12/06/2021 • , , , • por Andre Massaro

O ciclo OODA (ou OODA Loop) para tomada de decisões


O ciclo OODA (ou OODA Loop, em Inglês) é um modelo mental para tomada de decisões em situações dinâmicas e caóticas, onde RAPIDEZ e AGILIDADE são fundamentais.

O ciclo OODA foi criado, originalmente, para um contexto militar (mais especificamente, batalhas aéreas), mas pode ser aplicado para, essencialmente, qualquer área da vida.

É um modelo muito usado em áreas e situações que exijam decisões rápidas e que sejam, potencialmente, de alto risco. Ele pode ser usado nos negócios, nos investimentos (especialmente em operações especulativas de curto prazo, como day trade e swing trade), segurança (física e patrimonial) e até mesmo nos relacionamentos sociais.

O que significa OODA

OODA é uma sigla que junta as iniciais das palavras, em Inglês:

  • Observe
  • Orient
  • Decide
  • Act

Por uma feliz coincidência, as palavras correspondentes, em Português, têm as mesmas iniciais. Então, podemos manter a sigla em seu formato original:

  • Observar
  • Orientar
  • Decidir
  • Agir

Adiante vamos ver, detalhadamente, esses fatores e como eles formam um “ciclo”. Mas, antes, um pouco sobre a história (interessante) desse conceito.

A história do OODA Loop

O conceito foi criado pelo coronel John Richard Boyd, da força aérea americana (USAF).

Foto do Coronel John Boyd, criador do ciclo OODA
Coronel John Boyd, criador do ciclo OODA

John Boyd começou sua carreira militar no final da 2ª Guerra Mundial e foi piloto de caça na Guerra da Coréia.

Logo após a Guerra da Coréia, Boyd se tornou um instrutor militar e foi quando ele apresentou ao mundo o seu modelo OODA.

E aqui que a apresentação de “contexto” se faz necessária:

Uma característica marcante da Guerra da Coréia é que foi a primeira guerra da “era do jato”. Na 2ª Guerra Mundial, exceto por algumas ocasiões no final dos conflitos, os combates aéreos eram travados por aviões com motor a pistão (e hélice), bem mais lentos.

Porém, os aviões a jato da Guerra da Coréia eram, essencialmente, aviões da 2ª Guerra com motores a jato… Radares embarcados e mísseis ainda não eram comuns, e os caças se enfrentavam no famoso “dogfight”, que é o combate de curta distância, com uso de canhões e metralhadoras, que exige muita habilidade e destreza dos pilotos.

Ou seja, os aviões ainda se enfrentavam “cara a cara”, como na 2ª Guerra, só que a uma velocidade muito mais rápida. Isso gerava um cenário virtualmente caótico para os pilotos, que tinham que tomar decisões em um piscar de olhos, em situação de total desorientação espacial.

Então, o ciclo OODA foi criado por Boyd para fornecer, aos pilotos, um “modelo mental” (uma heurística, essencialmente) para poderem tomar as decisões mais racionais (ou menos irracionais) possíveis, em cenários onde não haveria a menor condição de se “pensar com calma”, pois tudo poderia estar (literalmente, inclusive…) “de pernas pro ar”.

O OODA Loop ganhou notoriedade entre os militares. Porém, após a Guerra da Coréia, com o desenvolvimento dos radares e mísseis, acreditava-se que a era do dogfight havia acabado e o ciclo OODA perdeu um pouco de seu prestígio.

Mas havia uma “Guerra do Vietnã” no caminho… A ideia de que o dogfight havia morrido se revelou totalmente equivocada nos combates sobre a selva do Sudeste Asiático, e os americanos tiveram que rever toda sua doutrina aérea

No final da Guerra do Vietnã, a Marinha dos EUA criou a escola de pilotos conhecida como Top Gun (que ficou famosa pelo filme de mesmo nome) e a USAF pediu o desenvolvimento de novos caças, mais leves e ágeis, que pudessem superar seus adversários no dogfight.

Foto de um avião de caça F16
General Dynamics F-16

Foi o retorno (em grande estilo) do ciclo OODA ao treinamento militar e um período de glória para o coronel Boyd que, entre outras coisas, participou do desenvolvimento de caças manobráveis como o F-16 (ainda hoje usado pela USAF e várias forças aéreas do mundo), que foram concebidos com o dogfight e com o ciclo OODA em mente.

O ciclo OODA se revelou um modelo altamente vitorioso e, para deixar de ser uma coisa apenas militar e ser aplicado no mundo dos negócios, foi só “um pulo”.

Hoje, o ciclo OODA é matéria quase obrigatória em cursos de estratégia empresarial e de tomada de decisões.

Os componentes do ciclo OODA

Vamos, enfim, analisar individualmente os componentes do ciclo:

Diagrama com setas coloridas mostrando as quatro etapas do ciclo OODA

Observar

A etapa do “observar” significa formar um quadro de referências com as informações que você tem à mão naquele momento.

Lembrando que essa avaliação do ambiente (seja externo ou interno) precisa ser feita com rapidez. Um piloto de caça, no meio de um tiroteio aéreo, não pode se dar ao luxo de “pedir um relatório detalhado” para entender a situação em que está metido…

Por isso, é interessante, inclusive, se criar “modelos dentro do modelo”. Identificar padrões e definir heurísticas para poder formar esse quadro de referências com mais velocidade.

Orientar

A fase de orientação é um pouco “obscura” no modelo. Mas, basicamente, ela fala sobre “orientar a si mesmo”.

Se a primeira etapa era formar um quadro mental da situação, nesta etapa devemos tentar entender “onde estamos” nesse quadro geral e quais seriam nossos pontos de vantagem e desvantagem.

Esta etapa é bastante relacionada aquilo que se chama de “atenção situacional” (ou situation awareness, em Inglês).

Saiba mais sobre “atenção situacional” lendo aqui: Superpoderes da vida real (que você pode ter)

Decidir

Aqui, não há muito o que comentar. Após formar seu quadro de referências e entender qual é a sua posição dentro desse quadro, cabe a você pesar as informações e decidir qual atitude tomará.

Em um contexto de dogfight aéreo, as decisões possíveis serão, essencialmente, variações de “atacar” ou “fugir”.

Agir

Aqui também não há muito o que dizer. Uma vez que a decisão foi tomada, resta a execução.

Se a decisão do piloto for atacar o adversário, o que deve ser feito é colocá-lo no alvo e puxar o gatilho.

E, qualquer que seja a decisão (e se a execução foi bem sucedida ou não), ela dá início a uma nova observação para formação de quadro de referências (por isso é um “ciclo”).

Formando um ciclo

Esses quatro fatores, encadeados, formam o tal “ciclo” (ou loop). E, após cada ação, vem uma nova observação (seguida de orientação, decisão e uma nova ação).

O coronel Boyd pregava que a vantagem (para o piloto, no caso) estava em conseguir executar esse ciclo o mais rapidamente possível. Quanto mais rápido o piloto fosse na execução do ciclo, mais ele seria “imprevisível” para o seu adversário.

Então, toda a preparação estava em desenvolver a capacidade de aplicar o ciclo de forma rápida e “automatizada”, transformando-o em, efetivamente, em uma heurística – um “atalho mental” realizado de forma tácita e quase intuitiva.

Aplicações “não-militares” do ciclo OODA

No mundo dos negócios, uma empresa pode usar o ciclo OODA em suas decisões de marketing, quando observa alguma mudança de comportamento de seus consumidores. Essa observação pode levar a empresa a rever seu próprio posicionamento (orientação), e seguir o ciclo.

Nos investimentos, os já referidos day trade e swing trade são exemplos clássicos. Os mercados financeiros são ambientes caóticos em que as coisas acontecem muito rapidamente. Por isso, a capacidade de formar, rapidamente, quadros de referência, se posicionar, tomar uma decisão e “apertar o botão” é, certamente, uma vantagem.

Na sua vida pessoal, uma aplicação interessante é na sua própria segurança. Você pode suspeitar que alguém está te seguindo ou tentando invadir sua casa. Aplicar o ciclo OODA vai te ajudar a tomar a melhor decisão em uma situação de stress.

Quando NÃO usar o ciclo OODA

Em princípio, não há uma situação onde o ciclo, simplesmente, “não sirva”. É um modelo bastante versátil e que pode ser usado em, basicamente, qualquer situação.

Porém, é importante ter em mente que o OODA Loop foi pensado, originalmente, para situações dinâmicas, caóticas e que exijam decisões rápidas.

O ciclo OODA, aplicado em alta velocidade, vai, em grande parte das vezes, resultar em uma decisão “sub-ótima”. Essa decisão “sub-ótima era a melhor decisão que poderia ser tomada NAQUELE momento (por exemplo, quando o piloto inimigo estava abrindo buracos na sua fuselagem…).

Porém, se não for um caso de real urgência, talvez seja melhor tomar uma decisão com mais calma, analisando todas as variáveis e sem precisar usar modelos mentais e heurísticas.

Por isso, é interessante deixar o ciclo OODA para aquelas situações em que rapidez é realmente imprescindível.

Para situações onde se tem mais tempo, é interessante deixar heurísticas de lado e procurar analisar de forma mais calma, aprofundada, crítica e procurando identificar e eliminar vieses que podem levar a uma decisão que, no fim das contas, pode acabar não sendo a mais satisfatória.

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