Barbell é o nome que se dá àquelas barras usadas para exercícios, que colocamos pesos (as “anilhas”) nas extremidades. E o formato dessa barra acabou inspirando a “estratégia barbell” – uma abordagem muito interessante, utilizada no mundo dos investimentos e do trading.
Os princípios da estratégia barbell
Podemos dizer que um dos princípios da estratégia barbell é a “humildade”. Humildade em reconhecer que os mercados se comportam, em grande parte, de forma aleatória e que não dá para saber o que vai acontecer.
Nesse aspecto, a estratégia barbell tem alguma afinidade com a Hipótese dos Mercados Eficientes, mas não se trata de uma estratégia passiva (que busca obter retornos similares ao mercado como um todo). Pelo contrário, a estratégia barbell busca retornos acima do mercado (e, se possível, SIGNIFICATIVAMENTE acima).
A construção de uma “carteira barbell”
A característica do barbell (agora estou falando da barra, e não da estratégia) é que os pesos ficam nas extremidades. Não há “nada no meio” além da própria barra, que tem função meramente de suporte.
E quando estamos falando da estratégia barbell de investimentos, selecionaremos apenas aqueles ativos que estão nas extremidades do espectro de risco (os mais conservadores e os mais agressivos) e vamos ignorar aqueles que ficam no meio, que representam riscos médios ou “moderados”.
Então, podemos dizer que é uma estratégia “oito ou oitenta”. Investiremos apenas em ativos extremamente conservadores e extremamente agressivos. Os ativos serão aqueles que ficarão nas extremidades do espectro de risco – por isso se associa com a figura da barra, que tem os pesos nas extremidades.
A busca pelo “risco médio”
Poucos investidores definem a si próprios (e suas carteiras) como “extremamente agressivos” ou “extremamente conservadores”. A maioria cai em algum ponto intermediário do espectro.
Porém, o “racional” por trás da estratégia barbell é que os ativos de risco “moderado” tendem, em situações de crise e de stress no mercado financeiro, a ter um padrão de risco (volatilidade) mais próximo dos ativos agressivos do que dos conservadores. Por isso, uma carteira baseada em ativos “moderados” estaria mais vulnerável na hipótese de um “chacoalhão” no mercado.
Assim sendo, o investidor estaria mais seguro (em tese) fazendo uma carteira superconservadora (baseada, por exemplo, em títulos públicos de renda fixa, que são, tipicamente, os ativos mais seguros de qualquer mercado) e destinando uma pequena parte (e essa parte conforme a preferência do investidor) a ativos “super agressivos”, que podem ser ações, derivativos ou qualquer outra coisa que se imaginar.
Com isso, se obteria, para a carteira como um todo, um “risco médio” (a combinação dessas duas extremidades). Só que a parte conservadora da carteira estaria apoiada nos ativos mais sólidos e seguros do mercado, com baixíssima volatilidade.
Leia aqui: O que é volatilidade (em finanças)
A metáfora do “café com leite”
Eu gosto de explicar a estratégia barbell fazendo uma analogia com café com leite. Você tem apenas dois componentes (café e leite), e você poderá fazer o “mix” do jeito que preferir.
Se prefere uma bebida mais forte, põe mais café. Se prefere mais suave, põe mais leite. Mas você faz sua “combinação ideal” usando apenas esses dois ingredientes.
O café representa os investimentos agressivos, o leite representa os investimentos conservadores e o café com leite, feito “do seu jeito”, representa o nível de risco combinado que você busca em sua carteira.
O que se espera da estratégia barbell
Ao montar uma carteira com a estratégia barbell, a expectativa é que o lado conservador fique “sólido como uma rocha” e não sofra com a volatilidade. Ele vira o “pilar” do patrimônio.
Já na ponta agressiva, se espera ganhos explosivos (ou perdas “implosivas”). Mas, como essa ponta agressiva representará apenas uma parcela do patrimônio, esses ganhos ou perdas serão diluídos e amortecidos pela parte conservadora.
Enfim, se espera obter o mesmo retorno que com uma carteira de ativos de risco moderado, porém, com menos volatilidade.
Possibilidades com a estratégia barbell
A estratégia barbell é extremamente versátil e abre inúmeras possibilidades. Você pode fazer uma estratégia barbell “geral” para todo seu patrimônio ou fazer “barbells menores”, nas diferentes classes de ativo de sua carteira.
É possível, inclusive, usar a estratégia barbell na sua vida, e não apenas em sua carteira de investimentos.
Vamos ver alguns exemplos:
Estratégia barbell em sua carteira geral
Definir que você terá 90% de seu patrimônio em títulos públicos (ativos super seguros) e 10% em ações extremamente agressivas.
Ou 98% de seu patrimônio em títulos públicos e 2% em derivativos altamente alavancados (como contratos futuros e opções).
Estratégia barbell com ações
Alocar uma parte de sua carteira em ações de Value Investing ou pagadoras de dividendos (que são, tipicamente, mais seguras). E, com a outra parte, comprar apenas ações altamente especulativas.
Ou investir nas 10 ações com melhor desempenho e nas 10 com pior desempenho no Índice Bovespa nos últimos cinco anos.
Estratégia barbell em renda fixa
Alocar 80% de seu patrimônio em títulos públicos e o restante em títulos de renda fixa de alto risco, como debêntures de empresas com classificação de risco “não muito brilhante” ou cotas de FIDC.
Estratégia barbell na vida profissional
Ter um emprego estável e enfadonho, como uma função burocrática em algum órgão público (escolha extremamente conservadora e de baixa volatilidade) e ter, em paralelo, uma banda de death metal (que pode, eventualmente, dar certo e trazer os “ganhos explosivos”).
Estratégia barbell numa viagem de lazer
Quando viajar para algum lugar e ficar alguns dias ou semanas, se hospedar em um hotel bem barato e econômico (mas que não seja uma espelunca, por favor…), mas se hospedar por uma ou duas noites em um hotel caro e extravagante.
As origens da estratégia barbell
Quem popularizou a estratégia barbell foi Nassim Taleb, em seus livros “Iludidos pelo Acaso” e “A Lógica do Cisne Negro”.
Porém, ele não é o autor original do conceito, que já existia antes dele se tornar famoso. E, até onde eu sei, é um daqueles conceitos bastante antigos (ainda que meio obscuros) do mercado financeiro e de autoria desconhecida.
Conclusão
A estratégia barbell é uma abordagem que não é apenas interessante, mas é também lógica e funcional, especialmente para mercados financeiros cada vez mais complexos e caóticos como os que estamos vendo nos últimos tempos.
É uma estratégia que coloca menos ênfase na seleção dos ativos (exceto, naturalmente, pelas suas características de risco) e mais ênfase na gestão de risco e na expectativa de que “grandes chacoalhadas” acontecerão.
E, lembrando da metáfora do café com leite, a estratégia barbell pode ser usada por qualquer investidor, com qualquer perfil de risco. Tudo é uma questão de definir as proporções da extremidade agressiva e da extremidade conservadora.
Comentários
Interessante…trabalho nessa estratégia com 60/40 RF/RV.E nao tinha conhecimento do termo.
Interessante, já li alguns livros de finanças que abordavam essa estratégia, todavia, não a a discutiam com este nome. Gostei bastante.
Muito bom este conceito!
Estamos utilizando o critério de Barbell com muito sucesso na gestão do varejo, na determinação do portfólio de produtos.
O ROI (Return On Investment) sobre o investimento em estoque está atingindo o resultado de 10 x/ano.