10/06/2020 • • por Andre Massaro

O que é um Trading System


Um trading system é um conjunto de regras (um “sistema”, de fato) que define eventos, ações e parâmetros em operações financeiras de trading ou de investimentos.

Neste artigo, vamos explorar os princípios básicos e as classificações dos trading systems. Mas quero chamar a sua atenção para uma questão “protocolar”: Neste artigo, vou me referir a várias coisas por seus nomes originais em Inglês (começando pelo próprio “trading system” que, em tradução livre, seria algo como “sistema de negociação”).

Sempre que possível, explicarei o significado de cada coisa em Português (e tentarei traduzir). Só que, mesmo aqui no Brasil, os traders e investidores que desenvolvem e utilizam trading systems costumam se referir a essas coisas (que são componentes e características dos sistemas) por seus nomes em Inglês.

Então, se você pretende entender os trading systems (e, quem sabe, desenvolvê-los e utilizá-los), é bom ir se acostumando com isso.

Diagrama em formato de mapa mental, mostrando os principais pontos de um trading system
Mapa mental – O que é um Trading System
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Trading system – Definições gerais

Os trading systems são, então, como foi dito no começo do artigo, um conjunto de regras que define eventos, ações e parâmetros das operações financeiras.

E o que são esses eventos, ações e parâmetros? São tudo aquilo que está associado com a ENTRADA, a SAÍDA e o GERENCIAMENTO de uma operação.

A ENTRADA é o início da operação (ela pode começar com uma compra, uma venda ou as duas coisas simultaneamente – de um ou mais ativos). O trading system define em que circunstâncias essa entrada deve acontecer e, conforme o caso, também faz a execução.

A SAÍDA é, previsivelmente, a “finalização” da operação. As saídas, numa operação de trading, podem ser no lucro (é o que se espera), no prejuízo, totais ou parciais. O trading system define as regras e os parâmetros das saídas e, assim como no caso das entradas, conforme o caso, faz a execução.

O GERENCIAMENTO está associado ao uso do dinheiro e o controle do risco. A parte do gerenciamento é, usualmente, referida pela expressão em Inglês money management (no Brasil, alguns falam “manejo do dinheiro”).

O gerenciamento define QUANTO dinheiro deve ser colocado em uma operação (em Inglês “position sizing”), qual o prejuízo máximo aceitável, qual o lucro esperado e os parâmetros de colocação e movimentação de stop loss (se houver).

Tipos de trading systems quanto à operação

Um trading system é um “sistema”. Mas não é, necessariamente, um sistema de computador. É um sistema no sentido amplo da palavra, que pressupõe regras que devem ser seguidas.

Quanto à execução e gerenciamento das operações, os trading systems podem ser:

Automáticos

Esses são, necessariamente, “softwares”. São programas de computador que executam as regras e estratégias sem intervenção humana.

O trader ou desenvolvedor define os parâmetros e estratégias, faz a programação (em alguma plataforma própria para isso ou desenvolvida por ele) e deixa que a execução aconteça de forma mecânica.

Os trading systems automáticos também são conhecidos como “Algo Trading” (de “algorithmic trading” – ou “trading algorítmico”), ou, simplesmente, “robôs”.

Discricionários

Sistemas discricionários são aqueles que exigem intervenção humana para funcionar. “Discricionário”, para quem não conhece essa expressão, significa algo que dá margem para escolhas e decisões de quem está “tratando do assunto”. É um termo muito usado no mundo jurídico que, neste contexto particular de finanças, também tem aplicação.

Um trading system discricionário pode ou não ser um “software de computador”. Um software de computador que precise ser “pilotado manualmente” ou um monte de regrinhas escritas à mão, em um caderno, podem ser considerados um trading system discricionário.

Híbridos

São sistemas que combinam elementos automáticos e discricionários.
Por exemplo, um sistema cuja entrada é manual e a saída é automática (ou vice-versa).

Tipos de trading systems quanto à estratégia

Um trading system pode funcionar com, basicamente, qualquer tipo de estratégia. Basta que ela seja “programável”.

Tipicamente, as estratégias usadas pelos trading systems passam por algum tipo de validação estatística ou probabilística para ver se “fazem sentido” e conseguem ser lucrativas, com um nível de riscos aceitável. Essa validação estatística é aquilo que se chama, no jargão, de backtesting ou forward testing.

Com relação às estratégias, os trading systems mais comuns são:

Fundamentalistas

Utilizam informações de base fundamentalista, como indicadores financeiros e econômicos diversos.

Sistemas puramente automáticos, que seguem estratégias fundamentalistas, são pouco comuns. Mas, quando um sistema segue esse tipo de abordagem, costuma usar informações de base quantitativa, como indicadores financeiros típicos (os ratios).

Sistemas que usam informações de base qualitativa acabam sendo discricionários ou híbridos.

Técnicos

São sistemas que funcionam baseados em estratégias oriundas da análise técnica.

Sistemas técnicos baseados na interpretação visual de gráficos costumam ser discricionários ou híbridos. Sistemas baseados em indicadores técnicos podem ser, também, automáticos.

Quantitativos teóricos

Sistemas quantitativos teóricos são aqueles sistemas puramente quantitativos que se baseiam em alguma “hipótese de mercado”.

Sistemas “teóricos” podem ser considerados de base técnica ou fundamentalista (pois boa parte dessas hipóteses vêm dessas duas “escolas”), mas alguns autores (e eu me incluo nisso) preferem tratá-los como uma categoria à parte.

O Value Investing, por exemplo, se baseia na hipótese de que ações com baixo preço, em relação ao seu valor intrínseco, tendem a se valorizar.

Na análise técnica, duas hipóteses populares são a de que o mercado se move em tendências e a de que, após grandes movimentações de preços (volatilidade), eles tendem a retornar às suas próprias médias.

Um tipo de estratégia “quantitativa teórica” muito popular, de base técnica, é o trend following.

Quantitativos empíricos

São aqueles sistemas de base quantitativa que não se baseiam em uma hipótese, mas apenas em uma “observação”.

Em uma grande série de dados de ativos financeiros, pode-se observar alguns padrões. Esses padrões não necessariamente têm uma explicação (uma hipótese), mas eles são reais, existem e podem ser explorados.

Um exemplo comum de estratégia quantitativa empírica é a arbitragem estatística (também conhecida pelo nome long & short ou pairs trading). Não há uma hipótese convincente que explique por que dois ativos financeiros que não têm “nada a ver” apresentam algum tipo de correlação histórica… Só que essa correlação é real e pode ser explorada (e, neste caso, por que não explorar?).

Desenvolvimento de trading systems

Quando um sistema é discricionário, ele não necessariamente precisa existir como um “software de computador”. Basta que essas regras existam em algum lugar (nem que seja na cabeça do trader ou investidor).

Já sistemas automáticos ou híbridos precisam “existir”, na forma de dados, códigos e comandos.

Usuários mais avançados, tesourarias e investidores institucionais costumam desenvolver suas próprias plataformas, com base em linguagens de programação disponíveis ao público ou proprietárias.

Usuários mais de “varejo”, ou sem um background técnico, podem usar plataformas prontas, que permitem a programação, execução e validação estatística (backtest) das estratégias. Eu não vou mencionar nenhuma dessas plataformas aqui no artigo, mas, caso você se interesse em conhecê-las, uma rápida busca na internet vai te ajudar.

Inclusive, muitas corretoras disponibilizam (com ou sem custo adicional, conforme o caso), aos seus clientes, essas plataformas mais sofisticadas, que permitem desenvolvimento e automatização de estratégias. Informe-se com sua corretora.

Vantagens e desvantagens dos trading systems

Vantagens

A principal vantagem de um trading system é colocar “rédeas” nas emoções do trader ou investidor. Grande parte dos erros de estratégia e execução nas operações financeiras acontece por fatores emocionais e psicológicos. O trader fica tomado por suas emoções (como medo, ganância ou empolgação) e não consegue executar sua estratégia corretamente.

Outras vantagens importantes é a possibilidade de testar as estratégias antes de aplicá-las no “mundo real” (backtest e forward test) e a velocidade na execução das operações (algumas operações mais complexas são praticamente impossíveis de se executar “na mão”).

Desvantagens

Trading systems não são milagrosos e, como dizem no mundo da tecnologia, garbage in, garbage out (se você programar besteira, vai sair besteira).

A ideia de que você vai fazer um “robô” que vai ficar ganhando dinheiro para você, enquanto você vai para a praia, é completamente ilusória. Trading systems exigem acompanhamento constante durante as operações e exigem muitos testes e simulações quando não estão operando.

Desenvolver e operar trading systems é um trabalho intensivo, sujeito a muitos erros e situações imprevistas. Um erro sistêmico, daqueles que só “aparece” no meio das operações (muito comum, diga-se de passagem), pode custar uma pequena fortuna se não houver supervisão humana para controlá-lo na hora.

Outra desvantagem é o “engessamento” e a falta de flexibilidade, mas esse é o preço que se paga para tentar manter as emoções sob controle.

Conclusão

Os trading systems são excelentes aliados do trader e do investidor, especialmente na gestão do aspecto emocional (que é um dos maiores problemas de quem opera).

Porém, o desenvolvimento de sistemas não é uma coisa exatamente fácil – exige técnica, conhecimento e paciência. Fora que a maioria das estratégias populares (aquelas que vemos em livros e fóruns de discussão) não costumam “parar em pé” quando colocadas para funcionar dentro de um trading system.

Mas, se você é uma pessoa de perfil analítico e tem familiaridade com programação e estatística, os trading systems podem ser sua “tábua de salvação” para conquistar resultados positivos e consistentes no mercado financeiro.

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