26/11/2020 • , • por Andre Massaro

Um comparativo entre Value Investing e Trend Following


O Value Investing e o Trend Following são duas estratégias de bases completamente diferentes, porém, com muitas coisas em comum.

Começando pelo começo: O Value Investing é uma estratégia de investimentos baseada na Análise Fundamentalista, enquanto o Trend Following tem suas raízes na Análise Técnica (apesar de alguns adeptos do Trend Following rejeitarem o rótulo de analistas técnicos e preferirem ser vistos como adeptos de “modelos quantitativos de base teórica”).

Um resumo do Value Investing

Caso você não esteja familiarizado com os conceitos básicos do Value Investing, há um artigo detalhado sobre esta estratégia aqui no site, que você pode ler clicando no link abaixo:

Leia aqui: Introdução ao Value Investing

Mas, de forma resumida, o Value Investing é uma estratégia de base fundamentalista, que parte do princípio de que os mercados são ineficientes e que, em uma ação, os preços e os valores tendem a se “descolar” em algumas ocasiões, como resultado da própria irracionalidade dos agentes do mercado.

Em um mercado eficiente, o preço e o valor sempre deveriam ser iguais, mas não é o que acontece…

O adepto do Value Investing procura, então, determinar qual é o valor intrínseco de uma empresa (através de um processo chamado valuation) e fica monitorando o mercado, em busca de oportunidades em que os preços de uma ação estejam significativamente abaixo de seu valor.

O nome “value investing” (que poderia ser traduzido, de forma livre, como “investimento em valor”) vem dessa ideia de tentar adquirir algo de valor alto por um preço baixo, na pressuposição de que, em algum momento, o preço da ação vai passar a refletir seu real valor.

Um resumo do Trend Following

Da mesma forma que no caso do Value Investing, se você não estiver totalmente familiarizado como Trend Following, há um artigo que explica os principais conceitos.

Leia aqui: O que é Trend Following

Mas, em poucas palavras, o Trend Following é uma estratégia baseada em conceitos de análise técnica, que parte da pressuposição de que os ativos financeiros se movem conforme “tendências” (daí o nome) e que ninguém sabe, em princípio, qual é a duração e a amplitude dessas tendências.

Então, o adepto do Trend Following procura identificar uma tendência já existente (de preferência que tenha se formado recentemente), se “posiciona” a favor da tendência )na compra ou na venda) e procura “surfar” aquela tendência até o momento em que ela se descaracterizar.

Um típico adepto do Trend Following (chamado de “trend follower”) não sai de sua posição por sua própria iniciativa. Ele procura deixar que o próprio mercado “o tire” de sua posição e, para que isso aconteça, ele pode usar ordens stop móveis (também chamadas de trailing stops) ou, simplesmente, aguardar algum sinal técnico predeterminado que indique que aquela tendência se desconfigurou.

Infográfico demonstrando as principais características do value investing e do trend following

O que Value Investing e Trend Following têm em comum

Apesar de terem bases conceituais totalmente opostas (uma é de base fundamentalista e outra técnica), as duas estratégias têm muito em comum, a seguir:

Ambas são direcionais

Estratégias direcionais são aquelas que se apoiam na expectativa de que o ativo financeiro vá “andar” em alguma direção (para cima ou para baixo).
No caso do Value Investing, o investidor espera que o ativo (a ação, no caso) ande “para cima”, em direção ao valor intrínseco (pois, em teoria, ele comprou por um preço abaixo do valor).

Já o adepto do trend following espera que o ativo selecionado vá “continuar andando” na direção à tendência que ele identificou, seja para cima ou para baixo. O trend follower presume que há um “movimento inercial” e que um ativo financeiro tende a seguir na mesma direção, se nada mudar essa tendência.

É importante lembrar que nem todas as estratégias de investimento são direcionais. Estratégias como “long & short” e algumas estratégias com derivativos (especialmente opções) não dependem de movimentações em alguma direção específica para serem lucrativas.

Ambas assumem que os mercados são ineficientes

As duas estratégias buscam retornos acima daquilo que o mercado proporciona naturalmente (ambas buscam aquilo que, no jargão das finanças, se chama de “alfa”).

Os ganhos acima do mercado só são possíveis quando os mercados são ineficientes. E essa ineficiência é resultado de assimetrias de informação (alguns agentes econômicos sabem mais que os outros) e da própria irracionalidade desses agentes, que tomam decisões “malucas” guiadas por fatores emocionais e vieses cognitivos.

O adepto do Value Investing acredita que os preços ficam abaixo ou acima dos valores intrínsecos por causa de fatores emocionais e de irracionalidade (pânico e euforia dos investidores).

Já o adepto do Trend Following acredita que os movimentos acentuados em forma de tendência são motivados, majoritariamente, pelos mesmos fatores (pânico e euforia).

Ambas exigem disciplina

Tanto o Value Investing quanto o Trend Following exigem que o ativo financeiro esteja numa “configuração correta”, e essa configuração não costuma acontecer com grande frequência.

A tal “configuração correta”, no caso do Value Investing, é quando o preço está “significativamente abaixo do valor”. O “significativamente” varia conforme o entendimento do investidor, mas costuma ser algo na faixa de 20% a 30% abaixo (é aquilo que, no jargão do value investing, se chama de “margem de segurança”).

Já no trend following, a tal “configuração” é representada pela formação de uma tendência, confirmada por algum indicador técnico (ou conjunto de indicadores).

Uma operação de value investing ou trend following NÃO DEVE ser iniciada se essa configuração (ou setup, como dizem alguns) não estiver presente.

Se posicionar em um ativo com uma configuração “não ideal” pode representar um grande risco.

Ambas exigem paciência

Nos dois casos, essa “configuração correta” não ocorre com grande frequência.

No caso do Value Investing, essa “baixa frequência” é particularmente notável, pois a maioria das ações tem alguma correlação entre si. Então, no Value Investing, essa configuração costuma ocorrer durante (ou imediatamente após) grandes quedas no mercado como um todo, em que investidores em pânico estão com aquela sensação de que “o mundo estão acabando” e estão vendendo ações de alto valor por qualquer preço.

O adepto do Value Investing é o equivalente, no mundo das finanças, daquele sujeito que “só compra em liquidação”.

No Trend Following, o que se busca são os momentos iniciais de grandes tendências, que possam ser “surfadas” por um longo tempo. E esses momentos de início de tendência não são muito frequentes.

Então, tanto os adeptos do Value Investing quanto do Trend Following passam grande parte do tempo, simplesmente, “não fazendo nada”. Apenas esperando pelo momento em que as condições ideais se façam presentes.

Ambas exigem coragem e disposição de ir contra a manada

Os adeptos do Value Investing e do Trend Following entram e saem de suas posições nos “momentos certos”, conforme os parâmetros e configurações de suas técnicas.

Eles não entram e saem de suas posições fora dessas “condições ideais”, em nenhuma hipótese. Por isso, para ser value investor ou trend follower é preciso MUITA disciplina.

As duas estratégias são bastante fáceis de entender, mas muito difíceis de aplicar, pois exigem um nível de disciplina e respeito pelas próprias regras que está totalmente fora da realidade de, pelo menos, 90% dos investidores e traders que existem por aí.

A maioria dos investidores e traders faz o exato oposto daquilo que se deve fazer no Value Investing e no Trend Following: eles compram no auge da euforia (quando o mercado está “na moda”) e vendem no auge do pânico (quando todo mundo quer “fugir” do mercado).

Tanto o Value Investing quanto o Trend Following exigem que a pessoa vá CONTRA o chamado “efeito manada”.

O adepto do Value Investing compra no pânico (quando tudo mundo está saindo do mercado) e, quando o mercado volta a subir e fica “na moda”, ele fica cético e não compra mais nada”.

O adepto do Trend Following espera a formação de grandes tendências e, usualmente, essas grandes tendências começam quando outras tendências, em sentido inverso, terminam. E este é aquele momento em que investidores e traders típicos ficam desconfiados, receosos se aquela nova tendência, que está se formando, é “pra valer”.

E existem muitos adeptos “fajutos” do Value Investing e do Trend Following, que “dizem que seguem” essas estratégias. Só que, quando o mercado está eufórico, eles ficam frustrados que não conseguem fazer nenhuma operação (afinal, aquela “configuração ideal” já não existe mais) e ficam “forçando a barra”, flexibilizando as próprias regras, para poderem entrar no mercado de qualquer jeito e não terem aquela sensação de que “estão perdendo o melhor da festa”.

E poucas coisas traduzem melhor o efeito manada do que esse desconforto de estar “de fora da festa”.

Um adepto “de verdade” do Value Investing e do Trend Following precisa ser mais forte que isso.

Então, para finalizar, observe que as duas estratégias, apesar de conceitualmente diferentes, têm muito mais em comum do que parece.

Ambas são simples de entender, difíceis de aplicar e exigem um perfil de investidor altamente regrado, disciplinado e imune à euforia do mercado e ao efeito manada.

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