21/06/2020 • • por Andre Massaro

O que é uma operação long & short


O mercado financeiro é cheio de jargões de origem inglesa (anglófonos). E um desses jargões, muito comuns entre traders e investidores de perfil mais especulativo, é a chamada operação “long & short”.

Long & short – Conceitos básicos

Para entender esse tipo de operação, é preciso, inicialmente, entender seus componentes.

Uma operação long & short é uma operação composta pela compra e pela venda, simultaneamente, de ativos financeiros diferentes em volumes similares. E quero avisar desde já: Se você não tem grande familiaridade com a “bruxaria” das finanças, esses jargões e essas descrições podem parecer um pouco intimidadoras. Mas confie em mim! Siga em frente e você vai ver que, em algum momento, tudo vai fazer sentido (eu espero!).

Então, atenção aos termos-chave aqui: “Compra e venda simultânea de ativos financeiros” e “volumes financeiros similares”.

Você vai comprar o ativo “A” num volume de 100 mil reais e vai vender, simultaneamente, o ativo “B” pelo valor mais próximo possível de 100 mil reais (por serem ativos diferentes, com preços diferentes, nem sempre é possível fazer a operação com o mesmo EXATO volume financeiro nas duas “pontas”).

O que é “long” e o que é “short”

Os dois componentes dessa operação são uma compra e uma venda.

No jargão das finanças, uma posição comprada é chamada de posição “long”. Posição “comprada” é quando você compra algo (no caso, um ativo financeiro) na expectativa de que vai haver uma valorização. Ou seja, a compra (de uma ação, de uma moeda, de uma commodity ou qualquer outra coisa) é, no fim das contas, uma aposta de que os preços irão para cima. Isso é o que a maioria dos investidores e traders faz.

O outro componente é uma venda descoberta. A venda descoberta é um conceito que pode ser um pouco “obscuro”, especialmente para quem está começando.

Se é o seu caso, eu vou deixar, aqui, duas sugestões de leitura (de artigos, aqui do site) para você se familiarizar com o conceito de venda descoberta.

Mas, enfim, no jargão, a venda descoberta é chamada de “short”, e quem faz venda descoberta é chamado de short seller.

A venda descoberta é, essencialmente, uma “compra invertida”. Toda operação com ativos financeiros tem, como objetivo, comprar algo barato e vender caro. O que muda é a sequência. Na operação long, a compra acontece antes da venda. Na operação short, a venda acontece antes da compra.

O short seller vende ANTES (vende algo que não tem – daí o nome “venda descoberta”) e compra DEPOIS. A expectativa dele é que ele venda caro e compre mais barato, em algum momento do futuro.

Quando você compra (long) e vende (short), simultaneamente, você tem o tal “long & short”.

Por que a operação tem este nome?

A resposta (óbvia) foi dada no parágrafo anterior: Você juntou uma operação long e uma operação short em um único “pacote”… Vira um “long & short”.

Mas, uma curiosidade interessante é que, apesar desse nome em Inglês, fora do Brasil pouca gente conhece essa operação por esse nome – mesmo em países anglófonos, como os Estados Unidos e a Inglaterra.

Lá fora, esse tipo de operação é mais conhecido pelo nome pairs trading (“negociação de pares”, em tradução livre).

Mas, também, ela pode ser referida pelo nome mais formal “arbitragem estatística”. “Arbitragem estatística” é uma categoria mais ampla de operações, mas alguns usam o nome para se referir, especificamente, ao long & short (ou pairs trading).

Por que “arbitragem estatística”?

Aqui, é a hora de mandar mais uma mensagem para aqueles que ainda não são “faixa preta” nas finanças: A operação long & short não é um tipo de operação muito intuitiva. Por isso, não se sinta mal se estiver “boiando” e achar que precisa dar um “passo para trás”.

O long & short é um tipo de operação de arbitragem (é, especificamente, uma arbitragem estatística). A arbitragem é um tipo de operação que tenta explorar algum distúrbio ou anomalia na relação de preços de dois ativos financeiros.

Se você nunca ouviu falar em arbitragem, leia este artigo aqui: O que é arbitragem (em Economia e Finanças).

Todos os pares possíveis de ativos financeiros (daí vem o nome pairs, usado fora do Brasil) têm alguma relação estatística entre si. Essa relação é determinada por uma medida chamada CORRELAÇÃO.

O que é correlação

A correlação é uma medida de dispersão entre duas variáveis (os “pares”), que é representada numa escala que vai de “um” (1) a “menos um” (-1).

Uma correlação de 1 indica uma correlação perfeita entre os dois pares. Onde um vai, o outro vai atrás. Se um sobe, o outro sobe “igualzinho”.

Uma correlação de -1 indica uma correlação inversa entre os dois pares. Ou seja, um faz o oposto do outro. Se um sobe, o outro cai, na mesma proporção.

No ponto ZERO dessa escala, temos uma “descorrelação”. Isso significa que os dois pares “não têm nada a ver um com o outro”. Não há relação entre eles.

Então, a correlação entre dois pares está em algum ponto nessa escala, que vai de -1 a 1.
Raramente, dois ativos financeiros não idênticos terão uma correlação de 1 (uma correlação positiva perfeita). Mas muitos pares de ativos terão correlações muito fortes e muito estáveis ao longo do tempo.

Por exemplo, dois ativos podem ter uma correlação positiva de 0,85 (é uma boa correlação), que vem se mantendo nesse nível, com pequenos desvios ocasionais e temporários, nos últimos cinco anos.

Se, neste par específico de ativos financeiros, por alguma razão qualquer, a correlação cai para 0,60, a gente pode pressupor que é um desvio temporário (uma típica “dor de barriga” no mercado financeiro) e que, com o tempo, essa correlação tenderá voltar ao seu nível histórico de 0,85.

E é ESTA movimentação que o trader de long & short quer explorar. Observe, então, que o trader não está preocupado com o preço, e sim com o quanto os ativos se afastam e se aproximam um do outro. O trader de long & short não opera os ativos – ele opera a correlação.

Daí o nome “arbitragem estatística”.

Long & short – Uma operação não direcional

O típico trader de long & short tem uma única preocupação na vida: identificar pares de ativos com forte correlação e monitorar esses pares, buscando situações em que eles se “afastam” (esse afastamento é observado como uma diminuição na correlação).

Assumindo que a correlação seja, de fato, “forte”, esse afastamento será temporário e os dois ativos irão se “aproximar” de novo. Ou o ativo “A” cai ou o ativo “B” sobe (é o que se espera… com isso, a correlação histórica é restabelecida).

É por isso que o trader faz, simultaneamente, a compra de um e a venda de outro. Ele vende aquele que subiu mais (ou caiu menos, conforme o caso) e compra o outro par. Se tudo der certo (e a correlação de restabelecer), ou o ativo comprado sobe ou o vendido cai. Nos dois casos, é lucro para o trader.

Por isso, é IRRELEVANTE, para o trader, se aqueles ativos financeiros estão subindo, caindo, ou mesmo não indo para lugar algum. Tudo o que ele precisa é que eles “voltem a se encontrar”, naquele nível histórico de correlação.

É por isso que se fala que o long & short é uma operação “não direcional”, pois ela não depende de altas ou baixas. Para o trader, “tanto faz” se os ativos caírem ou subirem, contanto que eles convirjam e a correlação suba de novo.

É uma operação “neutra” (market neutral, no jargão em Inglês), que não tem relação com a movimentação do mercado.

Long & short – uma operação empírica

Uma forma de classificar as estratégias de investimento é em estratégias teóricas e empíricas. As estratégias teóricas são baseadas em alguma hipótese. Já as empíricas são aquelas baseadas em algo que é observado, mas que não existe, necessariamente, uma explicação para aquilo.

A arbitragem estatística é uma operação essencialmente empírica, pois ela parte da OBSERVAÇÃO de que dois ativos têm uma forte correlação entre si.

Em alguns casos, é possível explicar, com hipóteses, as razões dessa correlação. Se pegarmos pares de ações de segmentos e características similares, como Mercedes e BMW, Petrobrás e Chevron, Pepsi e Coca-Cola, Itaú e Bradesco entre outros, é possível explicar a correlação, até mesmo de forma intuitiva.

Porém, frequentemente, observamos essas correlações entre pares que não são nada óbvios e que, aparentemente, não têm “nada a ver” um com o outro.

Simplesmente, não há explicação… É algo que você observa, é real, está ali… Vai aproveitar a oportunidade ou não?

Esse é um daqueles momentos em que os traders mais experientes falam: “Você quer ter razão ou quer ganhar dinheiro?”. Eventualmente, você nunca vai conseguir formular uma hipótese do porquê daquela correlação – mas isso não significa que a correlação não exista.

“Você quer ter razão ou quer ganhar dinheiro?”

A correlação é empírica: Ela é real e existe, mas não tem uma hipótese que a explique (e isso sequer é algo importante para quem está operando).

Vantagens do long & short

A principal vantagem do long & short é ser uma operação (ao menos na teoria) de “baixo risco”.

Se a correlação entre os ativos for, de fato, “sólida”, eles convergirão novamente e o trader terá seu ganho. Pode levar mais tempo ou menos tempo, mas, se, de fato, a correlação for forte, os pares “retornarão” ao seu nível padrão de correlação.

A outra (grande) vantagem desse tipo de operações é livrar o trader da angústia (que, na maioria das vezes, é futilidade) de ter que “adivinhar” para que lado o mercado vai andar.

Operar estratégias não-direcionais é uma coisa libertadora (só quem já fez sabe…)

Desvantagens do long & short

O long & short é daquelas estratégias que, na teoria, parecem perfeitas… Só que existem inúmeras armadilhas e “pegadinhas”.

A primeira delas é que não é fácil de operar. É preciso identificar pares adequados e com correlações bem consolidadas. Isso implica em estar, constantemente, “varrendo” o mercado em busca dessas oportunidades que, muitas vezes, podem durar segundos.

Por ser uma operação de baixo risco, todos os traders, os investidores institucionais e a torcida do Corinthians inteira estão o tempo todo monitorando o mercado com robôs e sistemas sofisticados. E, quando uma oportunidade “das boas” surge, vira uma corrida desenfreada.

É muito difícil (para não dizer “impossível”) operar long & short, de uma forma minimamente adequada, sem robôs e trading systems automatizados.

Outra desvantagem é que os retornos das operações não costumam ser muito altos (baixo risco – baixo retorno, lembra?). Então, não é o tipo de operação que costuma deixar alguém milionário…

A outra (grande) desvantagem é que a correlação pode, simplesmente, deixar de existir em aviso prévio… Aí, aquilo que era para ser uma operação de baixo risco pode acabar virando um prejuízo considerável. Ou, então, a correlação não deixa de existir, mas ela pode levar tanto tempo para se restabelecer que o trader acaba sendo obrigado a encerrar suas posições no prejuízo.

Conclusão

O long & short é uma operação de arbitragem. Operações de arbitragem têm, como característica geral, serem de baixo risco, mas de difícil execução.

A razão é bastante simples de imaginar: Se uma operação é de baixo risco, todo mundo (e a torcida do Corinthians) quer fazer… Se todo mundo quer fazer, as oportunidades ficam escassas e os ganhos ficam minguados.

Para escapar desses ganhos minguados e falta de oportunidades, muitos traders acabam “forçando a barra” e operando pares com correlações não tão fortes (onde não tem tanta concorrência de robôs e outros traders). Aí, o risco vai para as alturas.

É uma operação muito versátil (pode ser feita com ações, com derivativos, com forex, com ETFs, com títulos de renda fixa… basicamente com tudo o que existe no mercado financeiro) e, novamente, na teoria, muito segura e vantajosa.

Porém, na vida real, eu conheço poucas pessoas que conseguem ter sucesso com esse tipo de operação, pelos motivos descritos neste artigo.

Mas, se você é uma pessoa que busca um tipo de operação que não dependa de direção de mercado e, mais importante, tenha intimidade com ferramentas tecnológicas para monitorar o mercado e executar as operações, o long & short pode ser o caminho ideal para você.

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