no telefone, ouvindo aquelas versões de músicas pop em ritmo de bossa nova que dão vontade de vomitar (estão mais para “bosta nova”).

Então, eu tenho uma dica que, se não garante que o atendimento é bom, pelo menos já dá uma “filtrada”.

A dica é a seguinte: ligue para a corretora, diga que tem interesse em abrir uma conta e peça para falar com alguém. INSISTA para falar com um ser humano, não com uma máquina.

Hoje, grande parte das corretoras vem fazendo um grande esforço para captar novos clientes, e fazem isso acima de sua capacidade de prestar um bom atendimento. Por conta disso, elas dificultam AO MÁXIMO o contato direto com o cliente, direcionando ligações para atendimento automático (“disque um para cortar os pulsos e dois para pular pela janela”…) ou, pior que isso, sequer colocando o telefone no site (forçando atendimento via chat, onde você também vai acabar falando com uma máquina).

Então, voltando… Ligue para a corretora (se não tiver um telefone no site, isso já é um sinal…) e peça para falar com alguém. Se nenhum ser humano se dispor a te atender, entenda e aceite que a corretora não QUER e não MERECE te ter como cliente. Um prestador de serviços que não demonstra boa vontade em atender e cria barreiras de comunicação já está dando sinais bastante claros de como as coisas vão ser, caso você inicie um relacionamento com ele…

Assumindo que você consiga falar com um ser humano, aproveite e faça as perguntas mais absurdas que você puder imaginar. Pergunte coisas como “O que é uma ação?” ou “Como é esse negócio de renda variável? Varia muito?”.

Deixe a imaginação correr e pergunte o que der na telha. Se você se sentir como se estivesse “trolando” a pessoa, não se iniba! Faça suas perguntas. O objetivo, aqui, não é obter respostas, e sim ter uma ideia de como será o atendimento quando algum problema acontecer (atenção aqui: estou falando “quando” e não “se”) e você precisar de ajuda.

Se, na fase de aproximação (em que você manifesta desejo de ser cliente) o profissional da corretora te atender de forma rude e descortês, você já vai ter uma ideia de como vai ser o atendimento quando JÁ FOR CLIENTE e estiver com um problema.

6º passo – Verificar a saúde financeira da corretora

Este aqui é um passo que eu considero opcional. Eu tenho uma certa confiança na solidez do sistema financeiro e nos mecanismos de proteção ao investidor (me chame de ingênuo, se quiser).

Além do quê, como ex-auditor e conhecedor de “algumas coisinhas” de análise fundamentalista, eu estou ciente de que informações financeiras são um retrato do passado. Seu eletrocardiograma de hoje pode estar perfeito, mas nada garante que você não vá ter um ataque cardíaco amanhã…

De qualquer forma, se você sabe interpretar informações financeiras e tem interesse no assunto, saiba que as instituições financeiras são obrigadas a divulgar, publicamente, seus números.

Você pode consultar essas informações diretamente no site do Banco Central, em “Central de Demonstrações Financeiras do SFN”. Ou, então, usar algum outro serviço que agregue essas informações, como o site Banco Data.

Conclusão

Seguindo esses passos, você aumenta bastante as chances de “acertar” na escolha da sua corretora.

Porém, quero chamar a sua atenção para o seguinte: Abrir conta em uma corretora não é nenhum bicho de sete cabeças e você não “se casa” com a sua corretora para o resto da vida.

Se, por qualquer razão, você quiser mudar de corretora, basta abrir conta em outra e pedir a transferência de seus ativos. É um processo relativamente tranquilo, apesar de ser um pouco “chatinho” em alguns aspectos. Mas pode valer a pena se achar que sua relação com a corretora não está sendo satisfatória.

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