02/05/2019 • • por Andre Massaro

Slippage – O que é este inimigo do trader?


O slippage é um “custo escondido” nas operações financeiras em bolsa. Quem é trader (e opera com alguma frequência)muito provavelmente já se deparou com o slippage em algum momento.

O que é slippage?

Casca de banana, representando o slippage ("escorregada") que afeta operações financeiras
Slippage – ou “escorregada” em Inglês

Slippage é um termo em Inglês que, traduzido de forma literal para o Português, seria uma “escorregada”. Usa-se o termo para designar uma situação em que o investidor (ou trader) faz uma operação financeira, mas não consegue executar exatamente naquele preço que pretendia. Uma compra, então, acaba saindo mais cara do que o planejado (e o mesmo ocorre, de forma análoga, com uma venda).

Para entender, de forma mais clara, como funciona o slippage, é importante saber como funciona o livro de ofertas na bolsa de valores.

Slippage e o livro de ofertas

O livro de ofertas (também referido como book ou “pedra”) é onde ficam registradas as ordens de compra e venda de um determinado ativo financeiro. É possível ver o livro de ofertas de qualquer ativo negociado em bolsa no seu homebroker ou na sua plataforma.

E aqui é importante ressaltar “ativos negociados em bolsa”, pois ativos de balcão, como forex (moedas estrangeiras) e CFDs (Contracts For Difference) não têm livro de ofertas. Esses ativos têm um spread de compra e venda que pode variar (na prática, representam um custo não planejado que equivale ao slippage), mas eles não sofrem, tecnicamente falando, com slippage.

Como funciona o livro de ofertas

Na grande maioria das bolsas do mundo, as ordens (de compra e venda) são distribuídas no livro de ofertas por dois critérios: valor e chegada.

Na coluna das ordens de compra (à esquerda), as primeiras ordens “da fila” são aquelas que, respectivamente, são de preço mais alto e foram enviadas antes. Já na coluna de vendas (à direita) é o oposto: As ordens que estão no início são as mais baratas. Quando há um “encontro” de preços, ocorre uma transação e isso forma o preço de mercado.

Essa é a dinâmica das negociações em bolsa e uma representação do livro de ofertas pode ser vista abaixo.

Representação do livro de ofertas da bolsa de valores
O livro de ofertas de um ativo financeiro hipotético (YYYY)

Se você quiser fazer uma venda, o pré-requisito é, obviamente, que exista um comprador… Para vender, uma possibilidade é colocar a sua ordem de venda pelo mesmo preço de uma oferta de compra já existente. Aí, “sai negócio”.

Se o preço for acima, a ordem fica no livro de ofertas pendente. Se as ofertas de compra, em algum momento, “chegarem” no seu preço, a venda será executada.

Cada “linha” do livro de ofertas representa várias ordens naquele nível de preços. Quando uma ordem “aciona” aquele preço, ela executa as primeiras da fila até as ofertas se esgotarem. Se a ordem esgotar a oferta, aquela parte que não foi executada fica pendente, à espera de um novo comprador.

Observe, inclusive, que existem linhas de preço que podem não ter nenhuma oferta.

Traders e investidores que operam de forma mais especulativa, muitas vezes, não podem esperar para executar uma ordem (sob o risco de que o mercado se mova rapidamente numa direção desfavorável). Então, frequentemente, colocam ordens com preços significativamente mais baixos (para venda) ou mais altos (para compras) que aqueles que estão no livro de ofertas, para tentar garantir a execução.

No caso do livro de ofertas hipotético da ilustração, imagine que um trader tem 1.000 unidades do ativo YYYY e quer vender naquele instante. Ele pode colocar a sua ordem a, por exemplo, 20 reais (para garantir a execução). Ele vai vender 500 a 25,72 (pois são as primeiras da fila) e mais 500 da fila seguinte (a 25,71). A intenção do trader era vender tudo a 25,72, mas, como não havia oferta em quantidade suficiente, ele “escorregou” para a linha seguinte (de preço mais baixo).

O valor médio da venda ficou, desta forma, menor do que o trader gostaria. Essa diferença entre o que “ele gostaria” e o que “ele conseguiu” é o slippage.

Por que o slippage acontece?

O slippage acontece, naturalmente, porque o mercado tem limites. A quantidade de compradores e vendedores de determinado ativo financeiro é finita.

Porém, o slippage fica acentuado em ativos de baixa liquidez ou quando o investidor opera com volumes de dinheiro muito grandes.

Inclusive, há um tipo de risco chamado “risco de liquidez” (clique no link para conhecer melhor esse risco) que define, entre outras coisas, essa situação em que não tem um volume adequado de ofertas no livro – é causa efetiva do slippage.

Um fundo de investimentos de bilhões de reais, por exemplo, não pode vender uma grande posição em determinada ação “na louca” (por mais líquida que seja aquela ação). Isso geraria um slippage enorme, que traria grandes perdas aos investidores daquele fundo.

Já um trader que opera com frequência elevada (um day trader, por exemplo) pode acabar enfrentando vários momentos de liquidez “abaixo do ideal” – e não pode se dar ao luxo de esperar para executar as ordens no preço que gostaria.

Como (tentar) evitar o slippage

O slippage é inevitável, pois é um efeito da própria dinâmica do mercado. Porém, existem três coisas que um investidor ou trader pode fazer para minimar os efeitos do slippage.

Operar ativos de grande liquidez

O slippage é, provavelmente, o principal motivo pelo qual se recomenda que operações especulativas (trading) seja feitas com ativos de alta liquidez.

Operar volumes pequenos de dinheiro

Uma coisa que muitos traders observam é que há um “retorno decrescente”,à medida que se aumenta o volume de dinheiro investido. Quando maior o patrimônio investido, mais se sofre com as ineficiências e “fricções” do mercado.

É por isso que um trader individual, com algumas dezenas de milhares de reais (e que saiba o que está fazendo), consegue ter retornos que um gestor profissional de fundos de investimento não consegue.

Operar com baixa frequência

O slippage é como se fosse um “pedágio” que se paga cada vez que se opera. Por isso, quanto menos se operar, menor será o custo total com slippage.

Um day trader (que opera com alta frequência) pode criar um sistema ou método que, nas simulações, é extremamente lucrativo. Porém, ao ser colocado para funcionar no mundo real, ele é dizimado pelo slippage.

Metodologias baseadas em prazos operacionais mais longos, como o swing trading (Leia aqui para saber mais: “Swing trading” é melhor para iniciantes), sofrem bem menos com o slippage.

Conclusão

O slippage é um custo frequentemente negligenciado. A maioria dos investidores e traders olha apenas para a corretagem e os impostos, pois são custos explícitos. O slippage vira um custo invisível (assim como a inflação).

Só que, dependendo dos volumes e da frequência com que se opera, o slipagge pode, facilmente, virar o MAIOR custo das operações financeiras, fazendo com que corretagem e impostos pareçam coisas “menores”.

E, para finalizar, se você quiser investir seu dinheiro em ações com base em uma metodologia fundamentalista de base quantitativa (e com baixa incidência de slippage), conheça o meu curso “ValueMaster – Formação de Investidores em Ações” clicando abaixo:

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