29/08/2020 • • por Andre Massaro

Quais são os setores da bolsa de valores


Quando se analisa uma ação, para tomar uma decisão de investimento, é comum se expandir o escopo da análise da empresa (a emissora da ação) para um contexto mais amplo, que é o setor de atuação daquela empresa. E, neste artigo, vamos ver quais são (e como são definidos) os setores da bolsa de valores.

Setores da bolsa de valores – Uma visão geral

Na bolsa de valores, os ativos mais negociados são ações de empresas e derivativos dessas ações (como contratos de opções). E as empresas têm diferentes características quanto seus produtos e seus mercados.

Conforme o tipo de produto ou mercado, a empresa pode se inserir em determinado segmento econômico. Um segmento é definido como um grupo de empresas que fazem produtos idênticos ou similares, que atuam nos mesmos mercados e disputam o mesmo tipo de público.

Essa prática de agrupar empresas conforme certas características é muito importante (para não dizer fundamental) para poder fazer diversos tipos de análises que nos permitem chegar a conclusões sobre o que acontece na economia, nos negócios e na sociedade (lembrando que a atuação das empresas têm grande impacto social e ambiental).

Os setores da bolsa e a análise de ações

Dentre as “escolas” de análise de ações, a que mais dá importância aos setores é a análise fundamentalista.

A análise técnica não dá muita importância a fatores qualitativos, fazendo “tudo o que tem que ser feito”, simplesmente, com as informações de preços e volumes. Porém, na análise fundamentalista, os setores são algo de grande relevância, pois ajudam a entender o comportamento de uma empresa em particular.

No mundo da análise fundamentalista, é comum se falar em duas abordagens: Top-down e bottom-up.

A abordagem top-down (“de cima para baixo”, em tradução literal) parte da análise do ambiente econômico, depois vai para a análise do setor e, enfim, se dedica a analisar os pormenores da empresa emissora daquela ação.

Já a abordagem bottom-up faz o caminho inverso, indo “de baixo” (da empresa – que representa o dado mais analítico) para cima (cenário econômico – o dado mais sintético), passando pelo setor.

Observe então que, nas duas abordagens, a análise do setor é o ponto central – o que muda é a ordem dos fatores que estão nas extremidades. Isso apenas demonstra o quanto o estudo dos setores é importante na análise fundamentalista.

Os setores da bolsa e o gerenciamento de riscos

No mundo dos investimentos, a ferramenta mais conhecida, mais comum e mais eficaz é a velha e boa diversificação. É o famoso “não colocar todos os ovos na mesma cesta”.

Porém, simplesmente colocar um monte de ovos em um monte de cestas não é o suficiente, pois continuamos tendo apenas ovos.

Se você montar uma carteira de investimentos com dez ações de bancos, por exemplo, você terá uma carteira bem diversificada (dez ações proporcionam uma razoável diversificação). Porém, terá uma carteira terrivelmente mal ALOCADA, pois são todas empresas de MESMO SETOR.

Leia aqui: Quais são os riscos de investir em ações

Em um mesmo setor, as empresas tendem a ter correlação positiva (todas sobem e caem ao mesmo tempo), o que, em grande parte, anula os efeitos da diversificação.

Por isso, para construir uma carteira segura, não basta, simplesmente, “espalhar” as ações. É preciso definir critérios de alocação para grupos de ações com características de correlação similares.

E a forma mais simples de classificar essas ações em grupos é definindo setores.

Quem define os setores da bolsa de valores?

O mundo dos negócios é extremamente diverso e dinâmico e, em teoria, seria possível criar inúmeras formas de classificar as empresas conforme seus produtos, seu público consumidor ou qualquer outra característica que julgarmos relevante.

Porém, no mercado financeiro, até para se facilitar e padronizar as análises, foram criados alguns modelos de classificação, sendo que os mais conhecidos são o Global Industry Classification Standard (GICS) e o Industry Classification Benchmark (ICB).

O GICS foi criado em 1999 pela Standard & Poors (S&P) e pela MSCI, já o ICB foi criado pela FTSE Russell em 2005.

O ICB é o mais utilizado pelas bolsas ao redor do mundo, mas os dois têm muitas similaridades, sendo a principal delas o fato de terem ONZE setores, que se dividem em subsetores. Nos dois modelos, os onze setores são os mesmos – a diferença está na subdivisão deles.

Os onze setores, conforme o ICB e o GICS são:

  • Tecnologia
  • Comunicações
  • Saúde
  • Serviços financeiros
  • Imóveis
  • Bens de consumo duráveis
  • Bens de consumo não duráveis
  • Bens industriais
  • Materiais básicos
  • Energia
  • Utilidades

A classificação por setores no Brasil

Aqui no Brasil, a B3 adora um padrão próprio que é similar ao ICB e ao GICS. O modelo local também tem onze setores principais, que são divididos em subsetores e segmentos.

Porém, há uma pequena diferença nos onze setores brasileiros em relação aos modelos estrangeiros.

Os setores da bolsa de valores, no Brasil, são:

  • Bens Industriais
  • Comunicações
  • Consumo Cíclico
  • Consumo não Cíclico
  • Financeiro
  • Materiais Básicos
  • Outros
  • Petróleo, Gás e Biocombustíveis
  • Saúde
  • Tecnologia da Informação
  • Utilidade Pública

Se você observar com atenção, verá que existem algumas diferenças de nomes para setores similares (nas listas do ICB e do GICS, eu procurei traduzir respeitando a forma original). Porém, no modelo brasileiro existe um “outros”, enquanto nos modelos estrangeiros têm o setor “imóveis”, que não tem no brasileiro.

Nos links abaixo, você encontrará informações detalhadas sobre os três modelos mencionados neste artigo:

FTSE Russell: Industry Classification Benchmark (ICB)

MSCI: Global Industry Classification Standard (GICS)

B3: Classificação Setorial

Outras classificações proprietárias

Os modelos de classificação que eu apresentei neste artigo são modelos padronizados, adotados (ou mesmo criados) pelas próprias bolsas. Por conta disso, eles também acabam sendo adotados por prestadores de serviços, como provedores de informações e análises financeiras.

Porém, nada impede que outros profissionais, prestadores de serviços ou mesmo investidores não criem seus modelos proprietários.

Por exemplo, um fundo ou gestora de investimentos pode criar um modelo próprio de classificação, baseado em outras características, que seja mais adequado às suas estratégias.

Um modelo proprietário pode ter muito mais setores e com muito mais detalhamento. Ou pode, até mesmo, agrupar as empresas em categorias que não têm nenhuma relação com a atividade econômica, e sim com algum critério “sabe-se lá qual”…

E esses modelos proprietários de classificação, por serem, frequentemente, “parte integrante” de estratégias de investimento sofisticadas, raramente são divulgados para o público.

São verdadeiros segredos industriais – é como se um fundo ou gestora tivesse sua própria “fórmula da Coca Cola”.

Conclusão

Para análises de base fundamentalista e para a montagem de carteiras de ações, a classificação dessas ações em setores é muito importante, para não dizer “absolutamente imprescindível”.

Os modelos podem variar, mas, como vimos neste artigo, os padrões mais usados no mundo têm bastante semelhança entre si.

Para um investidor um pouco mais sofisticado, esses modelos “pré fabricados” podem não ser adequados, especialmente se estivermos falando da construção de carteiras e portfolios mais elaborados.

Por isso, em alguns casos, pode ser que o investidor sinta a necessidade de criar seu próprio modelo de classificação para suas análises, assim como fazem muitos investidores profissionais e institucionais.

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