19/04/2020 • , • por Andre Massaro

Exercite sua mente com algumas perguntas “e se…”


Perguntas hipotéticas (aquelas perguntas que começam com “e se…”) são uma excelente ferramenta de exploração intelectual e, de quebra, são ótimas para estimular discussões interessantes (ainda mais nos tempos atuais, onde as conversas e discussões vão ficando cada vez mais rasas).

Antes de prosseguirmos, um comentário importante: Se você frequenta este site e lê meus artigos com alguma frequência, sabe que temos alguns temas maio recorrentes aqui. Além dos já habituais temas de finanças e negócios, outros dois temas que costumam estar sempre presentes são o pensamento crítico (que é a aplicação da lógica informal para testar argumentos e hipóteses) e o gerenciamento de riscos (afinal, um pouco de paranoia é algo que faz bem…).

As perguntas “e se” são perguntas condicionais que induzirão, em alguns casos, a pensar em cenários extremos e improváveis. Por isso, para que o exercício seja efetivo, é importante que a resposta não seja, simplesmente, descartar a questão (“ahhh…. isso não tem a menor chance de acontecer”).

A diferença entre “possível” e “provável”

Aqui, é um momento interessante para fazer uma distinção entre “possível” e “provável”. Uma coisa é possível se, por exemplo, ela não está limitada pelas Leis da Física ou da Matemática. Se algo tiver uma mínima chance de acontecer (seja um meteoro colidir com a Terra, uma invasão alienígena ou alguma seleção obscura ganhar a Copa do Mundo), então, é POSSÍVEL.

No caso de uma invasão alienígena, não temos (ao menos por enquanto) evidências de vida inteligente fora da Terra. Mas como ausência de evidência não é sinônimo de evidência de ausência, não podemos descartar a possibilidade de que exista vida inteligente. Neste caso, a descoberta de vida inteligente seria algo parecido com a famosa metáfora do Cisne Negro (de John Stuart Mill, posteriormente popularizada por Nassim Taleb). Acreditava-se que só existiam cisnes brancos, até o dia que um cisne negro simplesmente “apareceu”…

Já a probabilidade está associada à chance de algo acontecer (“chance” e “probabilidade” são, praticamente, sinônimos neste contexto). “Possibilidade” é uma condição para que haja “probabilidade”. Algo impossível não é nem provável e nem improvável. Simplesmente… é impossível!

Um exercício de “e se” deve considerar questões improváveis. Questões impossíveis podem ficar de fora mas, se for apenas pelo exercício mental, você poderia considerar coisas impossíveis também (“e se a gravidade deixar de existir?”)

Uma (pequena) lista de perguntas condicionais “e se”

  • E se você acordar amanhã e descobrir que não tem dinheiro nenhum? Por alguma razão, todas as suas reservas e investimentos não existem mais e você descobre que sua casa não é mais sua, e você tem 30 minutos para sair de lá (esta é uma das minhas favoritas).
  • E se você não tivesse nenhuma restrição financeira, onde gostaria de estar agora? (É uma pergunta que ajuda na definição de nossos objetivos).
  • E se você tivesse a chance de passar um ano vivendo a vida dos seus sonhos, mas, ao final desse período, voltar para a sua “vidinha” e ter todas as memórias apagadas? (esta pergunta é um “clássico” da psicologia e da filosofia).
  • E se você pudesse falar uma única frase que o mundo todo ouviria (você tem 30 segundos de atenção total do mundo). Qual seria?
  • E se você tivesse que comer a mesma refeição por todos os dias do resto de sua vida? Qual seria?
  • E se você acordasse no meio da noite e sua casa estivesse pegando fogo. Você tem a chance de sair dali pegando UM ÚNICO objeto. Qual seria?
  • E se você tivesse que ficar horas preso em um aeroporto com uma única pessoa, quem são as pessoas de sua vida com quem você não quereria DE JEITO NENHUM passar por isso? (essa pergunta é conhecida como “teste do aeroporto” e é um clássico do mundo dos recursos humanos e das entrevistas de emprego).
  • E se o Governo confiscar todo seu dinheiro? (já aconteceu antes… Aliás, clique aqui para ver um vídeo interessante sobre isso).
  • E se todos os registros de propriedade do mundo fossem, subitamente, anulados ou desaparecessem? (um belo dia você acorda e ninguém é mais, oficialmente, “dono de nada” – imóveis, empresas, fazendas, propriedade intelectual…)
  • E se seus conhecimentos se tornassem, a partir de agora, totalmente inúteis e obsoletos e você tivesse que começar sua vida profissional do zero? (esta pergunta é particularmente interessante para ajudar a identificar os “custos irrecuperáveis” ou sunk costs – leia mais a respeito clicando no link).
  • E se você tivesse a chance de passar uma hora com uma única pessoa que você admira (alguém famoso, que esteja fora de seu alcance)? Quem seria essa pessoa?
  • E se você fosse condenado e preso (não importa se justamente ou injustamente) por dez anos?
  • E se seu cônjuge, parceiro ou companheiro se tornar uma pessoa diferente?
  • E se você perder (total ou parcialmente) sua memória?
  • E se a eletricidade deixasse de existir? Aqui um caso de pergunta impossível pelas leis da Física, mas que proporciona um excelente exercício mental. Inclusive, tem uma série de televisão chamada “Revolution” (que eu odiei, diga-se de passagem) que parte dessa premissa.
  • E se todas as pessoas tivessem o direito de, ao longo da vida, matar uma outra pessoa? Quem você mataria (responda se tiver coragem) e, mais importante: Quem poderia querer matar VOCÊ?
  • E se você pudesse transferir sua consciência para um computador e viver numa realidade virtual à sua escolha? Como seria essa realidade? (aqui, uma pergunta com uma situação que pode ser plausível no futuro, com os devidos avanços tecnológicos – e fica a recomendação de assistir ao episódio San Junipero, da 3ª temporada de “Black Mirror” – talvez o episódio mais light e romântico de uma série de televisão que é, notoriamente, “barra pesada”).
  • E se seu filho ou filha se tornarem escravos mentais de alguma seita ou culto? Ou, uma variação positiva: E se seu filho ou filha se revelar uma das pessoas mais inteligentes do mundo (um gênio criativo ou científico)?

Para onde vamos?

Se você observar a lista de perguntas que eu fiz, você notará que ela é pequena (uma lista completa é potencialmente infinita) e, de forma geral, eu evitei temas excessivamente controversos (bem, talvez a pergunta sobre matar uma pessoa tenha sido meio mórbida…).

É possível fazer uma lista de perguntas que sejam, realmente, sobre “tabus”, questionando valores, crenças e convicções profundas. Mas, neste caso, melhor que essas perguntas sejam usadas apenas como um exercício mental solitário, e não como forma de puxar conversa em uma mesa de boteco…

De qualquer forma, ainda que seja um exercício solitário, o hábito de fazer perguntas condicionais “bizarras” a si próprio vai te ajudar a desenvolver a capacidade de raciocinar com mais clareza, de forma mais lógica e vai te ajudar a identificar uma série de riscos e fragilidades em sua própria vida, que te permitirão se preparar melhor.

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