25/04/2021 • • por Andre Massaro

A “margem de segurança” no investimento em ações


“Margem de segurança” é um conceito de investimento em ações muito utilizado por adeptos da análise fundamentalista, mas, em particular, por aqueles que seguem abordagem do Value Investing (“investimento em valor”).

É um conceito extremamente intuitivo e simples. Mas, para aqueles investidores que querem se “sofisticar” e aprimorar seus métodos, é importante conhecer, mais aprofundadamente, o conceito de margem de segurança e a sua aplicabilidade.

A origem do conceito de “margem de segurança”

O conceito foi apresentado por Benjamin Graham (considerado o “pai do Value Investing”) em seu livro “O Investidor Inteligente”.

Posteriormente, foi popularizado ainda mais por seus seguidores, como Warren Buffett e Seth Klarman, famoso gestor de investimentos americano que escreveu um livro chamado, simplesmente, de Margin of Safety (“Margem de Segurança” – ainda não traduzido para o Português).

Mercados ineficientes e o “valor intrínseco”

Para entender o conceito de “margem de segurança”, é preciso compreender o que é “valor intrínseco”.

No mundo dos investimentos, existe uma corrente de pensamento que defende a ideia de que os mercados são eficientes e que os preços dos ativos financeiros estão, sempre, refletindo os seus valores.

Para esses, uma ação (ou outro ativo financeiro) “vale aquilo que custa”. Nada a mais e nada a menos.

Porém, um outro grupo (grande e representativo) de investidores parte do princípio de que os mercados NÃO SÃO eficientes e, por conta dessa ineficiência, é possível (em tese) obter algum tipo de “vantagem” em relação aos demais investidores.

Os adeptos da análise fundamentalista assumem que os mercados são INEFICIENTES e que, por conta disso, “preço” e “valor” nem sempre coincidirão. Eles poderão (e isso frequentemente acontece) se “descolar” um do outro.

Assim, o tal “valor intrínseco” seria o “valor real” daquele ativo, que não necessariamente está refletido no preço.

Valor intrínseco e “pechinchas” do mercado

Em um mercado eficiente, as “pechinchas” não deveriam existir. Afinal, se “preço é igual a valor”, um artigo qualquer não pode custar menos do que ele vale.

Em um mercado eficiente, se algo está barato, é porque vale pouco…

Porém, sabemos que “pechinchas” existem.

Por exemplo, imagine que você queira comprar um carro usado. Você faz uma pesquisa e encontra o modelo de carro que você quer, em condições aparentemente boas e 10% abaixo da tabela FIPE (que é a referência de “valor” para carros que usamos no Brasil).

Isso é uma “pechincha”, pois é algo cujo preço está abaixo do valor. E essas situações só ocorrem por conta de alguma “ineficiência”.

No exemplo do carro, a tal “ineficiência” poderia ser uma situação financeira adversa do dono do carro, que faz com que ele queira vender “a preço de banana”, para fazer caixa rapidamente.

Se não houvesse algum tipo de fricção (uma “ineficiência”), JAMAIS o dono do carro venderia mais barato que a referência de valor.

Ninguém vende as coisas mais baratas do que elas valem apenas por ser “bonzinho”…

E, no mercado financeiro, por circunstâncias diversas, ações e outros títulos podem ficar com seus preços abaixo daquilo que, efetivamente, valem.

Passam a ser (especialmente aos olhos da turma do Value Investing) uma pechincha.

Como se define o valor intrínseco

O processo de se definir o valor de um ativo financeiro se chama valuation.

Aqui no site, tem um artigo introdutório sobre valuationaltamente recomendado que você leia se não tem intimidade com o termo). Mas já adianto que existem inúmeras formas de se fazer o tal valuation.

Avaliação de empresas e de ativos financeiros não é, definitivamente, uma ciência exata.

Mas cada analista ou investidor usa o método de valuation de sua preferência para determinar qual é o valor intrínseco (que é o “valor real”, não necessariamente refletido pelo preço) e, enfim, comparar com o preço.

Entra em cena a tal “margem de segurança”

O que um analista ou investidor busca, ao fazer o valuation, é identificar ações cujos preços estejam ABAIXO de seus valores intrínsecos.

É o mesmo espírito de tentar encontrar o carro usado em bom estado abaixo da tabela FIPE…

Porém, o QUÃO ABAIXO do valor intrínseco o preço deve estar para que aquele ativo seja considerado uma “pechincha”?

Um dos GRANDES problemas dos métodos de valuation é que eles são subjetivos e, frequentemente, erram. Por isso, o analista ou investidor quer colocar uma “gordura” para o caso de ter errado em sua avaliação.

Vamos imaginar, hipoteticamente, que um analista fez o valuation de uma ação pelo método de sua preferência e observou que o preço está 5% abaixo do valor intrínseco.

A rigor, seria uma situação clara de “compra” e 5% seria um upside razoável (especialmente se ocorrer no curto prazo). Só que o valuation é muito subjetivo, sujeito a erros e esses 5% de desconto podem ser, no fim das contas, uma ilusão…

Então, o analista ou investidor vai querer (na maioria das vezes) uma margem mais ampla entre valor intrínseco e preço, para ter uma folga (ou “gordura”, como me referi anteriormente) caso a avaliação esteja errada.

Isso é a tal “margem de segurança

Margem de segurança e gerenciamento de riscos

A margem de segurança se torna, então, uma ferramenta de gerenciamento de riscos nas mãos dos adeptos do Value Investing.

Uma margem de segurança ampla dá mais segurança (daí o nome…) de que aquele ativo é, de fato, uma “pechincha” (e não, simplesmente, algo que está “barato” – mas que pode ser uma grande porcaria…).

E, se ele está com seu preço SIGNIFICATIVAMENTE abaixo do valor intrínseco, presume-se que a chance de que os preços caiam ainda mais são remotas.

Então, uma margem de segurança ampla (que é, efetivamente, um grande desconto), representa uma chance maior de que o preço daquele ativo vá se valorizar, de forma a se “encontrar” com seu valor intrínseco.

Como se calcula a margem de segurança

A definição da margem de segurança é um daqueles “segredos bem guardados” por investidores, gestores e analistas de sucesso.

Cada um define qual é a margem de segurança adequada para si e essa definição leva em conta, naturalmente, o perfil de risco de cada um. Um investidor mais conservador pode se sentir mais confortável com margens de segurança maiores (e essas oportunidades podem ser raras), enquanto os mais agressivos podem tolerar margens menores, mas têm mais oportunidades e com mais frequência.

Uma forma comum de se calcular a margem de segurança é com o uso de indicadores fundamentalistas.

Por exemplo, no livro “O Investidor Inteligente”, Benjamin Graham propõe uma formula de valuation baseada no indicador “ganhos por ação” (Earnings Per Share) que, supostamente, já traz a margem de segurança “embutida”.

Porém, esse cálculo já é considerado obsoleto hoje em dia. Analistas e investidores que usam a margem de segurança acabam usando outras fórmulas e outros indicadores, como o Índice Preço/Lucro (P/L).

E uma outra possibilidade (bastante comum) é se definir uma porcentagem fixa de desconto em relação ao valor intrínseco apurado. Por exemplo: 20%.

Uma ação, para ser considerada como COMPRA, precisa estar, pelo menos, 20% abaixo de seu valor intrínseco.

Conclusão

Como foi dito no começo do artigo, o conceito de margem de segurança é extremamente simples e intuitivo – é o “desconto mínimo aceitável” em relação ao valor.

Porém, no mundo dos investimentos, raras são as coisas verdadeiramente “simples”. Mesmo aqueles conceitos óbvios têm nuances e detalhes que devem ser compreendidos pelos investidores.

E, para os adeptos do value Investing, a margem de segurança é, possivelmente, a mais importante ferramenta de gestão de riscos

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