02/01/2021 • • por Andre Massaro

Como ter menos preocupação com dinheiro


Vamos direto ao ponto: A má notícia é que não dá, simplesmente, para “parar de se preocupar”. A preocupação está associada à capacidade de projetar cenários futuros e é uma das características que diferencia nós, seres humanos, de outros animais.

Por isso, quando eu, você ou qualquer outra pessoa fala algo como “eu quero parar de me preocupar com dinheiro”, é uma coisa metafórica e que está altamente associada a contexto. É uma “forma de falar”, pois as únicas situações em que podemos, literalmente, parar de ter preocupações, é quando sofremos uma lesão cerebral ou quando, simplesmente, morremos…

Então, entenda que “parar de se preocupar” significa, realisticamente falando, “se preocupar menos” ou “desviar o foco de preocupação para outra coisa”.

E, no que diz respeito a preocupações com dinheiro, podemos reduzir significativamente nossa preocupação (mas não, simplesmente, eliminá-la) e podemos fazer uma coisa ainda mais importante, que é não permitir que essa preocupação com o dinheiro vire uma ANSIEDADE, que aí passa a ser um problema mais sério e que, conforme o caso, pode exigir ajuda profissional.

Consequências da preocupação com dinheiro

No Brasil, existem poucas pesquisas e estudos que tentam mensurar os efeitos da preocupação com dinheiro. Porém, nos EUA, tem uma pesquisa anual (muito famosa, por sinal) chamada Stress in America, que é feita, desde 2007, pela Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association).

Antes que alguém diga que uma pesquisa feita nos EUA não pode fornecer nenhuma pista sobre o que ocorre no Brasil, é importante lembrar que “preocupação” não é um traço associado a alguma nacionalidade ou etnia, mas sim a seres humanos em geral. Então, é razoável assumir que o que acontece por lá não deve ser muito diferente daqui…

E, para surpresa de ninguém, desde que a pesquisa começou a ser realizada, “dinheiro” (ou assuntos relacionados a dinheiro, como carreira profissional, aposentadoria etc.) estão SEMPRE entre os primeiros colocados entre as fontes de stress que afligem os americanos.

E se você acha que um brasileiro médio tem menos preocupações financeiras que um americano médio, com todo respeito, você deve viver em outro planeta…

Entre as consequências (concretas) da preocupação com dinheiro, estão:

  • Problemas de saúde (físicos e mentais)
  • Problemas profissionais, como absenteísmo, presenteísmo, perda de produtividade e predisposição a acidentes de trabalho, por falta de atenção e concentração.
  • Problemas sociais e familiares, como conflitos, violência doméstica e a insidiosa infidelidade financeira

O que fazer para se preocupar menos com dinheiro

1- Coloque suas finanças em ordem

Esta recomendação é o “básico do básico”. Mas, ainda assim, muitas pessoas sofrem com preocupações excessivas exatamente por NÃO fazerem o básico.

Organize suas contas e desenvolva uma visão clara de como está sua vida financeira.

Elimine suas dívidas ou, pelo menos, identifique suas causas e tome as medidas para ir reduzindo seu endividamento ao longo do tempo.

Faça um planejamento financeiro, de forma a identificar suas fontes de renda e entender seus padrões de gastos. Essas informações permitirão a você fazer orçamentos e ter mais controle sobre suas finanças.

2- Identifique seus riscos

Faça uma análise de sua própria vida e identifique quais são seus principais riscos pessoais.

A correta identificação de riscos permite tomar medidas preventivas (para evitar que esses riscos se tornem eventos reais) e preparar medidas reativas (para remediar a situação caso alguma coisa ruim aconteça).

Um exemplo de medida preventiva é você fazer uma manutenção programada de sua casa, sua saúde ou seu carro, para evitar que algum evento negativo te pegue desprevenido.

Já medidas reativas são aquelas que são acionadas depois que a m**** bate no ventilador. É o caso dos seguros, que são utilizados DEPOIS que algo ruim acontece, como uma forma de “remediar o estrago”.

Você NÃO QUER passar por uma cirurgia cardíaca de emergência, mas, se suas medidas preventivas falharem (e às vezes elas falham…), um bom seguro de saúde vai te ajudar.

Saiba quais são seus principais riscos, tome as medidas para evitá-los e tenha uma boa cobertura de seguros para aqueles riscos que você não conseguir evitar.

3- Reconheça que “cisnes negros” podem acontecer

Os piores riscos não são aqueles que a gente consegue identificar, mas sim aqueles que a gente nem sabe que existem.

No mundo das finanças, existe um jargão chamado “cisne negro”, para designar aqueles eventos que “ninguém espera”.

É importante ter seguros. Porém, seguros são feitos para “riscos conhecidos” e específicos. Se você faz um seguro para o seu carro, ele só pode ser usado (e, ainda assim, com condições) para coisas que aconteçam com seu carro. Você não pode usar o seguro do carro para consertar o telhado da sua casa.

Por isso, é importante ter meios e recursos para lidar com riscos não previstos. E, neste aspecto, a reserva de emergência é imbatível.

4- Tenha uma reserva de emergência

A reserva de emergência é, de certa forma, um tipo de seguro. A diferença é que, ao invés de entregar esse dinheiro para uma seguradora (que pode “te deixar na mão” ou criar empecilhos caso algo aconteça), você faz a gestão desse dinheiro de forma autônoma e pode dispor dele livremente.

A reserva de emergência é um dos temas mais importantes do mundo das finanças pessoais, e existe uma série de recomendações sobre qual deve ser o tamanho dessa reserva e onde ela deve ser investida.

Leia aqui: Reserva de emergência – o guia definitivo

A reserva de emergência é a ferramenta de gestão de riscos ideal para riscos não previstos (os tais “cisnes negros”), pois é um dinheiro que não está vinculado a um evento em particular e não tem restrições de uso. Não é como uma apólice de seguros tradicional, que você tem que cumprir condições e tem que “se justificar” para ter acesso à indenização.

A reserva de emergência é um dos maiores “redutores de preocupações financeiras” que existem.

5- Desenvolva múltiplas fontes de renda

Na gestão de uma carteira de investimentos, a diversificação é a principal (e mais efetiva) ferramenta de gestão de riscos.

Porém, poucas pessoas se preocupam em diversificar, também, as suas fontes de renda.

Nós vivemos em um mundo complexo e dinâmico, onde profissões e modelos de negócio podem, simplesmente, ficar obsoletos e “desaparecer” de uma hora para a outra.

A pessoa que tem uma única fonte de renda pode sofrer um corte abrupto em seu fluxo financeiro. E isso é, de longe, uma das maiores fontes de preocupação financeira.

É um assunto tão sério que eu criei um curso completo, apenas com a finalidade de ajudar pessoas a desenvolverem múltiplas fontes de renda e a reduzirem sua vulnerabilidade financeira (reduzindo, como consequência, a preocupação com dinheiro).

6- Tenha acesso a linhas de crédito

Ter acesso a linhas de crédito é, também, uma espécie de “seguro”. E, para ter acesso a essas linhas, é importante observar o primeiro item desta lista de recomendações, que é “colocar suas finanças em ordem”.

Verifique regularmente sua situação nos órgãos de proteção ao crédito e mantenha suas informações atualizadas junto às instituições financeiras das quais você é cliente.

Nós devemos evitar dívidas a todo custo, mas é importante termos crédito disponível caso algo aconteça. Assim como devemos evitar ter uma doença grave a todo custo, mas, se acontecer, um bom seguro de saúde pode evitar que você morra na fila do SUS…

7- Simplifique sua vida

Adote, na medida do possível, um estilo de vida minimalista (porém, sem radicalismos e sem abrir mão de coisas importantes para você).

Defina o que é um padrão de vida aceitável e procure viver dentro daquele padrão, sem fazer ou adquirir coisas desnecessárias ou que não tenham outra função a não ser demonstrar status.

8- Cuidado com “mindsets ingênuos”

Para finalizar, quero falar sobre mindset.

Como alguém de formação econômica (não sou Economista, mas sou pós-graduado na “ciência sombria” ou dismal science), me dói o ouvido cada vez que eu ouço algum guru de autoajuda falando em “mindset de abundância” ou alguma baboseira do gênero.

Uma coisa que se aprende, em Economia, é que o universo é pautado pela ESCASSEZ. Temos recursos limitados para necessidades ilimitadas.

Até a luz solar é escassa. Um dia (supostamente, daqui uns seis bilhões de anos…) o Sol vai se apagar (e vai vaporizar a Terra no processo). Então, vamos aproveitar enquanto temos…

O ponto é o seguinte: Não existe “abundância infinita do universo”. A vida não é uma festa de aniversário onde tem bolo e sorvete pra tudo mundo…

Por isso, a preocupação com dinheiro (ou, mais especificamente, com a falta dele) é legítima e faz sentido.

Simplesmente “não se preocupar com dinheiro” é uma coisa ingênua e temerária – um caminho para o desastre.

O que não podemos é permitir que essa preocupação ganhe proporções doentias, que podem levar à ansiedade financeira ou à peniafobia (que é o medo irracional de ficar pobre).

Ter algum grau de preocupação com dinheiro é saudável (mostra que somos seres humanos e que temos capacidade de projetar o futuro) e esperado.

Porém, não podemos deixar que essa preocupação nos paralise, ou evolua para níveis doentios.

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