08/06/2021 • • por Andre Massaro

A Fórmula Mágica de Joel Greenblatt


O que vem à sua cabeça se alguém disser que existe uma “fórmula mágica” (sim, essas exatas palavras) para investir?

Pois um dos modelos de investimento mais simples e mais efetivos que existem tem, exatamente, esse nome. É a “magic formula” (fórmula mágica, em Português) de Joel Greenblatt.

Antes, um pouco sobre os investimentos “quant

Uma das vertentes mais modernas e “charmosas” do mundo dos investimentos são os investimentos quantitativos (ou “quants”), que são estratégias de seleção e de negociação de ações e outros ativos financeiros baseadas em regras numéricas e fatores “quantificáveis”.

O “mundo quant” é altamente associado a tecnologia, sistemas automatizados e os famosos “robôs de investimento” (o chamado “algo trading”). Porém, conceitualmente falando, qualquer método de investimentos que seja baseado em regras objetivos e com pouca (ou nenhuma) margem para interpretação é um método quant.

E a tal fórmula mágica, de Joel Greenblatt, está aí para nos provar que não é preciso muita sofisticação para ser um investidor quant.

A magic formula é um modelo totalmente quantitativo, baseado em regras e que pode ser aplicado, basicamente, por qualquer investidor que tenha conhecimentos rudimentares de finanças.

Uma vez eu ouvi de alguém que “não existe gente ruim em Matemática, o que existe é gente que não consegue seguir regras e instruções”. Talvez essa frase seja um pouco exagerada, mas, no caso da magic formula, não é preciso ser um gênio das finanças para aplicá-la com sucesso… Basta ser capaz de SEGUIR REGRAS.

A história da fórmula mágica de Greenblatt

A fórmula mágica foi “apresentada ao mundo” em um exemplar de uma série de livros de finanças chamada “Little Books, Big Profits”, da editora americana Wiley & Sons.

Essa coleção (que é excelente, diga-se de passagem) tem vários livros, sobre diversos temas de investimentos, que têm, como título, “The Little Book of…” (“O pequeno livro sobre… alguma coisa”).

E Joel Greenblatt, que é professor de finanças e gestor de fundos de investimentos, fez um livro para essa série, chamado “The Little Book That Beats the Market” (“O pequeno livro que vence o mercado”, em tradução livre e literal), em 2005.

O livro foi traduzido para o Português e publicado no Brasil com o nome “O Mercado de Ações ao Seu Alcance” e, posteriormente, em uma nova edição, como “A Fórmula Mágica de Joel Greenblatt para Bater o Mercado de Ações“.

Mas, segundo o próprio Joel Greenblatt, ele escreveu o livro (e concebeu a fórmula mágica) pensando em seus filhos enquanto eram ainda crianças. Ou seja, a festejada magic formula foi pensada, desde o começo, para investidores ABSOLUTAMENTE LEIGOS em finanças.

Visão geral da fórmula mágica

A fórmula mágica usa apenas dois indicadores fundamentalistas para selecionar ações (falaremos deles um pouco adiante).

Porém, a fórmula tem uma razoavelmente grande lista de EXCLUSÕES – ou seja, ações e empresas que, por suas características particulares, devem ser descartadas no processo de seleção.

Então, a fórmula mágica consiste em aplicar os dois indicadores fundamentalistas (que serão apresentados na sequência) naquelas ações que não são excluídas pelos critérios.

Na sequência, se faz um ranking com as “melhores” e se constrói uma carteira, idealmente com 20 a 30 ações daquelas que melhor se qualificaram conforme os indicadores.

Os indicadores da Fórmula Mágica

A fórmula mágica usa apenas dois indicadores fundamentalistas:

Uma versão adaptada do Earnings Yield

O Earnings Yield é, essencialmente, o famoso índice P/L (Preço/Lucro) “ao contrário”. É o lucro por ação dos últimos doze meses dividido pelo preço de mercado da ação.

Porém, para evitar distorções (por conta dos diversos níveis de endividamento em setores diferentes), Greenblatt propôs uma versão própria do indicador que é o EBIT (Earnings Before Interest and Taxes, ou Lucro Antes de Juros e Impostos) dividido pelo EV (Enterprise Value).

O EV é o valor de mercado da empresa, mais o valor de suas dívidas e menos o valor de dinheiro em caixa.

O Retorno sobre o Capital (ROC – Return On Capital)

O retorno sobre o capital pode ser obtido pela fórmula EBIT dividido pela soma do Ativo Fixo e o Capital de Giro.

Esses dois indicadores seriam, supostamente, suficientes para dar uma visão do valor da ação em relação ao seu preço (no caso do Earnings Yield) e da saúde financeira geral da empresa (ROC).

Construindo o ranking das ações

Com os dois indicadores, deve-se construir um ranking daquelas ações que se enquadram nos critérios de exclusão.

Se faz, então, uma lista para os dois indicadores, atribuindo uma nota crescente conforme o valor do indicador.

Assim, a empresa com o maior Earnings Yield recebe a nota 1, a segunda recebe nota 2 e assim por diante.

A mesma coisa é feita para o ROC: Se faz uma lista (com as mesmas empresas) onde aquela com ROC maior recebe nota 1 e assim sucessivamente.

Aí, se faz um terceiro ranking, com as notas SOMADAS dos dois indicadores, dispondo aquelas com MENORES notas na frente (pois representam as “melhores” empresas pela combinação dos dois indicadores).

Assim, neste terceiro e último ranking (que é o ranking combinado dos dois indicadores), uma nota baixa representa uma empresa “melhor”.

Por isso, elas devem ser dispostas pela nota em ordem crescente.

A construção da carteira conforme a fórmula mágica

Com seu ranking na mão (mostrando as notas combinadas dos dois indicadores), tudo o que você precisa fazer, agora, é montar uma carteira de 20 a 30 ações, com pesos iguais (mesmo valor investido em cada ação), selecionando as melhores do ranking.

Joel Greenblatt recomenda que essa montagem de carteira não seja feita de uma única vez, mas sim ao longo de um ano, comprando duas ou três ações por mês. Neste caso, o ranking pode ser revisado mensalmente.

Greenblatt também diz que essa carteira deve ser mantida por um prazo longo (ao redor de dez anos) e que se deve fazer rebalanceamentos anuais, de forma a “reenquadrar” as ações em seus pesos fixos.

Os critérios de exclusão de empresas

Talvez, o mais importante componente da fórmula não seja os indicadores, mas sim os critérios de exclusão.

Greenblatt, em seu livro, determinou características de empresas que devem ser excluídas do processo de rankeamento.

E um detalhe importante: O livro foi escrito por um americano, pensando em leitores americanos e na realidade americana. Por isso, esses critérios precisam ser reavaliados e adaptados para outros mercados (como o mercado Brasileiro).

As ações excluídas do ranking são:

  • Empresas com capitalização de mercado inferior a US$ 50 milhões
  • Empresas de infraestrutura (utilities) e instituições financeiras
  • Empresas estrangeiras (representadas por ADRs – American Depositary Receipts).

A ideia geral era, então, excluir small caps e excluir empresas que, por conta de seus modelos de negócios, tendem a apresentar leituras distorcidas nos indicadores fundamentalistas mais comuns (como é o caso dos bancos).

Enfim, a fórmula mágica funciona?

A resposta curta é “sim, a formula mágica funciona”.

A resposta “não tão curta” é “ela funciona, mas o autor talvez tenha exagerado um pouco no desempenho”.

Já foram feitos inúmeros testes e simulações (backtests) com a magic formula, em vários mercados e vários períodos. A conclusão geral é que ela é “boa” mas não “espetacular”.

Nas primeiras versões do livro, Greenblatt dava a entender que o retorno médio da fórmula mágica seria algo da magnitude de 30% ao ano. É um número bastante agressivo e que, na vida real, pouca gente conseguiu obter, de forma consistente e no longo prazo.

Vantagens e desvantagens da fórmula mágica

A fórmula mágica tem três grandes vantagens.

A primeira é a vantagem de todo método de base quantitativa: A objetividade.

Não há muita margem discricionária e não há muito espaço para interpretações e “filosofações”. É fazer o ranking, ver quais são as melhores, comprar e fim.

Sistemas de investimento como a magic formula são excelentes para manter fatores emocionais e “achismos” fora do processo de decisão.

A segunda vantagem é a simplicidade. Qualquer pessoa com acesso aos dados (que são públicos) e um conhecimento rudimentar de planilhas é capaz de construir o ranking e selecionar as ações.

E, nos EUA (onde o método é muito popular), existe um site do próprio autor, chamado “Magic Formula Investing”, que já faz o trabalho pesado para o investidor.

A terceira vantagem é que é uma fórmula que permite muitas customizações e adaptações.

Você pode, por exemplo, partir da “fórmula básica” e modificar indicadores, ou mesmo acrescentar outro indicador, mudar critérios de rebalanceamento, de exclusão do ranking etc.

É possível construir sua própria fórmula mágica a partir da original.

Quanto às desvantagens, a maior delas é que, como todo modelo quant, ele acaba deixando o investidor um pouco “engessado”.

Para alguns investidores, isso é uma desvantagem (pois eles preferem ter mais espaço para usar abordagens de linha qualitativa). Porém, para a maioria dos investidores que eu conheço, esse engessamento é uma vantagem, pois funciona como uma “proteção contra bobagens e decisões irracionais e impulsivas”.

E a outra desvantagem é que, como foi comentado anteriormente, a fórmula mágica é boa (indiscutivelmente), mas está longe de ser “essa maravilha toda” que o autor fala.

Conclusão

A fórmula mágica tem, como vimos, vantagens e desvantagens. Porém, ao menos na minha visão, o grande mérito da fórmula mágica é mostrar que é possível fazer um modelo de investimentos totalmente objetivo, 100% baseado em fatores quantitativos e, ainda assim, incrivelmente simples, que pode ser aplicado por qualquer pessoa.

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