10/05/2020 • , • por Andre Massaro

Sell in May – A maldição do mês de maio na bolsa


Tem um ditado, em Inglês, muito conhecido no mundo da bolsa de valores: “Sell in May and go away”. Em Português, em tradução livre, seria algo como “venda em maio e caia fora”.

O fenômeno do sell in May é conhecido e foi incorporado ao folclore da bolsa, inclusive aqui no Brasil (onde temos, ainda, grande influência dos Estados Unidos no comportamento de nosso mercado de capitais).

A sazonalidade na bolsa

Antes de entrarmos na questão se o efeito “sell in May” é real, é importante observarmos que o mundo da renda variável é muito mais amplo e diverso do que parece.

Muitos investidores (e inclusive alguns profissionais) têm a visão de que o mundo das ações e ativos de renda variável se resume a “análise técnica” e “análise fundamentalista”. Porém, existem muitas outras “escolas de análise” alternativas.

Uma dessas escolas de análise (não tão popular) é a que tenta identificar e explorar sazonalidades e ciclos econômicos. O “sell in May and go away” nada mais é que um padrão sazonal que foi identificado e que alguns investidores tentam explorar.

Um outro padrão sazonal muito conhecido é o famoso “Rally de Natal”, que, supostamente, ocorre no começo do ano.

A origem do “sell in May

A origem da frase vem da Inglaterra, e a versão “completa” dela é “Sell in May and go away, and come on back on St Leger’s Day”, sendo que o tal “St Leger’s Day” (escreve-se assim mesmo, sem ponto depois do “St”) é um famoso festival que acontece em setembro, na Inglaterra, que tem uma tradicional corrida de cavalos como atração principal.

Aparentemente, a frase veio da aristocracia inglesa, que “se mandava” de Londres no verão (indo para lugares mais agradáveis), só retornando em setembro para o dito festival.

Os americanos se apossaram da frase e a incorporaram no folclore da bolsa. A explicação “racional” por trás da frase (e do fenômeno que ela descreve) é que, no verão do hemisfério norte, talvez as pessoas estejam menos preocupadas com as bolsas e os volumes caem, o que leva a um desempenho pior das ações nesse período.
Inclusive, nos EUA, alguns se referem ao fenômeno por outro nome: “Indicador do Halloween”.

O “sell in May” funciona?

No mercado americano, aparentemente, funcionou por um tempo. O estudo mais famoso sobre esse fenômeno se chama “The Halloween Indicator, ‘Sell in May and Go Away’: Another Puzzle”, de Ben Jacobsen e Sven Bouman.

O estudo (que é, originalmente, de 2002) mostra que, dos anos 50 até próximo de sua data de publicação, o efeito foi observado nos EUA (particularmente no índice Dow Jones) e em alguns outros mercados, especialmente na Europa.

Porém, estudos e simulações mais recentes, feitas após a publicação dessa pesquisa, indicam que o padrão não vem se revelando confiável desde então.

Se a hipótese racional do fenômeno estiver correta (de que os agentes do mercado financeiro “vão passear” no verão e liquidam suas posições por conta disso), então, é possível argumentar que o crescente grau de automatização e “robotização” do mercado financeiro pode estar “desmanchando” esses padrões. Afinal, robôs e algoritmos não saem de férias e não dão muita bola para o verão…

Funciona no Brasil?

Apesar da forte influência dos mercados desenvolvidos na bolsa brasileira, o fenômeno não parece se repetir aqui (pelo menos, não de forma muito regular).

É aquela coisa do “às vezes acontece, às vezes não acontece”. Dessa forma, não é razoável dizer que há um “padrão”. Pelo contrário, aqui no Brasil o meio do ano (especificamente o mês de julho” costuma ser um período de bastante animação no mercado.

Conclusão

Nos EUA e nas economias desenvolvidas do hemisfério norte, o “sell in May” já funcionou e poderia ter sido uma estratégia vencedora.

Porém, nos últimos anos não se observa mais o fenômeno com regularidade. Se não há regularidade, é porque é aleatório. E, se o fenômeno é aleatório, não dá para criar estratégias baseadas nele.

Ciclos econômicos e sazonalidades são uma coisa real, não dá para negar. Mas, com o crescente avanço tecnológico, os padrões e ineficiências do mercado vêm sendo identificados e explorados de forma cada vez mais rápida.

E, quando todo mundo começa a explorar um padrão, ele “para de funcionar” (afinal, se todo mundo vender em maio, quem é que vai comprar).

Isso, inclusive, pode ser uma possível explicação para essa “perda de efetividade” do padrão nos últimos anos.

    Quer se manter atualizado?

    Assine minha newsletter e fique sabendo, em primeira mão, sobre meus artigos e vídeos. E receba, ainda, conteúdos EXCLUSIVOS.

    Leia também:

    Comente