28/02/2021 • , • por Andre Massaro

Aprenda melhor com a técnica Feynman


A chamada “técnica Feynman” é um modelo mental de aprendizado baseado em conceitos utilizados, supostamente, pelo físico americano Richard Feynman, que foi ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1965.

É uma das técnicas de estudo mais eficazes que existem e, particularmente, sou um usuário e um entusiasta da técnica. Inclusive, já fiz menção a ela em um artigo anterior aqui do site, chamado “Como ser um bom professor”.

Antes, um pouco sobre Richard Feynman

Richard Feynman foi um daqueles cientistas que tinha uma veia de “astro pop”, como o próprio Albert Einstein, Carl Sagan entre outros. Era um sujeito divertido, meio “malucão” e que construiu para si uma imagem de rebelde.

Uma de suas características marcantes era seu enorme talento em comunicar conceitos complexos de forma simples e acessível para pessoas leigas, porém, sem cair na armadilha do simplismo.

E essa excepcional habilidade de comunicação que deu origem à tal “técnica Feynman”, que hoje é apresentada aqui, neste artigo, e em diversos outros blogs e livros, tanto no Brasil quanto no exterior.

Vamos, então, falar sobre como funciona a técnica e, na sequência, falar de suas origens (que apesar do nome, NÃO foi criada por Richard Feynman).

A técnica Feynman – conceitos básicos

A técnica Feynman parte do princípio (altamente razoável) de que você só pode dizer que “aprendeu” algo, de verdade, se tiver condições de transmitir aquele conhecimento para outra pessoa.

Se você não tem condições de ensinar aquele tema para outra pessoa, então você não “aprendeu” realmente.

No máximo, você absorveu alguns fragmentos daquele conhecimento ou, então, decorou para passar em alguma prova…

A técnica Feynman é um “modelo mental” que te prepara para ENSINAR determinado assunto. E deixando claro que “ensinar” não é “narrar”. Você pode pegar um livro e “narrar” o livro – isso não é ensinar!

E decorar conceitos e passagens para depois “ensinar” (que é, efetivamente, o que um monte de gente acaba fazendo…) não é nada muito diferente de narrar um livro. A diferença é que, ao invés de ler o livro, você memorizou aquelas falas.

A técnica tem cinco passos, a seguir:

  1. Defina o assunto
  2. Ensine, mentalmente, para uma criança ou um objeto inanimado
  3. Identifique lacunas no seu conhecimento
  4. Preencha essas lacunas e simplifique
  5. Ensine novamente

Técnica Feynman – 1º passo: Defina o assunto

Pegue uma folha de papel (ou qualquer outra ferramenta de anotações), coloque o nome do tópico que você quer aprender (ou ensinar) e faça todas as suas anotações.

Coloque nessa folha (ou arquivo, ou planilha, ou mapa mental ou seja lá o que for) todos os temas e conceitos importantes associados ao tópico em questão.

Ordene esses tópicos e procure já, neste momento, estabelecer as relações entre cada um desses tópicos: O que se conecta com quê e em qual sequência.

Técnica Feynman – 2º passo: Ensine para uma criança

Pegue as suas anotações sobre o assunto que você escolheu e ensine para uma criança de seis anos de idade. Faça isso mentalmente ou, se puder, literalmente.

Outra possibilidade é você tentar ensinar para um objeto inanimado, como um boneco ou um bicho de pelúcia.

A ideia, aqui, é forçar você a falar em voz alta e usando os termos mais simples possíveis (de tal forma que a criança de seis anos entenda).

Quando falamos para adultos, tendemos a usar termos complexos e conceitos abstratos que, muitas vezes, servem apenas para mascarar o nosso pouco domínio do assunto.

Os adultos têm um componente de “vaidade”, no ato de ensinar e de aprender, que não costuma estar presente nas crianças: O professor fala “abstratamente”, para fingir para os alunos que sabem; e os alunos balançam a cabeça em concordância, para fingir que estão entendendo…

Para ensinar para uma criança, você precisa usar termos e exemplos concretos, simples e as coisas precisam fazer sentido.

Se a criança não estiver entendendo, isso ficará bem claro para quem está ensinando.

Técnica Feynman – 3º passo: Identifique as lacunas

O ato de dar a sua aula (para crianças imaginárias ou não) em voz alta vai evidenciar as suas lacunas.

Ou seja, aqueles pontos, na sua narrativa, onde você não conseguiu conectar os conceitos (e onde sentiu a necessidade de usar termos abstratos para dar um “sambarilove”…).

Técnica Feynman – 4º passo: Preencha essas lacunas e simplifique

Agora que você já sabe quais são os pontos de fragilidade em seu discurso (e, consequentemente, em seu conhecimento do assunto), conserte-os.

Estude novamente aquilo que ficou faltando e tente conectar as pontas que ficaram soltas.

Procure também identificar analogias que possam ajudar a ter uma visão melhor do conceito.

Vá para a sua folha de anotações (aquela do 1º passo) e atualize e organize essas anotações, que é o seu “roteiro de aula”

Técnica Feynman – 5º passo: Repita

Com suas anotações atualizadas e organizadas, repita o segundo passo: Coloque a sua criança de seis anos (imaginária ou não) na sala de aula e explique.

Se ainda existirem lacunas e hesitações na sua narrativa, vá repetindo o processo até ficar “redondo”.

Quando a criança de seis anos conseguir entender, isso significa que você adquiriu domínio sobre aquele tópico.

Neste estágio, você deixa de ter, simplesmente, INFORMAÇÃO e passa a ter CONHECIMENTO.

A origem da técnica Feynman

Aqui, as coisas ficam interessantes, pois o próprio Richard Feynman nunca desenvolveu uma “técnica”.

Ele tem alguns livros (entre eles o clássico “Só pode ser brincadeira, Sr. Feynman!“), várias aparições em vídeo, mas a tal “técnica” não aparece em lugar algum.

A primeira vez que eu ouvi sobre a técnica foi no blog do canadense Scott H. Young, que se especializou em técnicas de estudo.

Talvez ele próprio tenha criado a “técnica”, baseado em informações e falas públicas do próprio Richard Feynman (um dia desses eu mando um email para ele e pergunto…).

Seja como for, a “técnica” surgiu bem depois da morte do próprio Feynman. Enquanto eu não tiver informações precisas de quem foi o criador, vou considerar que a técnica Feynman é de “autoria desconhecida”.

Conclusão

A técnica parte de uma premissa muito boa, que é a de que você só aprende uma coisa “de verdade” se estiver em condições de ensiná-la.

Inclusive, no meu artigo sobre como ser um bom professor (que eu já mencionei anteriormente), eu digo que uma das minhas motivações para dar aulas é que eu ME FORÇO a aprender melhor aquilo que estou me propondo a ensinar.

Ensinar acaba sendo uma ferramenta para o MEU PRÓPRIO aprendizado, e não apenas dos meus alunos.

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