25/08/2020 • • por Andre Massaro

Como investir com pouco dinheiro


Se tem uma coisa da qual a gente NÃO pode reclamar, nesses últimos tempos, é da falta de opções de investimentos. O mercado financeiro brasileiro vem evoluindo muito em opções (inclusive para pequenos investidores) e, neste artigo, vamos falar sobre como investir com pouco dinheiro.

Ter pouco dinheiro é uma limitação?

De forma geral, ter pouco dinheiro para investir não é um problema ou uma limitação.

Para se investir dinheiro, existe um único pré-requisito óbvio: ter dinheiro. Se você tem dinheiro, tudo é uma questão de definir qual o instrumento financeiro adequado para o valor que você tem disponível.

E, nesse contexto, “ter dinheiro” se refere à sua situação patrimonial, e não à sua situação de caixa. Você pode tirar uma nota de cem reais de sua carteira e dizer “olha aqui, eu tenho dinheiro!”. Mas se sua conta bancária está devedora em 200 reais, você NÃO tem dinheiro.

Essa nota de cem reais que você está segurando, moralmente, não te pertence…

Se essa é a sua situação, você não está em condições de investir – você, simplesmente, não TEM dinheiro…

Por isso, o primeiro investimento que uma pessoa deve fazer é sempre o investimento em sua própria vida, se livrando de qualquer tipo de amarra ou limitação (e dívidas são um tipo de amarra e limitação).

Faça sobrar dinheiro. Se sobrar dinheiro, ainda que seja pouco, eu garanto que não faltarão opções para investir.

As verdadeiras limitações de se investir com pouco dinheiro

Ter pouco dinheiro para investir não é, então, algo que impede a pessoa de investir. Mas isso não significa que não existam algumas limitações para quem quer investir com pouco dinheiro.

Entre essas limitações, estão:

Menos oportunidades

Alguns investimentos, inevitavelmente, exigem um volume maior de dinheiro. Certos títulos e fundos de investimento têm um “ticket mínimo”: um valor mínimo para se poder investir.

Esse valor mínimo pode ser por circunstâncias de mercado, por restrições do emissor de um título (ou gestor de um fundo) ou mesmo por questões legais e regulatórias.

Por exemplo, um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) é um tipo de investimento que, por conta de restrições impostas pelas nossas autoridades do mercado financeiro, só é acessível para investidores qualificados e o investimento mínimo, em qualquer um desses fundos, é de 25 mil reais.

Outros fundos de investimento podem ter um valor alto de entrada por opção do gestor. Alguns fundos “estrelados” podem ter valores mínimos de investimento na casa de centenas de milhares, ou mesmo milhões, de reais.

Então, para quem tem pouco dinheiro, esses investimentos restritivos estão fora de questão

Menor potencial de diversificação

Alguns ativos financeiros podem ser, individualmente, acessíveis. Porém, eles não funcionam tão bem se não estiverem dentro de uma carteira com outros ativos – do contrário, o risco fica muito concentrado em uma coisa só.

É o que acontece com ações. Comprar um lote de ações de uma única empresa pode não ser uma coisa tão cara, mas raramente é uma boa ideia ter um único tipo de ação.

Para se ter uma carteira diversificada e com riscos diluídos, é preciso ter “algumas” ações diferentes (e o entendimento do que é “algumas” pode variar, mas adianto que não são duas e nem três… é mais que isso).

Pouca motivação

Aqui, temos um fator (muito relevante) de natureza psicológica e emocional.

Investir com pouco dinheiro é “broxante”. Isso porque o retorno visível costuma ser mínimo, e temos a impressão de que aquele dinheiro “não cresce”.

Quando você investe centenas de milhares de reais, você vê algum rendimento e consegue “materializar” aquilo em sua mente. Você olha aquele dinheiro que rendeu e pensa “nossa, isso aqui é uma televisão nova”…

Quando você investe pouco dinheiro, você vê o rendimento e pensa “mas que merda, isso não paga nem um pirulito”.

Para a pessoa que está com foco apenas no retorno financeiro de curto prazo, investir pouco dinheiro é uma coisa que não motiva. Muitas vezes a pessoa prefere pegar aquele dinheiro e gastar.

O problema é que, como dizia aquela frase de Lao Tze, “toda jornada começa com o primeiro passo”. E fica difícil dar o primeiro passo quando não há motivação…

Antes de prosseguir na leitura, confira este vídeo sobre o mesmo tema do artigo, mas com uma abordagem um pouco diferente:

Foque no processo, não no resultado

A maior parte dos investidores bem sucedidos são aqueles que são consistentes, e não os que dão “grandes tacadas”. Existem aqueles que dão “grandes tacadas” e acertam, mas são tão poucos (e são tantos aqueles que se ferram no caminho tentando a mesma coisa) que se pode argumentar que esses acertos são frutos mais de sorte do que de talento.

Por isso, para aumentar suas chances de sucesso, escolha o caminho da consistência. Faça do investimento um hábito regular e “sagrado”.

Uma das recomendações mais básicas e fundamentais da educação financeira é poupar um valor regular, todo mês, para investir. Idealmente esse valor deve ser um percentual da sua renda. Assim, o valor crescerá à medida que sua renda cresce e a construção do seu patrimônio também vai se acelerar.

Se você focar no processo, vai formar um hábito. O hábito te levará à consistência. A consistência o premiará mostrando, em algum tempo, resultados que vão valer “mais que um pirulito”.

Esses resultados vão te motivar e vão reforçar ainda mais o hábito, que vai te levar a resultados ainda melhores e animadores.

É um exemplo clássico de feedback loop positivo. Cultive isso.

No que dá para investir com pouco dinheiro

Agora que já sabemos quais são as verdadeiras limitações de se investir com pouco dinheiro, podemos ver quais são os ativos financeiros mais apropriados para quem tem poucos recursos e quer começar.

Renda fixa

Na renda fixa, as opções mais óbvias são os títulos públicos (negociados através do Tesouro Direto), alguns títulos bancários e alguns fundos de investimento.

Tesouro Direto

Os títulos públicos (negociados via Tesouro Direto) são os ativos financeiros mais seguros do Brasil. Por isso, a preocupação com diversificação é um fator de menor importância. Caso o investidor queira colocar “tudo num lugar só”, este é o melhor caminho.

Pelas regras do Tesouro Direto, o investimento mínimo é de 30 reais ou 1% do valor do título desejado (dos dois, o maior). Com isso, estamos dizendo que o Tesouro Direto é acessível para quem tem a partir de algumas dezenas de reais.

Títulos bancários

Títulos bancários (como CDBs, LCIs e LCAs) têm condições de taxas, prazos e valores mínimos que variam de banco para banco.

Porém, vários bancos oferecem oportunidades de investimento nesses títulos a partir de UM real (isso mesmo). Em especial bancos menores ou bancos que estão começando no mercado, que oferecem condições atrativas para captar novos clientes.

Que não fique nenhuma dúvida: Para um banco, não é vantagem emitir um título de um real (isso sequer cobre o custo de registro do título). Porém, alguns bancos fazem isso pela oportunidade de iniciar um relacionamento com alguém que pode, no futuro, virar um bom cliente. Tire proveito disso.

E outro detalhe importante é a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Então, esse tipo de investimento também não envolve “grandes preocupações” com relação a diversificação.

Fundos de investimento

Alguns fundos de renda fixa (e mesmo alguns multimercados) permitem investimento inicial na faixa de dezenas de reais (às vezes até menos).

Porém, esses fundos mais “acessíveis” costumam ser fundos com custos mais altos. Assim, acabam sendo uma opção interessante apenas como um buffer, onde você vai acumulando dinheiro para, posteriormente, migrar para algo melhor e que exija um investimento inicial maior.

Renda variável

A renda variável também oferece inúmeras opções para se investir com pouco dinheiro. Porém, aqui, o fator “diversificação” começa a ficar um pouco mais importante.

Ações

Um lote típico de ações (com cem ações), de uma empresa de boa qualidade, não costuma ser uma coisa “super barata”. Usualmente, um investidor vai precisar desembolsar algo na casa de alguns milhares de reais para adquirir um lote “fechado”.

E, como já foi comentado anteriormente, não é uma coisa muito interessante, ao menos para investidores comuns, ter todo o patrimônio concentrado em uma ou em poucas ações.

Para se investir em ações com segurança, é preciso formar uma carteira de investimentos diversificada. E uma carteira de investimentos bem diversificada é algo que demanda algumas dezenas de milhares de reais.

Uma possibilidade é o mercado fracionário (onde se negociam ações individuais, e não lotes). Mas é um mercado limitado, com baixa liquidez e onde os custos transacionais podem ficar altos (especialmente quando se usa uma corretora com corretagem fixa).

Por isso, a compra direta de ações pode não ser o melhor caminho para quem tem pouco dinheiro.

Fundos imobiliários

Fundos imobiliários são similares a ações na forma de negociar, mas têm a vantagem de serem negociados apenas em unidades (e não em lotes).

Porém, voltamos ao problema dos custos. Se você usa uma corretora de taxa fixa, transações de baixo valor podem ficar inviáveis (pois esse custo não se dilui na transação).

Então, fundos imobiliários são uma opção interessante para se investir com pouco dinheiro. Porém, apenas em corretoras que cobram corretagem variável ou que não cobram corretagem.

Fundos de ações e ETFs

Os fundos de ações (FIAs) e os ETFs (Exchange Traded Funds – que são um tipo de fundo) são, talvez, a melhor opção para quem tem pouco dinheiro, pois eles oferecem a opção de se investir não em uma ação, e sim em uma carteira, já “pronta” e diversificada.

Alguns fundos de ações comuns (FIAs) aceitam depósitos iniciais de baixo valor (na faixa de dezenas de reais). Porém, eles costumam ter um problema similar aos fundos de renda fixa: Aqueles que aceitam investimentos iniciais pequenos costumam ter custos mais altos.

Já os ETFs têm, tipicamente, uma taxa de administração baixa e podem ser comprados em lotes de dez. Porém, dependendo do volume de dinheiro, esses lotes de dez podem ainda ser caros.

Conclusão

A ideia de que “não dá para se investir com pouco dinheiro” é, como via de regra, falsa.

No passado, isso já foi verdade. Pequenos investidores tinham poucas opções fora da Caderneta de Poupança (um investimento acessível, mas que, por sua baixa atratividade, sequer foi mencionada neste artigo). Porém, hoje as coisas mudaram…

Alguém que queira investir com pouco dinheiro pode não ter o mesmo “cardápio”, amplo e farto, de outros investidores mais abastados. Mas têm opções suficientes, inclusive, para colocar em prática algumas estratégias de investimento mais sofisticadas.

Ter pouco dinheiro não é uma restrição para investir. A única restrição para investir é não ter dinheiro algum…

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